Viagens
Uma caminhada pela cidade do Porto
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Vista do Porto a partir do mirante no fim da Ponte Dom Luís I. No centro ao alto, a Torre dos Clérigos e a Sé. |
Era o ano da virada do milênio. Numa excursão da finada Soletur passei um dia no Porto. Não gostei - fiquei longe do centro, percorri as atrações numa correria e achei a segunda maior cidade portuguesa velha e decadente. Doze anos após, me hospedei quatro noites num hotel a uma quadra da Avenida dos Aliados. A percepção foi inteiramente diferente e com calma pude curtir cada nuance deste surpreendente Patrimônio da Humanidade.
Apesar do sobe e desce constante devido às inúmeras ladeiras, adorei caminhar pela cidade, não só pela riqueza e variedade de sua arquitetura como também pela beleza da paisagem nas margens do Douro. É verdade que ricos casarões se alternam com prédios depauperados, mas este contraste até contribui para o charme do lugar.
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Não estamos em Londres, mas sim na Avenida dos Aliados, encimada pela Câmara Municipal |
Minha andança favorita foi a caminhada da Avenida dos Aliados até a Vila Nova de Gaia, na margem oposta do Douro. Ponto inicial do percurso, a Avenida dos Aliados é uma avenida curta de apenas quatro quarteirões com jeito de boulevard francês. Foi inaugurada em 1916 e impressiona pela arquitetura homogênea dos prédios com suas sacadas e cúpulas trabalhadas. Lembrou-me os cartões postais antigos da Avenida Rio Branco carioca em sua época áurea. Considerada o coração do Porto, aqui os habitantes da cidade (que têm o apelido de tripeiros) se reúnem para comemorar os grandes eventos. No topo da avenida se situa o imponente prédio da Câmara Municipal, erigido na década de 20 com fachada em granito e a torre com relógio de carrilhão.
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A estreita Torre dos Clérigos |
Um curto e íngreme desvio da base da Avenida dos Aliados nos leva à Torre dos Clérigos, três quarteirões a oeste. Inaugurada em 1763 com 75 metros de altura, a torre de granito faz parte da Igreja de mesmo nome e subindo seus 225 degraus em caracol se obtém uma bela vista da cidade. A Torre é porta de entrada de um dos bairros mais interessantes do Porto, a Cordoaria, cheio de vielas instigantes. A poucos passos da Torre fica o Centro Português da Fotografia, com mostras gratuitas instaladas nas celas do prédio centenário.
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A Praça Almeida Garret e a Igreja dos Congregados, junto à Estação São Bento |
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O vestíbulo de entrada da elegante Estação de São Bento |
Praticamente em frente ao final da Avenida dos Aliados se encontra a estação ferroviária de São Bento, que utilizei para viajar a Guimarães e Braga, objeto do próximo post. Mesmo que você não use trem, entre no prédio para apreciá-lo. Inaugurado também em 1916, ostenta em seu saguão alguns portais imponentes contendo mais de 20.000 azulejos no total, que retratam cenas históricas do norte de Portugal.
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A Sé da Cidade do Porto
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A partir da estação, se seguirmos pela Avenida Dom Afonso Henriques, chegamos à base da região da Sé, de onde sai o caminho mais curto e menos cansativo para se chegar à catedral no alto do morro. Fundada no século XII e construída inicialmente no estilo românico, a Sé adquiriu posteriormente aspectos góticos e barrocos. O pátio fronteiro, conhecido como Terreiro da Sé, possui um pelourinho e ainda dá acesso ao belo prédio barroco do século XVIII que abriga o Paço Episcopal, o grande prédio branco com molduras em pedra no alto da foto que abre o post. Do Terreiro apreciamos uma bela vista do casario da cidade. Uma série de becos medievais envolvem a Sé e podem ser percorridos para descer rumo à Ribeira.
