Seguindo a trilha do Muro de Berlim
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Seguindo a trilha do Muro de Berlim


O Portão de Brandenburgo

          O Muro de Berlim é o maior símbolo da Guerra Fria. Erigido em 1961 pela então Alemanha Oriental no auge da crise entre o Ocidente e a União Soviética, separava as metades comunista e capitalista de Berlim, isolando a última. O muro de 162 quilômetros de extensão durou 28 anos e foi derrubado pela população em 1989, em cenas emocionantes televisionadas mundo afora.

       Um dos passeios mais interessantes em Berlim é seguir o traçado original do Muro. Restam hoje poucos lugares onde seus trechos ainda sobrevivem. O espaço vazio foi sendo paulatinamente ocupado por monumentos e prédios arrojados, além de marcos como o Reichstag terem sido restaurados à sua função original. A cidade está hoje plenamente reintegrada e somente pelas fotos e textos explicativos espalhados em alguns pontos estratégicos no caminho podemos ter ideia da terrível e profunda mudança que a construção do muro causou a Berlim, gerando por décadas duas cidades completamente diferentes.

A Estação Central berlinense
         
        Começamos o percurso pela Hauptbahnhof. A nova estação ferroviária central não está propriamente na antiga linha do muro, mas fica bem perto. Inaugurada em 2006 para a Copa do Mundo, é um mastodonte de aço e vidro. Como também é estação do S-Bahn berlinense (que por ter poucas paradas em seu trajeto é um meio muito mais rápido de se chegar aos lugares que o metrô tradicional, o U-Bahn), a Hauptbahnhof se torna um ótimo ponto para se iniciar o percurso.

O Reichstag e sua nova cúpula

       Situados bem perto da Estação e a poucos passos um do outro, dois dos principais símbolos do poderio alemão de outrora foram separados pelo muro: o Reichstag e o Portão de Brandenburgo. O Reichstag, sede do Parlamento Alemão, é um prédio neoclássico do século XIX. Aqui foi fundada a República da Alemanha em 1918 e um incêndio no Parlamento foi o pretexto para o início da ditadura nazista em 1933. O Reichstag se tornou também símbolo da vitória dos Aliados em 1945 ao ser divulgada a foto da bandeira soviética sendo pregada no seu telhado danificado. O Reichstag voltou a ser a sede do governo alemão em 1999, quando a nova cúpula foi inaugurada. Com um forte contraste em relação ao resto do prédio, o impressionante domo de vidro é sustentado por uma coluna revestida por espelhos e contém nas laterais uma rampa em espiral que leva o visitante até o pátio exterior onde se têm boa vista desta parte da cidade. A visita ao Parlamento ou somente à cúpula é gratuita, mas deve ser agendada previamente pelo site www.bundestag.de.

O Reichstag  e o Tiergarten à esquerda e o Portão de Brandenburgo ao centro, vistos do Panoramapunkt

          Já o Portão de Brandenburgo, o símbolo maior de Berlim, era originalmente uma das portas de entrada da cidade. O portão com doze colunas dóricas foi construído em 1791. A carruagem acima, a Quadriga, comandada pela deusa da paz Irene, foi levada por Napoleão quando invadiu a cidade em 1806, sendo retornada anos depois após sua derrota. O Portão é o ponto inicial da avenida mais importante de Berlim, a Unter den Linden, e é sintomático que estivesse fechado durante toda a existência do muro por estarem praticamente colados. Hoje continua sem que veículos passem sob ele, mas por um motivo bem diferente - virou uma área exclusiva para pedestres.
       
O Memorial do Holocausto

      Seguindo pela alameda que margeia o gigantesco Parque Tiergarten, a uma quadra do Portão está localizado um dos monumentos mais recentes de Berlim, o Memorial do Holocausto. Uma homenagem aos seis milhões de judeus cujas vidas foram ceifadas pelos nazistas, o memorial inaugurado em 2006 é composto de 2711 blocos cinza retangulares dispostos pela área, separados por espaços estreitos. O cenário lembra um cemitério judaico. Os blocos não têm muita diferença na sua altura, mas o caminho entre eles vai descendo de nível, de forma que à medida que andamos em direção ao centro do terreno, vamos "afundando" no meio dos blocos até que os seus topos fiquem mais altos que nossas cabeças. O sentimento de claustrofobia e isolamento vai aumentando progressivamente, nos deixando uma impressão pungente e perturbadora.  O memorial cumpre sua função de lembrar os horrores do Holocausto, apesar de não fazer menção direta ao fato. No subsolo há um centro de informações com vários depoimentos de vítimas dos campos de concentração.

