A mágica Floresta Negra - Schiltach e Mummelsee
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A mágica Floresta Negra - Schiltach e Mummelsee


 Fonte da Cidade na Marktplatz,  no centro de Schiltach
         A Floresta Negra povoa nosso imaginário como um local misterioso e fascinante. Parte desta aura vem da sua locação pelos Irmãos Grimm para contos de fadas como o de João e Maria (Hansel e Gretel no original), usando a mitologia local, pródiga em bruxas, lobisomens e criaturas sinistras. A própria denominação da floresta já colabora nesta imagem um pouco lúgubre; alguns argumentam que o nome foi dado pelos romanos devido à pouca luz que a folhagem espessa das árvores deixava passar, outros citam a impressão que os pinheiros escuros causam à distância. Hoje, no entanto, suas paisagens maravilhosas de montanhas, lagos, coníferas e vilas típicas costuram um dos destinos favoritos dos turistas europeus.

         Trata-se de uma região situada na parte ocidental do estado de Baden-Württemberg, e delimitada pelo vale do Reno ao sul e a oeste. Possui cerca de 150 quilômetros de extensão por 50 de largura, espalhados por montanhas, com ponto culminante a 1493 metros de altitude perto de Freiburg, que hospedam as nascentes do rio Danúbio e de vários afluentes do Reno.

          A região também é muito conhecida por outros dois produtos: os relógios de cuco feitos de madeira, símbolo maior da área, e a torta da Floresta Negra, um bolo delicioso feito com chocolate, chantilly e cerejas. É considerada uma das regiões com população mais tradicional da Alemanha. As atividades econômicas principais são o turismo e a agricultura. A confecção dos relógios continua sendo uma das principais ocupações, apesar de sua ímportância ter diminuído nas últimas décadas.

Casario típico em estilo enxaimel

          Para se conhecer a Floresta Negra, pode-se partir de Baden-Baden de carro e seguir pela famosa Schwarzwaldhochstraße, a estrada que corta a floresta de norte a sul,  parando nas cidadezinhas ao longo do trajeto até chegarmos a Freiburg. Como o nome é um pouco impronunciável para leigos no idioma alemão, pode-se tentar a tradução em inglês - Black Forest Highway. Uma outra opção é conhecê-la de trem, como foi o meu caso. Dividi a floresta em duas seções e  percorri  as localidades em excursões diárias a partir de Baden-Baden e de Freiburg. Neste caso, o passe regional de trem  é de grande valia e economia.

Pedalinho no lago Mummelsee

         Quem se encontra em Baden-Baden e dispõe de pouco tempo para conhecer a região, pode fazer um passeio ao lago Mummelsee, já na Floresta Negra e situado no início da Schwarzwaldhochstraße . Para isso, basta pegar o ônibus 245 e soltar no ponto final. O lago, com um hotel às suas margens, fica incrustado nas montanhas cobertas de floresta a mais de mil metros de altitude. A viagem é bela, subindo-se a serra num percurso de quarenta e cinco minutos. No lago podemos alugar um pedalinho ou caminhar pelas margens em meio às árvores. Também há trilhas mais longas que saem dali. Segundo uma das lendas da Floresta Negra, o lago de dezessete metros de profundidade é habitado por um nix, espírito das águas que pode assumir a forma humana, atraindo assim passantes incautos para se afogar no lago.
 
O Rio Kilzig a partir do trem rumo a Schiltach
     
           As cidades mais pitorescas localizadas no coração da floresta se situam às margens de dois rios: o Kilzig e o Gutach. Você vai notar que o nome da maioria das localidades termina em "ach" ou "bach", palavra alemã que designa "córrego".  Não por acaso, o trilho da ferrovia também segue os dois rios, que formam vales entre as montanhas. Como dispunha de um dia para conhecer a região norte da Floresta a partir de Baden-Baden, escolhi para visitar duas cidades servidas por trem, Schiltach e Gengenbach. A maioria dos turistas opta por uma cidade maior, Triberg, conhecida como a capital dos relógios de cuco. Como os guias de viagem mencionavam que Triberg possuía uma faceta muito comercial e pouco típica, optei por cidades menores que me remetessem à visão das vilas idílicas dos contos de fadas. Não me decepcionei com a escolha feita. Schiltach, em particular, parece uma cidade de brinquedo de tão bonita, compacta e pacata.

 
Schiltach e o rio homônimo, afluente do Kilzig. Ao fundo, a Floresta Negra

           Já de posse do passe estadual comprado por 21 € (economia de mais de 40%), que incluía também o ônibus até a estação ferroviária, parti às 9 e meia da manhã de Baden-Baden, respeitando a regra de horário mínimo do passe. O trem leva cerca de hora e meia até Schiltach, com uma rápida conexão em Hausach, sempre acompanhando o rio Kilzig. Os trilhos da Ferrovia da Floresta Negra inicialmente atravessam um vale  verde com vinhedos, que logo cede vez à floresta densa.  A pequena cidade de Schiltach, cercada pela floresta e com 4.000 habitantes, possui uma história muito interessante, pois era o centro da indústria madeireira da região. A extração da madeira foi sua principal atividade econômica até o século XIX. As toras eram amarradas em longas jangadas que eram conduzidas por todo o rio Kilzig até o rio Reno, pelo qual seguiam por centenas de quilômetros até a Holanda, onde eram comercializadas. A condução dos troncos era uma atividade perigosa e muitos pereceram  ao longo dos séculos. Esta história fascinante é detalhada em fotos e folhetos multilingues no Museu Schüttesäge, na entrada da cidade, a poucos metros da estação de trem. O ingresso é gratuito. O museu foi instalado no moinho mais antigo da cidade e se  pode apreciar a sua operação, com as pás gerando eletricidade com a água do rio. Perto do museu se encontra ainda uma interessante ponte ferroviária, pertencente a um ramal desativado e construída  com treliças em 1892.

A triangular Marktplatz,vista desde o prédio da Prefeitura de Schiltach
    
           A principal atração de Schiltach é sem dúvida a Marktplatz e ruas vizinhas. A praça principal da cidade é um largo triangular e íngreme, cercado de casas em estilo enxaimel por dois lados e do prédio da Prefeitura pelo terceiro, construído no século XVI e decorado com afrescos retratando cenas locais. Respirar o ar puro e caminhar pelas ruas tranquilas que saem da praça apreciando a arquitetura típica  é um programa obrigatório, especialmente a rua que sobe o morro, a Schlossbergstraße, onde moravam algumas tecelãs, outra atividade de outrora. O topo da rua oferece uma boa vista do casario e da floresta. Aliás, é díficil percorrer algum quarteirão sem que se veja uma nesga da floresta envolvendo a cidade, e creio que este é um dos fatores que tornam Schiltach tão agradável. É curioso ainda notar que, apesar de Schiltach ter sido fundada no século XII,  não há prédios mais velhos que o da Prefeitura. A razão foi um incêndio que dizimou a cidade em 1533, cuja suposta criminosa foi queimada como feiticeira.

A ladeira Schlossbergstraße, que sai da praça principal, vista do seu topo

       No início da tarde, parti para Gengenbach. Mas este é um assunto para o próximo post, quando continuamos nosso tour pela Floresta Negra, conhecendo também a parte meridional com seus lagos.
      
* Este é o quarto de uma série de sete posts sobre  Baden, Alemanha. Para visualizar os demais acesse: Tour pelo sudoeste da Alemanha.



  Postado por  Marcelo Schor  em 11.05.2012  



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