Hvar - beleza e exuberância no Adriático
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Hvar - beleza e exuberância no Adriático


O porto da cidade de Hvar

         As ilhas croatas do Adriático não são tão famosas quanto suas colegas gregas, mas são igualmente paradisíacas, com preços ainda não exorbitantes. Existem mais de mil ilhas das quais somente dezenas delas são habitadas. Várias já desenvolveram uma infraestrutura turística respeitável, enquanto outras são mais desertas. Algumas destas ilhas mais conhecidas se situam ao largo de Split, facilmente acessadas do seu porto por ferry ou catamarã. 

Outra vista do porto com a praça principal e o Arsenal ao fundo

         Nosso destino desde Split era Hvar (pronuncia-se rrvar), considerada uma das ilhas mais bonitas e a favorita do jet set local, além de ser a mais ensolarada da Croácia, com mais de 2.700 horas de sol anuais. Nos hospedamos na cidade de mesmo nome, que é o principal ponto turístico da ilha. Embarcamos num ferry (o ônibus da excursão foi junto) que saiu às 8 e meia da manhã e levou duas horas para alcançar a cidade de Stari Grad, a 17 quilômetros de Hvar. A fila de carros para entrada no ferry costuma ser longa e recomendam chegar com pelo menos uma hora de antecedência ao porto. Para evitar que madrugássemos e nos entediássemos, enquanto nosso ônibus ocupava seu lugar na fila o guia da excursão providenciou um outro ônibus para nos apanhar no hotel pouco antes do horário da partida - ponto para a organizadora! Existe um catamarã que faz a ligação direta de Split à cidade de Hvar em uma hora, mas tem uma frequência diária muito menor que o ferry. Para aqueles que estão sem carro e optarem pelo ferry, há ônibus no porto de Stari Grad que levam os turistas para Hvar, em horário sincronizado com a chegada do barco.

O Mandrac em Hvar

           Estava uma manhã bem chuvosa e não pudemos apreciar o belo trajeto feito pelo barco da Jadrolinja entre as ilhas do caminho. Pena, porque passamos pela costa de Brač, uma das maiores ilhas da área. Lá, na vila de Bol, se localiza uma praia com formato de ponta de seta que avança meio quilômetro Adriático adentro e é considerada a praia mais bonita da costa croata.  Brač é conhecida mundo afora pela extração de suas pedras brancas de mármore, que não só formaram o Palácio de Diocleciano na vizinha Split como também o longínquo Reichstag em Berlim e até as colunas da Casa Branca em Washington.

O Hotel Amfora

         Chegamos ao hotel Amfora em Hvar e tivemos duas ótimas surpresas: o tempo abriu e o hotel era um resort situado numa baía com paisagem de cair o queixo, com a praia pequena de Bonj em frente. A vista do saguão do hotel para o mar e as ilhas Pakleni era tão sensacional que ao entardecer passei uma boa parte do tempo só apreciando a alteração do colorido da paisagem com o progressivo fim da luminosidade.

A inigualável vista a partir do saguão do Hotel Amfora, com o Mar Adriático e as Ilhas Pakleni

         O hotel é ligado ao centro da cidade por um caminho de pedestres de cerca de 600 metros de extensão, sempre margeando o mar cristalino com paisagens deslumbrantes. Ao chegar à curva da enseada do porto e me deparar com a visão da cidade de Hvar, tive a sensação de já ter presenciado um cenário semelhante. A enseada quase retangular cercada em três lados por casas pitorescas e por morros, com a cidade nos fundos do porto subindo de forma gradual o morro com uma fortaleza em seu cume me fez lembrar de Symi. Lembrança muito agradável, já que Symi foi um dos lugares de que mais gostei na viagem à Grécia de alguns anos atrás. Só faltavam os jegues e os padres ortodoxos... 

O mar cristalino no caminho do hotel para a cidade

          Hvar é uma das cidades mais encantadoras que já conheci, unindo sua arquitetura histórica no estilo veneziano ao cenário entre o mar de múltiplas cores e a montanha. Seu centro em torno do porto é totalmente vedado ao tráfego de veículos. O calçadão à beira-mar ferve no verão tanto de dia quanto de noite, uma vez que milhares de visitantes afluem à ilha a partir de junho, se apertando em meio aos vários restaurantes e barracas de suvenires da orla, várias vendendo sachês de lavanda, o produto principal local. Para completar, paparazzi invadem a cidade atrás das celebridades que pipocam nessa época, especialmente nas baladas noturnas. Sinceramente, prefiro a Hvar que encontrei fora da temporada, relativamente vazia, bem calma e pitoresca. 

