Ollantaytambo, embarque para Aguas Calientes
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Ollantaytambo, embarque para Aguas Calientes


A cidade de Ollantaytambo

         Após termos conhecido Moray e as salinas de Maras na manhã do segundo dia de estadia no Vale Sagrado, rumamos para Ollantaytambo, onde no meio da tarde pegaria o trem para Aguas Calientes. Além de ser o ponto de embarque para os turistas que se encontram no Vale, Ollantaytambo é considerada a ruína inca mais impressionante após Machu Picchu, servindo como um ótimo aperitivo.

Os terraços da Fortaleza Inca vistos da entrada 

         A cidade data do século XV, quando a área foi conquistada por Pachacútec, o nono e maior governante inca que é homenageado com a estátua na Plaza de Armas em Cusco. Pachacútec reconstruiu Ollantaytambo como propriedade real e centro administrativo, adotando o traçado xadrez para suas ruas como se tornaria padrão séculos mais tarde. Se Cusco foi planejada com o formato de um puma, Ollantaytambo lembra uma espiga de milho, uma representação mais adequada à fertilidade alta do vale.

        Ollanta (também o nome do atual presidente peruano, Ollanta Humala)  foi um general  do exército de Pachacútec. Sua história foi transformada em um famoso drama no século XVII. De acordo com esta versão, Ollanta se apaixonou pela filha do imperador. Impedido de amá-la pela diferença de classes, fugiu, incitou uma rebelião e iniciou uma guerra que durou anos. Retornou capturado após a morte de Pachacútec, mas foi perdoado pelo novo imperador Tupaq, irmão de sua amada, e finalmente pôde se unir a ela.

Os terraços da Fortaleza Inca de Ollantaytambo

         Ollantaytambo foi a última cidade que conheci no Vale Sagrado e também a que considerei a mais bonita. É uma das raras cidades incas ainda habitada nos dias atuais (lembrem-se que, por exemplo, a atual Pisac fica a quilômetros das suas ruínas incas). Com suas ruas de calçamento antigo e casario de pedra, conserva muito bem a atmosfera do passado.  A praça central e a rua da estação ferroviária - cheias de turistas e vans que os despejam - quebram este encanto, mas basta passear pelas ruas mais afastadas para nos depararmos com construções na arquitetura típica inca. Os várias canais de água de irrigação de outrora ainda funcionam e  acompanham o curso das ruas, dando um ar ainda mais rústico à cidade.
     
A Porta junto ao Templo dos Dez Nichos com vista sobre a cidade

         Ollantaytambo tem ainda um papel importante na História do Peru, pois foi palco de uma grande vitória inca sobre as tropas espanholas em 1537. Dominando a cidade está a Fortaleza Inca, cuja entrada fica a apenas três quarteirões da praça principal. Vista da entrada, essa ruína monumental me lembrou muito uma face de pirâmide escalando a montanha.

Ruínas no terraço junto à encosta

           Ingressamos na Fortaleza apresentando pela última vez o boleto turístico. O objetivo militar da Fortaleza era similar à de Pisac, guarnecer a entrada norte do vale (Pisac está na entrada sul). Da mesma forma,  a fortaleza foi construída também sobre uma garganta do rio Urubamba -  Ollantaytambo fica situada no rio Patacancha, a poucos metros da sua foz no rio que corta o vale. Após a entrada, fomos paulatinamente subindo a escadaria, parando em alguns dos 17 terraços para apreciar a vista e aprender mais sobre o local, aproveitando para recuperar o fôlego diminuído pela altitude.
 
A vista do Vale Sagrado a partir do terraço do Templo do Sol

         Logo nos terraços mais baixos já dá para visualizar na montanha do outro lado da cidade uma imensa face ranzinza esculpida na rocha , que os historiadores afirmam tratar-se de uma homenagem inca a Tunupa (nome do restaurante onde almocei naquele dia em Urubamba), mensageiro do deus Viracocha.

        Na parte mais alta das ruínas se localiza o Setor dos Templos, onde as atividades cerimoniais eram realizadas. Nos templos se sobressaem as pedras grandes perfeitamente encaixadas sem argamassa que também são vistas em Cusco e Machu Picchu. O grande destaque é um terraço no topo onde figuram seis enormes monolitos de granito rosado que formam uma parede do Templo do Sol, inacabado.

A montanha com a face esculpida no seu centro

        Enquanto apreciávamos a vista do Vale Sagrado desde o terraço do Templo do Sol, nossa guia Araceli nos contava que as pedras para a construção do Setor dos Templos foram trazidas a mando de Pachacútec de uma pedreira localizada a sete quilômetros nas montanhas do outro lado do rio. A operação de transporte teria incluído até a construção de um canal paralelo ao rio para trazer as pedras imensas.

