Nos dias 4 a 7 de Dezembro, o nordeste transmontano recebeu um evento que prometia ser uma inspiração para o turismo nacional. Nos dois primeiros dias, em Bragança e em Mirandela, reuniram-se vários especialistas internacionais num fórum sobre turismo e novas tecnologias de comunicação e informação, apresentando novas formas de ver os espaços, as geografias, as cidades e o turismo. O objectivo era promover o desenvolvimento sustentável desta região, aprendendo com aquilo que de melhor se faz no mundo.
Nos dias 6 e 7, o evento promovia uma série de experiências que percorriam diferentes concelhos do nordeste transmontano e prometiam uma abordagem intimista como divulgação daquilo que melhor estes lugares têm para oferecer.
Na qualidade de bloggers de viagens fomos convidados para o evento e foi nessa qualidade que abraçamos este projecto. Uma visita ao nordeste transmontano estava há muito tempo na "calha" mas teimávamos em adiá-la. Estava na hora de rumar à Terra Fria e Terra Quente transmontana.
No dia 6 de Dezembro, depois de dormir magistralmente na Quinta da Porta, uma unidade de Turismo Rural na povoação de São Salvador, Mirandela, rumamos a Miranda do Douro. A neblina e gelo matinal faziam-nos desencorajar de levantar cedo. Apetecia-nos ficar presos à cama quentinha e aconchegadora. Depois de nos convencermos, levantamo-nos e enfrentamos os 0º C que se encontravam cá fora. A água da piscina exterior devia estar gélida mas num dia de verão deve fazer as delícias dos visitantes.
A viagem começou em Bragança, onde apanhamos uma carrinha do evento e partimos para explorar o concelho de Miranda do Douro. Paramos em frente às fragas de Miranda, bem de frente para o rio Douro. A neblina era tal que não se vislumbrava nada. O que se esconderia por trás daquele nevoeiro?
Recolhemos a um pequeno café momentaneamente e, apesar da neblina e do gelo do inverno, o dia clareou, o sol ergueu-se magistralmente no céu, iluminando a bela cidade de Miranda do Douro e aquecendo os corações daqueles que ousaram explorar a região. Exploramos as ruas empedradas de Miranda, contornando a muralha do castelo, visitando a belíssima Sé e a igreja do antigo Convento dos Frades Trinos. Esta última foi outrora pertencente a um convento barroco do século XVII, convento esse que foi construído pelos frades descalços da Ordem da Santíssima Trindade, com licença de Dom João V. A igreja foi depois construída entre 1718 e 1728, e alberga a Biblioteca Municipal desde 1999.
A neblina já tinha levantado e por trás dela via-se agora o magnífico vale do Douro Internacional. O rio Douro esculpiu aqui um vale encaixado, talhado nos xistos. Nada melhor do que descer à margem do rio e embarcar numa viagem ao longo do rio explorando esta dádiva da mãe natureza.
O passeio de barco dura aproximadamente uma hora, tempo esse ocupado a ouvir atenciosamente a explicação esclarecedora da jovem guia e a admirar a paisagem. O rio, por seu turno, percorre o seu caminho em direcção ao mar dando vida a um conjunto de povoações ribeirinhas.
Durante o nosso passeio de barco no Douro Internacional conseguimos avistar um grifo, aves necrófagas da família dos abutres, de grande porte, geralmente superiores a um ou dois metros. Os grifos podem voar grandes distâncias e planam em bandos, aproveitando as correntes térmicas ascendentes.
No final do passeio, o barco atraca novamente no porto e estava à nossa espera uma prova de vinho do Douro e uma exibição de aves rapinas da região.
Depois de um almoço magistral, com a tradicional Posta Mirandesa (que comemos tão rapidamente que nos esquecemos de fotografar) visitamos a Casa da Música Mirandesa, Museu da cidade e o centro histórico.
Antes de rumar ao castelo, um dos ex-líbris da cidade, visitamos o Mercado Rural Mirandês, uma feira agro-alimentar recheada de produtos tradicionais. Desta vez, a nossa mochila veio cheia de iguarias e enchidos nacionais: geleia de marmelo, chouriços, alheias, broa, queijos, etc. Quanto mais viajamos mais certos estamos: a melhor comida do mundo é a portuguesa!
Para alegrar ainda mais esta visita fomos abençoados com uma performance dos jovens pauliteiros de Miranda.
A viagem não parou. Com o sol a descer no horizonte, o céu estava cada vez mais azul e brilhante. Não havia tempo a perder. O castelo é um lugar de paragem obrigatória.
O castelo de Miranda do Douro foi edificado no reinado de D. Dinis, por volta de 1280. Os primeiros reis haviam dotado esta vasta região de unidades administrativas tuteladas por castelos românicos, denominadas Terras, que tinham por missão vincar a autoridade régia numa zona do reino que era notoriamente periférica. O castelo de Miranda de Douro apresentava uma planta no formato quadrangular, sendo as suas muralhas, em granito e xisto, ameadas e reforçadas nos três ângulos externos por cubelos, envolvendo uma praça de armas, actualmente reduzida a um amplo terreiro.
Numa visita a Miranda do Douro convém realçar a importância histórica desta cidade. Miranda do Douro foi uma das primeiras cidades portuguesas. Visando incrementar o povoamento e defesa do território, a povoação recebeu o foral em 1136. Desse modo, a povoação foi crescendo em torno do castelo. Muitas lutas foram travadas contra o reino de Leão e as terras de Miranda foram assoladas pelos leoneses, que só devolveram o castelo em 1213 e o foral da vila veio a ser confirmado em Coimbra, em 1217.
A viagem estava a terminar. Para contemplar o pôr-do-sol, que nesta altura do ano se recolhe bastante cedo, rumamos à Fraga do Puio, na aldeia de Picote. Não podíamos ter pedido melhor para concluir um dia bem passado na Terra Fria transmontana.
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