Atravessando os Bálcãs: Croácia, Eslovênia e Bósnia
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Atravessando os Bálcãs: Croácia, Eslovênia e Bósnia


A bandeira da Croácia tremula em Hvar, principal centro da ilha de mesmo nome no Mar Adriático

         Confesso que tenho um fraco por países que superaram desafios no passado recente. Após ter percorrido os Países Bálticos no ano passado, resolvi desta vez visitar alguns dos países que formavam a antiga Iugoslávia e que ficaram independentes em 1991 - Croácia, Eslovênia e Bósnia. Porém, para estes países, com exceção da Eslovênia, a separação foi muito mais sofrida. Uma guerra de quatro anos contra a Sérvia, que queria continuar dominando as demais regiões da Iugoslávia, impactou a Croácia e principalmente a Bósnia.  Pouco antes de a guerra eclodir, fiz uma visita-relâmpago a Dubrovnik, a principal atração turística da costa croata, e achei na época a cidade fantástica. Minha curiosidade era alta: como encontraria as jovens repúblicas agora? Teriam já se recuperado das chagas da guerra violenta que se sucedeu?

O centro histórico da capital da Eslovênia, Liubliana

           Encontrei na Eslovênia e na Croácia dois países de primeiro mundo, com ótimas estradas , excelente infraestrutura turística e cidades de ruas limpíssimas e com baixa criminalidade, oferecendo toda a segurança para se passear. Muitas pessoas falam inglês, uma mão na roda já que as línguas eslavas tem poucas palavras que podemos reconhecer (algumas sem vogais, como o nome de uma das maiores ilhas croatas, Krk). A Eslovênia pertence à União Europeia e a Croácia entrou na União no último dia 1º de julho. Neste momento crucial, a Croácia encontra-se com a economia em recessão, com 21% de desempregados; mesmo assim não vi um só mendigo nas ruas. Há uma expectativa grande pela população do que acontecerá com esta adesão e milhares de pessoas comemoraram a noite do evento na praça principal de Zagreb. Por enquanto, a moeda continua sendo a kuna e o Tratado de Schengen ainda não vale nas suas fronteiras, devendo a situação se modificar em 2015. Uma provável alteração imediata será um incremento ainda maior do turismo vindo dos países europeus.

A Placa, a charmosa rua de pedestres da cidade murada de Dubrovnik

         Já a Bósnia, que originalmente não estava nos meus planos visitar, é menos desenvolvida que as outras duas repúblicas e aparece como contraponto: ainda luta para superar as fortes sequelas do conflito que a dilacerou por quatro anos. Sua situação interna é complicada e falarei sobre isso nos posts sobre suas cidades que conheci. Lá as cicatrizes da guerra aparecem em todo o canto e o turismo ainda é incipiente. Por isso mesmo é um lugar diferente para se visitar, com várias surpresas encantadoras, especialmente a cidade herzegovina de Mostar.

A cidade de Mostar, na Bósnia

          Quando comecei a estudar o roteiro que desejava seguir, o meu foco principal era a Croácia. Quem deseja conhecer a belíssima costa croata no Adriático se depara com várias cidades para paradas legais. As rodovias que as interligam oferecem paisagens maravilhosas (caso também da estrada de acesso à capital da Bósnia, Sarajevo) durante todo o percurso. Imprescindível é ainda visitar ao menos uma das ilhas da costa croata, tão ou mais belas que as ilhas gregas. Viajando sozinho, eu tinha três opções para conhecer a Croácia: a primeira, alugar um carro, foi descartada. As demais eram fazer o percurso por ônibus interurbanos e barcos, comprando as passagens na hora - estratégia perfeitamente possível, pois os transportes são confortáveis e pontuais - ou entrar numa excursão que me agradasse. Verifiquei que a empresa pela qual fiz a excursão dos Países Bálticos, a austríaca Sato Tours, tinha um roteiro interessante saindo na época das minhas férias, maio. E embarquei nessa jornada. A excursão foi excelente, com número adequado de pessoas (22) formando um grupo simpático e, para culminar, um guia ótimo e eficiente, o Rafael. Ainda tive uma surpresa: os hotéis haviam sofrido um upgrade no circuito e eram ainda melhores que os anunciados no roteiro disponibilizado pela internet. O ritmo da excursão foi bom o suficiente de forma a me permitir ainda conhecer algumas localidades não inseridas no tour, como foi o caso de Trogir, uma cidadezinha encantadora perto de Split.

O bairro de Bascarsija em Sarajevo, capital da Bósnia

          Conforme o próprio guia da excursão confirmou, maio é um  mês excelente para se visitar a costa do Adriático - ainda há poucos turistas, o tempo costuma ser bom e a temperatura é agradável. A partir de meados de junho, as cidades mais conhecidas, principalmente Split e Dubrovnik, já enchem de turistas, as estradas se congestionam e o calor pode ser bem forte.

A principal rua de pedestres da parte antiga da capital croata Zagreb

           A Croácia particularmente é um país lindo e muito curioso, a começar pela sua forma inusitada de um bumerangue (o "miolo" é ocupado pela Bósnia). Na realidade, cada metade do bumerangue tem paisagem e cultura diferentes. A parte norte, onde se situa a capital Zagreb, tem uma característica semelhante aos países do Danúbio e à Eslovênia, fato resultante da dominação dos Habsburgo sobre a região durante séculos. Já a parte sul, marítima, esteve sob domínio de Veneza e portanto tem grande influência italiana. A culinária acompanha esta tendência, e o povo também, tendo uma atitude mais relaxada na costa (isto se reflete no serviço dos restaurantes, um pouco mais lento). Uma característica é unânime: são reticentes quanto se toca no assunto da guerra, um terror ainda presente em suas memórias, tendo sido encerrado há meros 18 anos.

O porto croata de Drvenik na costa da Dalmácia

          Outro dado pouco conhecido sobre a Croácia é o seu legado de invenções para a humanidade, como a caneta-tinteiro e a gravata. Conta a história que os parisienses ao se depararem com mercenários croatas usando um pano amarrado no pescoço teriam gostado do ornamento, o adotando com algumas modificações. A palavra francesa cravate, que deu origem ao termo em português, veio da palavra croata que designa o país balcânico, Hrvatska. 

A Riva, calçadão diante dos muros do Palácio de Diocleciano em Split

       A diversidade já observada ao se viajar pela Croácia atinge o ápice na Bósnia, onde três culturas convivem no mesmo lugar: a croata (católica), a sérvia (ortodoxa) e a bosníaca (muçulmana).

       Em resumo, esta foi uma das viagens mais interessantes que já fiz. Nos próximos posts vocês vão conhecer os detalhes destes três países fascinantes da Península Balcânica que percorri em doze dias de maio. Começaremos pela Eslovênia, acompanharemos quase toda a costa da Croácia até Dubrovnik, subiremos as montanhas avançando pela Bósnia em direção a Sarajevo, e finalmente voltaremos à Croácia,  terminando o roteiro na capital Zagreb. Até lá!



  Postado por  Marcelo Schor  em 10.07.2013  

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