Trogir, a cidade-museu da costa croata
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Trogir, a cidade-museu da costa croata


A orla da ilha de Trogir, com o Portão da Cidade ao centro

        Um ponto fraco da organização da excursão à Croácia de que participei foi não ter incluído em seu roteiro uma das cidades mais bonitas da costa da Dalmácia, Trogir (lê-se troguír). Nada que não pudesse ser contornado; afinal, Trogir fica a apenas 27 quilômetros de Split, me permitindo dar um pulo para conhecer este fantástico Patrimônio da Humanidade nomeado pela Unesco.

O canal que separa Trogir (à direita) do continente

        Após percorrer pela manhã o Palácio de Diocleciano em Split, objeto do último post, me dirigi junto com colegas da excursão à rodoviária intermunicipal, situada bem perto do Palácio junto ao cais da cidade - uma mão na roda para quem faz transbordo entre os ônibus e os barcos para as ilhas croatas do Adriático. Lá comprei a passagem para Trogir (26 kunas, cerca de três euros e meio) e me encaminhei ao ônibus. Para meu espanto, a poltrona indicada no bilhete estava ocupada. Como havia muitos lugares vagos, não criei caso e sentei em uma outra poltrona. À medida que as pessoas iam entrando no veículo antes da partida, percebi que a maioria pagava direto ao motorista, e por isso os lugares marcados na passagem não serviam de nada. E pior, descobri depois em Zagreb que a passagem comprada na bilheteria da rodoviária é um pouco mais cara! Micos de turista... A viagem demorou meia hora pela rodovia e logo cheguei ao terminal de Trogir, estrategicamente situado junto à ponte de acesso à cidade histórica.

Rua de Trogir

          Trogir é uma das cidades mais antigas da costa croata, tendo sido fundada há 2.300 anos por gregos dóricos oriundos de Vis, a ilha mais distante do arquipélago fronteiro a Split. A vila recebeu o nome de Tragurion, que significava "ilha dos bodes". Durante a época romana se transformou num porto importante. Como se situava numa ilha, a cidade escapou do trágico destino da sua vizinha Salona no século VII, saqueada e destruída pelos bárbaros eslavos, fato que indiretamente deu origem a Split. A partir daí, Trogir seguiu o destino das demais cidades dálmatas, caindo sob domínio veneziano e posteriormente austro-húngaro até a independência da Iugoslávia em 1918. Trogir atingiu seu período áureo entre os séculos XIII e XV, época da qual datam suas construções de maior interesse, com um grande declínio econômico no século XVII devido à devastação das cercanias pela ocupação turca.

Casario de pedra em Trogir
Rua de Trogir com lojas de suvenires

          O centro histórico fica inteiramente contido numa ilhota situada entre o continente e a ilha maior de Ciovo. Apesar do tamanho diminuto, pode-se perder algumas horas percorrendo suas ruelas estreitas livres de veículos, apreciando as casas com paredes de pedra e os inúmeros monumentos e palacetes com arquitetura românica ou renascentista dispersos pela cidade. Esta atmosfera toda especial e bem conservada deu a Trogir o apelido de "cidade-museu".

A bela Lógia com a Torre do Relógio na praça João Paulo II

           Após entrar na cidade pela ponte junto ao continente e passar pelo Portão da Terra, andando mais dois quarteirões se chega à pequena praça principal, a João Paulo II, onde ficam os principais marcos da cidade - a Catedral de São Lourenço, a Prefeitura, a Pinacoteca e a Lógia com a Torre do Relógio. Uma constatação interessante é que todas as cidades costeiras da Dalmácia que visitei tinham uma torre com relógio na sua praça principal, de Zadar a Dubrovnik.

O Pátio da Catedral na praça João Paulo II

        A Lógia com suas colunas clássicas e a torre do relógio certamente se insere nos prédios com fachada mais bonita de toda a viagem. No interior da galeria aberta, um relevo famoso do escultor florentino Nikola Fiorentinac mostra a Justiça ladeada pelos dois santos patronos da cidade, São Lourenço e São João de Trogir. Pude apreciar esta obra de arte com uma demonstração de canções típicas croatas entoadas no local.

