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A Calçada do Gigante |
Quando saí satisfeito da visita à Ponte de Carrick-a-Rede, descrita no
último post
, já estávamos no início da tarde. Mas o melhor ainda estava por vir. Após viajar por alguns quilômetros, o ônibus entrou por uma estradinha rumo à Calçada do Gigante e parou num pequeno restaurante, o Chilly McCools. Uma das diferenças entre a excursão à Irlanda do Norte da Paddywagon Tours e as demais que pesquisei era justamente essa: o almoço fora da Calçada – há várias companhias que usam o tempo na Calçada para que os turistas também almocem por lá. Particularmente não gosto desta última opção; acaba roubando tempo precioso da visita e ainda fico preocupado em dividir o tempo entre visita e refeição. O almoço foi rápido (como tem que ser em excursões bate-volta) com comida apenas razoável, chicken pie – de torta não tinha nada, era um ensopadinho de frango com purê de batatas e legumes, a um bom preço. O curioso é que tanto o restaurante quanto a Paddywagon dividem o mesmo símbolo, o leprechaun, o duende irlandês de barba ruiva sempre vestido de verde, especialista em traquinagens.
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Esta é a vista no início da descida em caminhada rumo à Calçada |
Rumamos a seguir para a atração que motivou a excursão, a Calçada do Gigante ou Giant’s Causeway no idioma original inglês. O que posso falar? É um dos lugares mais extravagantes e extraordinários que já visitei. Todos ficam maravilhados com a capacidade da natureza em surpreender. É difícil de acreditar que aquelas pedras maravilhosamente moldadas em forma geométrica e dispostas lado a lado parecendo um quebra-cabeça enorme não foram feitas por mãos humanas.
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O cenário fascinante durante a caminhada à Calçada, que aparece no fundo da foto |
A Calçada é um conjunto bizarro de rochas de basalto moldadas pela natureza à beira-mar. O conjunto das pedras cinza no chão com o mar e as gargantas profundas e erodidas que envolvem a praia torna o lugar absolutamente mágico; pena que está sempre infestado de turistas, que se divertem caminhando entre as pedras. Curioso é uma espécie de trono formado pelas pedras, batizado de Cadeira dos Desejos - faça o seu quando estiver sobre ela.
Os poliedros de rocha têm número de lados variável, a maioria possuindo seis. Se originaram da rapidez do esfriamento da lava que surgiu de uma fissura subterrânea e cobriu o lugar há 60 milhões de anos, formando cerca de 60 mil colunas de basalto espalhadas pela área.
O imaginário popular irlandês traçou uma origem bem mais divertida: o lugar teria sido construído por Finn Mc Cool (daí o nome do restaurante onde almocei), um gigante, guerreiro mitológico defensor da Irlanda e protagonista de várias lendas. Mc Cool teria colocado as pedras encaixadas no oceano para estabelecer um caminho até a Escócia e lutar contra outro gigante, o escocês Benandonner. Mas após desafiá-lo, olhou o tamanho do oponente, mudou de ideia e se refugiou apavorado na sua casa irlandesa. Sua esposa esperta Sadhbh o disfarçou de bebê e o colocou num berço. Quando o gigante escocês chegou para a contenda, Sadhbh lhe informou que o marido estava ausente e lhe apresentou o "bebê". Benandonner imaginou como seria o pai e fugiu correndo. Na pressa, o caminho de pedras no mar teria sido então destruído, só restando as extremidades que hoje são a Calçada na Irlanda do Norte e a Caverna de Fingal (versão escocesa do nome Finn) na ilha de Staffa, na costa da Escócia. Lenda à parte, a Caverna possui estruturas muito semelhantes às da Calçada, o que nos deixa com a pulga atrás da orelha - teria o caminho existido algum dia?
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Visitantes admiram a área conhecida como "Favo de Mel" da Calçada do Gigante |
Desta vez o ingresso de 8,50 libras esterlinas cobrado pela National Trust estava incluído no pacote. O acesso está aberto do amanhecer ao pôr do sol. A Calçada fica um pouco distante do Centro de Visitantes, onde o ônibus nos deixou. É cerca de um quilômetro por uma caminhada em descida em meio a um cenário muito bonito, entre os penhascos e o mar. Quem não quiser enfrentar a subida na volta, um miniônibus liga o Centro à Calçada por módica 1 libra. Chegando lá, é bem divertido percorrer todo o terreno pulando de pedra em pedra. É interessante que seis dias depois, lá estaria eu novamente pisando em pedras à beira-mar, na linda Janela Azul em Malta - acesse o post aqui. Os dois cenários exóticos têm em comum o fato de terem servido de locação para o seriado Game of Thrones (com tantos cenários da série visitados, esta minha viagem à Europa bem poderia ter tido o título de "Seguindo a trilha do Game of Thrones"...).
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A elevação de pedras conhecida como Cadeira dos Desejos |
Como a subida não era muito pesada, encarei a ladeira e retornei a pé mesmo. Foi hora então de percorrer o Centro de Visitantes, onde uma exposição bem interessante detalha a origem vulcânica da Calçada, comparando-a com outros lugares impactantes como os vulcões da Islândia. Uma maquete da região ajuda a perceber a grande extensão da costa por onde estão dispersas as rochas poligonais.
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Os altos penhascos debruçados sobre a Calçada do Gigante |
Já no retorno a Belfast, bem perto da Calçada, fizemos uma parada rápida para fotografar de longe o
Castelo de Dunluce, contra a luz do sol. Este castelo, hoje em ruínas, foi erguido sobre um precipício no século XIV e abandonado em 1641, após parte do terreno ruir no mar.
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As ruínas do Castelo de Dunluce |
A última parada do dia, já ao entardecer, foi na capital Belfast. Esta foi a parte decepcionante da organização da excursão. O ônibus nos deixou na Donegall Square, onde está localizada a prefeitura, e tive somente uma hora para dar um giro a pé pelo centro da cidade. Os jardins da Prefeitura estavam tomados por uma quermesse, o que fez a alegria daqueles participantes da excursão que não queriam andar muito, e me exasperou, pois as barraquinhas tapavam quase que completamente o belo prédio de estilo renascentista, impedindo-me de tirar boas fotos.
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A Prefeitura de Belfast |
Não tinha muitas expectativas com relação a Belfast (o pouco que vi confirmou a impressão inicial, a cidade não parece ter grandes atrativos), mas esperava ao menos que o tour passasse diante do Titanic Museum, que tem uma belíssima fachada simulando a proa de um navio. Este museu foi inaugurado no ano do centenário da tragédia, 2012. Erigido no local do estaleiro onde o transatlântico de triste memória foi montado, o museu apresenta exposições sobre o navio e sua construção. Para aumentar ainda mais o desapontamento com a parada em Belfast, o guia mencionou o Titanic muito rapidamente.
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A escultura "Spirit of Belfast" na Arthur Square |
Para quem tem interesse em conhecer melhor Belfast, há tours específicos saindo de Dublin que passam o dia na capital norte-irlandesa. Os tours incluem tempo para um passeio opcional pela área mais atingida pelos conflitos entre católicos e protestantes nas décadas passadas, com os muros conservados com pichações e grafites da época que contêm mensagens políticas.
Postado por Marcelo Schor em 06.04.2015
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