A Lógia com a Fortaleza Espanhola no cume do morro

         Quanto ao povoamento da ilha, Stari Grad faz jus ao nome ('Cidade Velha' em croata), tendo sido o  seu primeiro núcleo habitacional, fundada pelos gregos em 375 a.C. com o nome de Pharos - Hvar é a evolução desta palavra grega na língua croata. A hoje sofisticada cidade de Hvar tem uma origem bem mais prosaica, pois se originou de um covil de piratas. Os venezianos os expulsaram da ilha em 1240 e Hvar começou a progredir como base naval da frota veneziana e também como núcleo intelectual e artístico, até ser devastada em 1571 pelos otomanos a caminho da Batalha de Lepanto. Poucos anos depois, uma gigantesca explosão causada por um raio acabou de vez com o que restava. A cidade recomeçou das cinzas e aos poucos se tornou um dos destinos preferidos nas águas adriáticas do pessoal endinheirado.

Mandrac e o Arsenal de Hvar à beira mar

           Os prédios de interesse da cidade de 4.300 habitantes se distribuem quase todos em torno da Praça São Estêvão - Trg Svetog Stepanja. Esta é uma praça longa aterrada do mar com 200 m de extensão; alguns dizem ser a praça medieval  mais comprida da costa croata. Vai do Mandrać, uma reentrância do porto que serve de ancoradouro para barcos pequenos, até a catedral. Junto ao Mandrać fica a Lógia, que já foi palácio do governo, com a torre de relógio onipresente em todas as cidades dálmatas. Em frente ainda junto ao mar está o Arsenal, uma construção de 1611 que tinha originalmente a função de reparar os galeões de guerra sob o seu grande arco lateral. No andar superior do Arsenal foi inaugurado no ano seguinte um teatro barroco, o primeiro dos Bálcãs a congraçar nobres e plebeus na mesma apresentação. O teatro funciona até hoje, e possui na sua entrada uma figura de dragão usada num dos galeões da Batalha de Lepanto. Já  a Catedral de São Estêvão, que domina a praça, é uma construção também do século XVI, com detalhes góticos, barrocos e renascentistas. O curioso em seu campanário é que a quantidade de janelas em cada pavimento corresponde ao número do andar.

A Praça e a Catedral de São Estêvão

           Seguindo o calçadão à beira mar, chegamos a uma pequena enseada onde se encontra o Mosteiro Franciscano, com uma igreja, um campanário no estilo número-de-janelas-correspondendo-ao-andar visto na Catedral, um claustro com coleção de antiguidades e uma pintura sobre a Última Ceia ocupando a parede, além de um jardim com árvores centenárias.

O Mosteiro Franciscano 

           Uma caminhada interessante é percorrer as ruas medievais que formam o bairro de Groda, situado entre a praça e a morro da fortaleza, cheias de palacetes. Um destes palacetes abriga o restaurante Giaxa, que escolhi para almoçar na rua Petra Hektorovica 3, paralela à praça. Recomendo o restaurante, indicado nos guias de viagem pelo toque de modernidade em pratos tradicionais croatas, não muito caros. Comi um saboroso frango ao molho de amêndoas com polenta, enquanto meus companheiros de viagem apreciaram um peixe após terem escolhido o exemplar numa bandeja trazida pelo garçom à mesa. O ambiente, com as mesas na varanda dispostas junto às paredes nuas de pedra, contribui para o clima agradável da refeição. Aliás, podemos encontrar em Hvar desde as simpáticas konobas, os restaurantes croatas pequenos e aconchegantes com seus pratos mais simples e gostosos, até restaurantes chiques com cardápio refinado.

Rua do bairro de Groda
             
             No próximo post, subimos à Fortaleza Espanhola para apreciar a vista soberba do alto da morro. 


* Este é o oitavo post da série sobre  países da extinta Iugoslávia. Para visualizar os demais, acesse Atravessando os Bálcãs: Croácia, Eslovênia e Bósnia



 Postado por  Marcelo Schor  em 12.09.2013 



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