        Para aqueles que querem conhecer melhor a história judaica na Alemanha, o excelente Museu Judaico fica situado no bairro de Kreuzberg, a algumas quadras ao sul do Checkpoint Charlie e conta toda a saga dos judeus na Alemanha, desde a Idade Média até o renascimento da imigração nos dias atuais.

O futurístico Sony Center

       Prosseguindo mais algumas quadras, alcançamos o ícone da reconstrução da Berlim pós-muro, a Potsdamer Platz. Centro de diversões noturnas da capital até a década de 30, a Praça foi literalmente dividida pelo Muro e virou terra de ninguém. Após a sua demolição, grandes prédios foram sendo construídos no seu entorno. Este trecho da cidade lembra os arranha-céus de Nova Iorque e hoje a praça é conhecida mundialmente por prédios como o Daimler-Chrysler Center e o Sony Center, com sua grande praça no térreo onde os berlinenses se reúnem para assistir a eventos esportivos pelos telões e que abriga ainda um complexo de cinemas.

Os pedaços remanescentes do Muro na Potsdamer Platz

         No centro da Potsdamer Platz, alguns pedaços do muro sobrevivem, bastante pichados. Entre os tocos é apresentada uma comparação de fotos atuais e antigas de vários monumentos berlinenses afetados (na foto acima vê-se uma do Portão de Brandenburgo devidamente maculado pelo Muro). Do alto do Panorama Punkt, o terraço de um prédio da praça,  podemos descortinar uma bela vista de boa parte de Berlim, incluindo a maioria das edificações mencionadas neste post. É interessante notar a quantidade de guindastes no horizonte - Berlim é uma cidade em reconstrução eterna. As proximidades da Potsdamer Platz também abrigam a Filarmônica de Berlim, uma das orquestras mais famosas do mundo.

A mostra Topografia do Terror acompanhando o Muro

         Pouco após a Potsdamer Platz, o trajeto dá uma guinada rumo ao leste na Niederkirchnerstraße, e chegamos à grande surpresa da minha estadia em Berlim: a ótima mostra Topografia do Terror. A mostra gratuita acompanha um trecho do muro deixado intacto e sintomaticamente ocupa o terreno onde ficava a sede da Gestapo, a polícia nazista. A exposição ao ar livre mostra em detalhes os acontecimentos na Alemanha e em Berlim que levaram à ascenção e queda do nazismo. Fazendo jus ao seu nome, desmistifica fatos e apresenta a realidade nua e crua do período através de fotos e textos explicativos. Achei a mostra muito bem produzida e um programa imperdível em Berlim.

       Há quatro anos foi inaugurado no terreno o Centro de Documentação, que complementa a exibição apresentando o terror infligido pela polícia nazista na Alemanha e em toda a Europa ocupada durante a Segunda Guerra Mundial.

A placa no Checkpoint Charlie 

          Prosseguindo pela rua finalmente chegamos ao Checkpoint Charlie, o ponto de passagem entre os dois lados de Berlim durante a existência do Muro. Hoje é uma esquina normal, com uma guarita falsa e atores caça-níqueis vestidos de sentinelas tirando fotos com os turistas. Mas existe no local uma pequena mostra com fotos de época que conta a história da passagem, apresentando o aparato de segurança que a cercava. A maior atração porém é uma cópia da placa que indicava que se estava deixando Berlim Ocidental.

Foto do Checkpoint Charlie atravessado pelo Muro.
No alto, Berlim Ocidental. Abaixo, a parte oriental.

           Alguns quilômetros a leste do centro, junto à estação ferroviária Ost, se localiza o trecho mais longo que resta do muro, com 1,3 quilômetro de extensão. Acompanhando o rio Spree, este trecho é conhecido como East Side Gallery. O muro se converteu em 1990 numa galeria com  mais de cem murais pintados nas suas paredes, dos quais o mais conhecido é a pintura que retrata os ex-presidentes da União Soviética, Leonid Brejnev, e da Alemanha Oriental, Erich Honeger, se beijando. Hoje muitas destas pinturas estão em mau estado e há planos para se demolir parte deste paredão.

Ao lado do balão, o Trabant, símbolo da antiga Alemanha Oriental

        Para terminar, uma foto que tirei em uma esquina perto do Checkpoint Charlie, onde fica ancorado o balão turístico que sobrevoa Berlim. Nela aparece no alto de um pedestal o carro Trabant, um dos maiores símbolos do comunismo na finada Alemanha Oriental. O carrinho antes onipresente no país e exportado para outras regiões da Cortina de Ferro era feito de plástico duro e tinha uma performance pobre, mas durava uma eternidade...

         No próximo post, continuamos nosso passeio por Berlim, agora focando nas outras atrações do Mitte, o bairro que hoje é o centro turístico da cidade.

 Publicado por  Marcelo Schor  em 15.12.2013 



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