A mágica Floresta Negra - Gengenbach e Titisee
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A mágica Floresta Negra - Gengenbach e Titisee



A vegetação outonal à beira do Lago Titisee, no sul da Floresta Negra

        Conforme relatei no último post, após deixar Schiltach prossegui na exploração do norte da Floresta Negra, rumando para Gengenbach, a meio caminho no retorno a Baden-Baden por trem. Gengenbach  fica situada na extremidade da Floresta, com 11.000 habitantes, e também é banhada pelo rio Kilzig. Cidade universitária, tem um centro histórico eclético, onde casas em estilo enxaimel coexistem com vinhedos e pomares. É conhecida na Alemanha pela celebração do Fastnacht, o carnaval germânico, quando as pessoas saem às ruas usando  fantasias com máscaras cavadas em madeira. A cidade é considerada uma das  representantes mais fiéis da arquitetura típica do sul da Alemanha, tanto que foi escolhida por Tim Burton para as locações das filmagens da nova versão de "A Fantástica Fábrica de Chocolate", como o local de residência do garoto alemão sorteado para visita à fábrica. 

Marktplatz com a Prefeitura de Gengenbach e suas janelas-calendário

        Como toda cidadezinha alemã, as atrações se concentram na Marktplatz e arredores. A longa praça vai se afunilando e termina num dos dois portões medievais que ainda restam, o Oberturm. Seu prédio principal é a Prefeitura, um edifício  branco e rosa em estilo rococó-clássico datado de 1784 e cujas 24 janelas fronteiras (incluindo-se as duas do sótão) compõem o maior Calendário do Advento no mundo -  estes são calendários luteranos que contam os 24 dias que antecedem o Natal. Uma nova janela é aberta a cada dia que avança até o Natal, revelando uma imagem colorida iluminada.
         A estátua situada na sua frente no meio da praça retrata um cavaleiro da época medieval, quando Gengenbach era uma cidade imperial livre importante.

O portão Oberturm delimitando o centro histórico
            
           Nas cercanias da praça se encontram outras atrações: a Abadia do Mosteiro Beneditino, construção barroca que hoje sedia um campus universitário, e a Engelgasse, ruela estreita com o casario mais pitoresco e suas fachadas enfeitadas com gerânios vermelhos. Todas as casas da rua possuem uma adega de vinhos no subsolo, com alçapão de entrada independente na rua, denotando a importância das vinícolas na economia de outrora da cidade . Perto dali, no final da rua principal - Hauptstraße - se encontra a Niggerturm, torre que sedia o Museu do Fastnacht, onde se pode aprender tudo sobre a história e fantasias da celebração carnavalesca.

A Engelgasse e suas casas típicas com adegas no subsolo

           Num pátio com acesso a partir do número 18 da Hauptstraße se acha a taverna Winzerstüble, onde almocei um prato típico, Filé de Peru ("Putenfillet" em alemão) ao Molho de Queijo com Spätzle, a massinha originária dessa região. Enquanto se aguarda o prato,  vale a pena apreciar as estátuas que adornam o pátio, mostrando algumas das fantasias mais lembradas na época do Fastnacht, com destaque para o bobo da corte, símbolo-mor da festividade.

Estátuas representando o Fastnacht, no pátio do restaurante Winzerstüble

         Já a vertente sul da Floresta Negra, com acesso mais fácil a partir de Freiburg, não possui localidades ricas em história, mas para compensar, a natureza foi pródiga com a região, misturando floresta e lagos numa coloração incrível. Devido à presença destes lagos, a paisagem é similar às das montanhas suíças. Por coincidência ou não, a fronteira suíça está muito próxima - a cidade de Schaffhausen dista uns trinta quilômetros em linha reta desde Schluchsee.

Canteiro na rua central de Titisee, com a floresta ao fundo

         Uma linha de trem liga Freiburg a Titisee, a principal estância da região, em meros 38 minutos, atravessando o cânion conhecido como Höllental ("Vale do Inferno"). Para esta viagem, ainda mais econômica que o passe estadual é a aquisição do Regiokarte, por €11, que garante viagens ilimitadas no dia em qualquer tipo de transporte por toda a região em volta de Freiburg. Tive sorte, pois a recepcionista do hotel em Freiburg foi com a minha cara e me emprestou o Regiokarte mensal do hotel.

A orla de Titisee com um dos seus hotéis mais tradicionais, o Romantik

        A palavra Titisee provoca sorrisos enviesados nos falantes da língua inglesa, mas o nome da estância principal do sul da Floresta na realidade presta homenagem ao imperador romano Tito, que teria passado por aquelas bandas. Titisee, na margem norte do lago de mesmo nome a 860 metros de altitude,  divide o município de 12.000 habitantes com a vizinha Neustadt, e por isso nos mapas eventualmente aparece sob a denominação Titisee-Neustadt. Durante os meses de verão fica superlotada de turistas ávidos por aproveitar as atividades náuticas que o lago de 1,3 km² oferece, tais como passeio de barco, pedalinho e canoagem, além dos banhos lacustres. Como consequência, na rua principal proliferam as lojas de lembranças turísticas, incluindo vendas de relógios de cuco. Felizmente visitei Titisee numa manhã linda de início de outono, e pude aproveitar a promenade do lago sem praticamente divisar outro turista. Neste caso, creio que as fotos podem mostrar melhor a beleza do lugar e valem mais que muitas palavras. Um passeio muito salutar que recomendo é percorrer a trilha de seis quilômetros de extensão que circunda o lago, aproveitando-se para apreciar a floresta em todo o seu esplendor. Afinal, a caminhada e também o ciclismo são outras das atividades muito praticadas nesse resort das montanhas.

O lago Titisee e um dos barcos que fazem cruzeiro

        No período da tarde, visitei o balneário de Schluchsee, a meia hora de ônibus de Titisee, à beira do lago homônimo. Só o percurso por dentro da floresta já vale a viagem. Quem admira o bonito lago de Schluchsee, bem maior que o Titisee, não pode imaginar uma diferença crucial: trata-se de um reservatório artificial, cujo dique foi construído em 1930; o lago original ocupava uma superfície muito menor.

         Eu planejava passar um tempo maior em Schluchsee, mas um vento muito forte começou a soprar, anunciando uma frente fria já prevista. O ótimo tempo virou, a temperatura literamente despencou e tive que voltar para Freiburg. No dia seguinte, vi o resultado como manchete nos jornais locais: "Pela primeira vez na temporada, noite de gelo e neve nas montanhas da Floresta Negra".
     
Monumento na estação ferroviária de Schluchsee, junto ao lago

          No próximo post, Freiburg.

* Este é o quinto de uma série de sete posts sobre Baden, Alemanha. Para visualizar os demais acesse: Tour pelo sudoeste da Alemanha.



  Postado por  Marcelo Schor  em 15.05.2012  
      
       



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