Miraflores, a beira-mar de Lima
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Miraflores, a beira-mar de Lima



O píer com o restaurante Rosa Náutica visto por entre as pastilhas da murada do Parque del Amor

          A Lima normalmente visitada pelos turistas pode ser dividida em duas grandes áreas: a primeira, o Centro, que abordamos no último post, transborda a história do Peru nas suas muitas casas coloniais que sobrevivem ao tempo. A segunda, a região da orla melhor representada pelo distrito de Miraflores, é o contrário - quase não tem traços de história. Bem cosmopolita e moderna, foi onde eu menos senti uma atmosfera peruana (e não necessariamente isto é uma coisa ruim). Para ampliar ainda mais esta diferença, a névoa característica de Lima estava sempre presente em Miraflores, mas sumiu durante o passeio ao Centro.

O Parque Kennedy com uma estátua do Touro de Pucará, astro de uma festa típica no interior peruano

           Quando reservei o pacote, fiz questão absoluta de me hospedar em Miraflores, e acertei na escolha. Miraflores é um distrito agradável, com várias atrações e jardins bonitos, onde podemos passear pelas ruas sem nenhuma preocupação até altas horas da noite. Fiquei hospedado no Hotel Sol de Oro, um quatro estrelas muito bom situado na Calle San Martín, uma rua calma a apenas dois quarteirões da rua principal do distrito, a Avenida Larco, onde estão várias casas de câmbio. O hotel está situado ainda perto da orla e do Parque Kennedy, a praça maior de Miraflores, onde existem filiais de lojas de departamentos como a Saga Falabella.

A avenida costeira vista do Shopping Larcomar

        Hoje um bairro bem extenso da metrópole gigantesca que é Lima, Miraflores já foi um povoado à beira-mar e ganhou até a alcunha de "Cidade Heroica" devido a uma batalha travada durante a Guerra do Pacífico nos anos 1880. Lima foi ocupada no final da batalha pelos chilenos e a guerra culminou com a derrota fragorosa do Peru e a perda de território considerável  para o Chile. Foi nesta mesma guerra que a Bolívia, a outra derrotada, perdeu para sempre sua saída para o mar.

Os rochedos de Miraflores

            Aliás, a divisão de Lima em distritos implica em que ruas do centro de Lima e de Miraflores podem ter o mesmo nome - ao falar o nome de uma rua ao taxista, sempre informe o distrito, para não ir parar num lugar distante do que desejava.

A murada do Parque del Amor

           Falar que Miraflores se situa à beira-mar chega a ser impróprio. Na realidade, o distrito acaba num precipício dezenas de metros acima da praia. Separando este barranco do mar existe uma estreita faixa onde corre a avenida litorânea. Curiosamente, o precipício batiza o distrito contíguo, Barranco, famoso por sua vida noturna.

Os belos jardins floridos do Parque del Amor

           A atração mais conhecida de Miraflores tem ares de Barcelona - o Parque del Amor. Seus bancos e muradas constituídos de pastilhas coloridas em mosaico lembram muito o Parque Güell do gênio Gaudí na capital catalã. O parque inaugurado em 1993 na beira do barranco tem vistas espetaculares para toda a orla de Miraflores e abriga ainda uma escultura apropriada para o tema do parque, batizada de "El Beso" ("o beijo"). É um dos points favoritos de namorados que vêm apreciar o pôr-do-sol.

"El Beso", do escultor Victor Delfín, enfeita o Parque del Amor

        A orla de Miraflores entretanto é muito mais que o Parque del Amor. Ruas com nomes diferentes formam o Malecón, a avenida de prédios altos que acompanha o barranco, separada dele por jardins. Passear por estes jardins e pelo Malecón foi um programa ótimo na tarde livre que tive em Lima. Caminhei desde o shopping Larcomar até o Faro de La Marina. O farol foi construído em 1900 para guiar as embarcações ao longo da costa e ainda funciona.  Além de apreciar a vista e os desenhos das flores (um deles com o formato das famosas Linhas de Nazca do sul peruano), me diverti com as acrobacias dos parapentes abundantes no local.

O Farol de La Marina em meio aos jardins e aos parapentes de Miraflores

        Larcomar, o shopping em espaço aberto que também é uma atração turística, fica debruçado sobre o penhasco, disperso por três terraços repletos de lojas e restaurantes com vista bacana.  Depois de conhecer as ruínas incas na região de Cusco, sempre dispostas sobre as encostas mais improváveis, não pude deixar de efetuar um paralelo entre a disposição deste shopping e a das ruínas.

O Shopping Larcomar debruçado sobre o penhasco

       Incrustada no meio do casario de Miraflores se encontra uma pirâmide que ocupa uma grande parte de uma área de seis hectares a nove quadras do Parque Kennedy. Trata-se de Huaca Pucllana, um sítio arqueológico pré-inca construído em tijolos de adobe (portanto totalmente diferente das construções incas, em pedra). Huaca era um centro cerimonial e administrativo até o ano 700 d.C. O conjunto está aberto a visitação e conta ainda com manequins espalhados recriando antigos rituais, que incluíam até sacrifícios humanos no topo da pirâmide.

         Para quem se interessa por estas atividades dos tempos anteriores aos incas, uma visita imprescindível é o Museu Larco Herrera. Este museu arqueológico é uma das raras atrações que fogem do eixo Miraflores-Centro, sendo considerado por muitos o melhor museu em Lima. Situado no bairro de Pueblo Libre, o museu é especializado em arte pré-colombiana do Peru, abrangendo mil anos de história e contando até com uma seção de arte erótica.

Huaca Pucllana

          Não posso encerrar o post sem mencionar o lado gastronômico de Lima, pelo qual a cidade é reconhecida internacionalmente. Apreciei desde um  frango em rodelas recheadas de batata com fondue de milho no ótimo Mangos, um restaurante com vista magnífica no Larcomar, até um prosaico lomo pobre, um dos pratos mais populares dos países andinos, constituído de bife, ovo, arroz, batatas e banana fritas, numa lanchonete do Parque Kennedy. Ambos estavam deliciosos e os preços nem foram tão diferentes entre si (entre 25 e 45 soles - cada dólar valia 2,65 soles). Aliás, Miraflores conta com um restaurante bem famoso pela localização, o Rosa Náutica, especializado em peixes e ceviche e plantado num píer que avança Pacífico adentro, visível de toda a orla do barranco. Outro local que dizem ser ótimo para jantar é o restaurante da  própria Huaca Pucllana, onde se pode apreciar as ruínas iluminadas enquanto se degusta as especialidades da culinária peruana.

Variedades de batatas sem fim no supermercado limenho

        E já que falei em comida, uma constatação surpreendente foi adentrar um supermercado em Miraflores e me deparar com uma bancada longuíssima com inúmeras variedades de batata, o tubérculo originário do Peru sempre presente nas receitas locais. Haja batata! Mais tarde numa visita ao Vale Sagrado descobriria que essa diversidade também se aplica ao milho...

          No próximo post, se inicia a melhor parte da viagem - Cusco, porta de entrada para Machu Picchu.

* Este é o terceiro post da série sobre o Peru. Para visualizar os demais, acesse Rumando ao Peru, Terra dos Incas.

 Postado por  Marcelo Schor  em 28.03.2014 



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