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A Praça da Ribeira, encimada pelo Paço Episcopal |
O bairro da Ribeira é o mais icônico do Porto. Aqui a ordem é perambular com calma, apreciando suas vielas estreitas e as casas com roupas penduradas do lado de fora. As modernas antenas circulares fazem contraste com as fachadas antigas onde estão posicionadas. Decadente durante décadas, a Ribeira vem sofrendo um amplo programa de revitalização e hoje está apinhada de restaurantes e turistas. Seu ponto nevrálgico é a Praça da Ribeira, point de animação noturna, diante do cais onde se pode pegar barcos para se passear no Douro e vislumbrar os antigos barcos rabelo, que transportavam os barris de vinho pelo rio. Uma estátua de São João Batista, encravada na fachada do prédio fronteiro, domina a praça.
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A Ribeira vista do nível superior da Ponte Dom Luís I
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Ainda na Ribeira, o Palácio da Bolsa merece uma parada. Construído em estilo neoclássico no século XIX, era o local onde se negociavam ações. O interior pode ser visitado e se destaca o pátio central onde aconteciam os pregões, com o domo octagonal com painéis de vidro. A visita guiada a cada meia hora mostra ainda diversas salas como a da Tribuna e Dourada, onde figuram mobília e quadros da época. O opulento Salão Árabe é o ponto alto da visita. Inspirada no Palácio da Alhambra de Granada, sua decoração mourisca nas paredes e tetos com detalhes cobertos por ouro impressiona qualquer visitante. O salão é usado até hoje em recepções a visitantes ilustres.
Na mesma praça, no lado perto do rio, fica a Casa do Infante. O prédio do século XIV, que abrigou a Alfândega do Porto, é considerado o local de nascimento do Infante Dom Henrique em 1394. Recentemente escavações no terreno descobriram artefatos romanos que estão expostos no local.
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Barcos rabelo diante da Ponte Dom Luís I
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Caminhando pelo cais da Ribeira em meio às barracas que vendem todo tipo de souvenir, pode-se alcançar o nível inferior da Ponte Dom Luís I. A ponte, que liga o Porto a Vila Nova de Gaia foi construída num estilo semelhante à Torre Eiffel e inaugurada em 1886. Seu nível inferior é aberto a pedestres e carros, enquanto o superior é reservado a pedestres e a uma linha do metrô.
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O Rio Douro rumo à sua foz no Atlântico em foto tirada da Ponte |
Após atravessar a ponte, a ordem é curtir Vila Nova de Gaia, com seu calçadão que acompanha o rio Douro e as caves ao longo da rua, onde se pode apreciar um excelente vinho do Porto. Lá se encontram também as melhores vistas abrangentes do Porto com todos os seus níveis, desde as margens da Ribeira até o topo da Sé e da Torre dos Clérigos. O ideal é apreciar a diferença entre as vistas no nível do rio e a do mirante junto ao nível superior da Ponte Dom Luis I - a do mirante é simplesmente soberba. Para chegar ao mirante, uma alternativa interessante é usar o teleférico inaugurado há um ano que parte do calçadão junto ao rio.
Do mirante, pode-se voltar ao Porto pelo nível superior da Ponte Dom Luís I, de onde se pode tirar ótimas fotos dos barcos passando pelo rio abaixo, ou então utilizar a estação de metrô ao lado para retornar ao Centro da cidade.
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Vista do casario portuense a partir do pátio da Sé |
Para conhecer os pontos do Porto mais distantes, como as praias do Oceano Atlântico e a Fundação Serralves, utilizei o ônibus turístico de dois andares, que possui três diferentes linhas que atravessam a cidade. Achei a opção bastante interessante para se conhecer estas atrações mais afastadas, mas com dois senões: primeiro, o ônibus perde muito tempo nos engarrafamentos enquanto ainda percorre o centro da cidade; segundo, a bela música “Cinco Amores”, que toca no fone de ouvido entre os comentários sobre cada atração, gruda que nem carrapato, martelando dias a fio na nossa cabeça. Peguei-me a cantarolar a canção até no voo de volta para o Rio...
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Postado por Marcelo Schor em 28.02.2013
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