         Quanto à Catedral, com construção em estilos românico e gótico, destaca-se pelos entalhes no seu pórtico de entrada, datado de 1240. Sendo o prédio mais alto do centro de Trogir, se pode subir ao alto da sua torre de 47 metros para apreciar a vista de toda a ilha, que dizem ser maravilhosa. Só não subi porque estava reservando forças para escalar o Campanário de Split (cuja subida "emocionante" descrevi no último post) horas depois, e convenhamos, duas escaladas de degraus íngremes de torre de campanário no mesmo dia eram demais para minhas pernas.

Apresentação de canções croatas na Lógia com o relevo ao fundo

        Seguindo mais três quarteirões pela estreita rua Gradska já alcançamos o outro lado da ilha, chegando ao portão principal, o Portão da Cidade, no trecho que ainda existe das muralhas medievais. A maior parte da muralha original foi derrubada pelo governo de ocupação de Napoleão no início do século XIX para facilitar a circulação do ar durante uma epidemia de malária.

A Riva e a Igreja de S. Dominik

        O portão dá acesso ao calçadão da orla voltada para a ilha de Ciovo, chamado de Riva da mesma forma que o seu congênere de Split. A Riva é um lugar muito agradável para se caminhar, com palmeiras e muitos restaurantes com mesas ao ar livre, incluindo o St. Dominik, onde almocei um delicioso gnocchi à gorgonzola (devido aos séculos sob domínio veneziano, é muito fácil achar culinária italiana na Dalmácia). O restaurante fica localizado junto à bonita igreja e mosteiro de mesmo nome, do século XIII. Já que falei em restaurante croata, dois detalhes que diferem dos brasileiros: com relação à gorjeta, os pagantes nativos normalmente só arredondam a conta, e as bebidas não alcoólicas vêm sempre em minigarrafas de 200 ml, seja água mineral, suco ou refrigerante. Mal dá para aplacar a sede!

A Riva, a ilha de Ciovo à frente e o restaurante St. Dominik à direita

      Seguindo adiante pela orla cheguei ao extremo da ilha onde fica a Fortaleza Kamerlengo, uma construção do século XV que contrasta bastante com as demais construções de Trogir. O forte foi batizado em homenagem ao camerlengo, o oficial veneziano que era  responsável pelas finanças municipais. De fins de junho ao princípio de setembro a fortaleza sedia as principais atrações do Festival de Verão, um festival de música clássica e folclórica que toma conta de Trogir.

A Fortaleza Kamerlengo

         Na hora de voltar, uma surpresa - quando informei à bilheteira da rodoviária que desejava ir para Split, ela escreveu o número 37 num papelzinho e me mostrou o ônibus na plataforma de embarque. Era um ônibus municipal parador, que apesar de custar um pouco menos, 21 kunas, levou uma hora para alcançar o centro de Split, evitando a rodovia. É verdade que apreciei a viagem, com o ônibus passando por várias cidadezinhas no caminho e um sobe e desce constante de habitantes, a maioria estudantes voltando do colégio que conversavam animadamente. Não recomendo esta alternativa - use o ônibus intermunicipal, muito mais rápido e confortável, com acréscimo de preço insignificante. Ainda mais que o terminal em Split era o municipal, diferente daquele que embarquei na ida. Apesar de não ser muito longe, só consegui voltar ao Palácio de Diocleciano por ter em mãos um mapa providencial das ruas de Split.

          No próximo post, cruzamos o Mar Adriático rumo à ilha de Hvar, onde pude comprovar que as ilhas croatas podem ser ainda mais interessantes que as gregas.

* Este é o sétimo post da série sobre  países da extinta Iugoslávia. Para visualizar os demais, acesse Atravessando os Bálcãs: Croácia, Eslovênia e Bósnia

     
 Postado por  Marcelo Schor  em 04.09.2013 




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