Localizada em um golfo na costa oeste da Córsega, a mais moderna e eclética das cidades corsas é parada habitual de cruzeiros. Ajaccio tem atrativos que merecem atenção, mas infelizmente não pude conhecê-los completamente. Acabei ficando muito menos tempo do que tinha planejado, graças à inundação em Ponte Leccia, descrita no último post, que me roubou uma noite de estadia. Desta forma, me restou somente meio dia para conhecer a cidade, tempo insuficiente para o que eu tinha em mente.
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A muralha de Ajaccio margeando a cidade antiga |
Um passeio a pé por Ajaccio pode começar pela cidade antiga genovesa, com seus edifícios com tonalidades pastel nas ruas estreitas que desembocam no mar ou na fortaleza. Aliás, a
fortaleza construída no século XV é uma exceção entre as cidadelas muradas da Córsega, pois com o uso militar até os dias de hoje, tem acesso vedado aos pobres mortais, só nos restando apreciar a vista externa - muralha, fosso e torres de vigilância.
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Cartaz divertido diante do bar ao lado da Maison Napoléon |
Apesar da sua área pequena, a cidade antiga conta com dois prédios importantes para a História. O primeiro, a
Maison Napoléon, localizada numa transversal a alguns passos da rue Bonaparte, é o local onde Napoleão nasceu e viveu até os nove anos, quando foi para a França ingressar em uma academia militar. Anos depois, durante a Revolução Francesa, sua família foi expulsa pelos partidários de Pasquale Paoli, mas sua mãe Letizia Bonaparte acabou restaurando a casa após a ascendência de Napoleão ao poder. Hoje lá se situa um museu que reproduz a residência da infância do imperador, com mobília, pinturas e esculturas da época.
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A Catedral de Ajaccio |
A poucas quadras de distância fica a
Catedral, praticamente diante do mar e ocupando um prédio despretensioso em estilo barroco. Construída em 1593, foi o local onde Napoleão foi batizado aos dois anos de idade. Tendo nascido em agosto de 1769, já faziam três meses que a França havia anexado a Córsega após uma batalha perdida pelas tropas de Pasquale Paoli. Fico imaginando como a História da Humanidade teria se alterado se Paoli tivesse ganho o combate e a Córsega tivesse se mantido independente, com Napoleão tendo nascido e crescido com nacionalidade corsa...
Era um dia surpreendentemente quente para o outono, e com a temperatura chegando aos 27 graus, vários banhistas ocupavam a
Plage St.François, em frente à Catedral. Era a primeira praia que eu via "habitada" desde que tinha chegado à Córsega cinco dias antes - as praias de Calvi e Île Rousse tinham estado desertas, num cenário meio desolador. A caminhada pelo calçadão da praia desde a Cidadela, acompanhando a sucessão de prédios no estilo da Riviera, é um dos passeios mais agradáveis para se fazer em Ajaccio, seja de dia ou ao anoitecer.
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Napoleão romano e seus quatro irmãos |
Perto da Catedral fica a
Place De Gaulle. Não se engane, pois apesar do nome seu monumento principal também homenageia Napoleão, numa estátua em trajes de imperador romano. Ele está ladeado por seus quatro irmãos, que ao longo do seu domínio pelo continente se tornaram regentes de diversos países, entre eles Holanda, Espanha e Itália. Dos terraços da praça, não perca a vista para a praia e o mar.
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O trenzinho de Ajaccio aguardando o embarque de turistas na Place Foch |
Outra estátua de Napoleão não poderia faltar na praça principal da cidade, a agradável
Place Foch, ladeada por palmeiras e que sedia um mercado todas as manhãs. É dessa praça que sai o
petit train, o trenzinho turístico de Ajaccio, com dois circuitos disponíveis. Paguei €10 e embarquei no mais longo, que, além de passar pela maioria dos pontos de interesse, faz duas paradas ao longo do trajeto de 1h45min de duração. A primeira é a
Place d'Austerlitz, onde uma terceira estátua de Napoleão domina o topo de uma rampa com escadaria, usando seu chapéu característico na pose clássica, mas com a mão errada, a esquerda, sobre o estômago. O monumento está em linha reta com a Place Foch e fica no final da rua que corta um dos bairros mais famosos de Ajaccio, o
Quartier des Étrangers, que conta com prédios imponentes como o da Assembleia corsa e do Liceu.
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O monumento a Napoleão na Place d'Austerlitz |
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A Assembleia da Córsega, originalmente um hotel, com seus belos jardins |
A segunda parada do trenzinho é em
Pointe de la Parata, uma ponta situada no encontro do golfo com o Mar Mediterrâneo, a 12 quilômetros de distância do centro. Uma torre genovesa domina o promontório (aliás, contei nove delas ao longo da costa no mapa das cercanias de Ajaccio), mas o interesse maior é nas ilhas que se localizam em frente, as
Ilhas Sanguinárias, cujo nome deriva da cor vermelha do seu solo.
O cenário fica particularmente bonito no horário do pôr do sol. Ao contrário da parada anterior, aqui o tempo de permanência foi claramente insuficiente; gostaria de ter podido caminhar até a ponta abaixo da torre para obter uma vista mais próxima das ilhas. Um modo alternativo de avistar as Sanguinárias é fazer o passeio de barco a partir do porto de Ajaccio
Falando em passeios de barco, vários estão disponíveis no porto, entre eles o que visita as Calanques de Piana e a Reserva de Scandola no noroeste da Córsega, região que é Patrimônio da Humanidade pela Unesco. Não tendo podido conhecê-las durante a minha estadia em Calvi, cheguei a pensar em substituir a visita a Corte no dia seguinte por esse cruzeiro, mas a vontade desapareceu quando consultei a internet e verifiquei que a previsão para lá era de chuva.
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A silhueta das Ilhas Sanguinárias e da torre genovesa |
O trenzinho volta pela rota das praias, fazendo no final um ziguezague completamente desnecessário pelas ruelas da cidade antiga, a poucos passos de distância do ponto de partida e de chegada, a Place Foch. Após desembarcar, já com a tarde avançando, percorri a
Rue du Cardinal Fesch, a rua de pedestres mais conhecida de Ajaccio, e com uma aparência mais italiana, totalmente diferente da área da Place Foch, onde começa. Meu destino era o
Palais Fesch, antiga residência do cardeal que era tio de Napoleão, mas poucos anos mais velho que ele. O Museu de Belas Artes que ocupa o palácio construído em 1827 detém hoje a maior coleção de pinturas italianas na França após o Louvre. Um programa excelente para o restante da tarde. Originalmente pretendia prosseguir nesse circuito cultural, mas infelizmente já estávamos fora do verão e os museus fechavam mais cedo, me impedindo de conhecer ainda o
Museu A Bandera, focado na história da Córsega.
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Rue du Cardinal Fesch |
O dia seguinte foi dedicado à ida às montanhas para visitar Corte, a antiga capital da Córsega independente. Este é o assunto do próximo post.
* Este é o quinto post da série sobre a Córsega. Para visualizar os demais, acesse Córsega, a bela ilha no Mediterrâneo.
Postado por Marcelo Schor em 09.01.2016
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