Os terraços vistos do topo, com o Templo do Sol no topo à direita

        Visitadas as ruínas, chegou a hora de partir para Aguas Calientes. Incrivelmente, os cinco participantes do passeio pelo Vale Sagrado estavam divididos em três trens distintos. Os suíços partiriam imediatamente, eu iria pouco mais de uma hora depois e Tania, a moça mexicana, só sairia três horas mais tarde. Ela voltou à cidade, a cerca de 800 metros da estação ferroviária, e ficou passeando por lá até chegar a hora do embarque. 

O trem da Inca Rail que me levaria a Aguas Calientes

         Para se conhecer Machu Picchu, só existem dois meios para se chegar até lá. O primeiro, a Trilha Inca, é feito a pé num percurso que leva quatro dias; o outro é pela ferrovia. Pode-se sair de Cusco, num percurso de quatro horas de duração, ou da própria Ollantaytambo, no meio do trajeto. A viagem de Ollantaytambo a Aguas Calientes demora cerca de uma hora e meia e pode ser feita por duas companhias, a Peru Rail e a Inca Rail. Não permitem entrar nos trens com malas, por isso todos carregam somente bagagem de mão - no meu caso fiz todo o roteiro do Vale Sagrado com uma mochila, deixando minha mala no hotel de Cusco. 

         O meu bilhete era pela Inca Rail, com saída às 16:36 na classe executiva. Achei essa executiva  simples demais para o nome - poltronas razoavelmente confortáveis com uma mesa e um serviço oferecido por uma ferromoça que era composto de um saco pequeno de biscoitos ou batatas fritas e um suco. A viagem passou rápido, com o trem descendo o vale do rio Urubamba, em meio à vegetação abundante.

Vista de Aguas Calientes. À esquerda, o ponto final dos ônibus que sobem a Machu Picchu

           A partir deste ponto, começaram a aparecer surpresas no cumprimento do roteiro pela Viajes Pacifico. A primeira foi a inclusão de uma meia pensão não especificada no hotel em Aguas Calientes (super bem-vinda, é claro). A segunda foi o fato de dali em diante eu não ter a companhia de outros excursionistas. O grupo que começou com dezenas de pessoas nos city tours de Lima e Cusco, acabou no grupo do eu sozinho em Machu Picchu. 

            A terceira surpresa foi o hotel em que pernoitei em Aguas Calientes, o El Mapi. No roteiro impresso fornecido pela agência, vinha um texto pra lá de estranho: "A hospedagem em Machu Picchu/Aguas Calientes é simples, pois trata-se de uma vila. É importante salientar a simplicidade da infraestrutura hoteleira e de serviços". Diante de aviso tão veemente, estava esperando uma pocilga, ainda mais depois de ter tido ressalvas sobre a hospedagem em Cusco. Imaginem o meu espanto ao encontrar um hotel moderno, agradável, muito bem localizado, com um quarto pequeno mas confortável, contando com staff atencioso e onde saboreei um jantar delicioso que veio de brinde, composto por três pratos! Não tenho a menor ideia do porquê daquela informação impressa. 

A Avenida Pachacútec em Aguas Calientes, perto da entrada do hotel El Mapi

        Na estação de Aguas Calientes, o guia local estava me esperando para me conduzir a pé ao hotel. Nem precisava, o hotel ficava a uns 100 metros de distância na rua principal. O estranho é que para sair da estação ferroviária somos obrigados a passar pelo meio de um autêntico camelódromo. Após deixarmos o  "mercado", atravessamos uma ponte sobre o rio que termina bem na rua principal de pedestres, a Avenida Pachacútec, onde se concentra o comércio local e vários bares e restaurantes. Numa coisa o aviso impresso no roteiro estava certo: Aguas Calientes (cujo nome oficial agora é Machu Picchu Pueblo) é uma cidade pequena, praticamente composta de duas ruas paralelas ao longo do rio. A localidade, desprovida de atrativos exceto pelas piscinas de água quente que a batizam, vive da passagem dos turistas que sobem a montanha rumo às ruínas.

         Fui dormir ansioso com a visita do dia seguinte, onde finalmente estaria cara a cara com as ruínas de Machu Picchu, uma das sete novas Maravilhas do Mundo e assunto do último post sobre o Peru.

* Este é o sétimo post da série sobre o Peru. Para visualizar os demais, acesse Rumando ao Peru, a Terra dos Incas.


 Postado por  Marcelo Schor  em 01.05.2014 



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