Passeio no trem do White Pass em Skagway
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Passeio no trem do White Pass em Skagway



Os vagões de madeira da White Pass & Yukon Route Railway

       Desde as primeiras pesquisas que tinha feito sobre Skagway, já tinha me decidido fazer sua excursão mais concorrida, a que sobe as montanhas que cercam a cidade e atravessa o desfiladeiro do White Pass. O problema é que fica difícil escolher, pois o passeio é oferecido de várias formas: por trem ou por ônibus (ou ambos), somente até a fronteira com o Canadá ou percorrendo os lagos canadenses, ou então tudo isto combinado com alguma outra coisa. Tempo havia, o navio ficou ancorado em Skagway por mais de 12 horas, a parada mais longa de todas. Decidimos visitar a cidade pela manhã, conforme contei no último post, e após almoçarmos  embarcamos no trem do White Pass, que nos pareceu o jeito mais pitoresco de conhecê-lo.

O trem passa por uma ponte sobre o rio Skagway

         A excursão que escolhemos incluía uma extensão, uma visita à Yukon Suspension Bridge. Subimos a montanha por trem e descemos por ônibus. Como a ponte já se localiza no Canadá, tivemos que levar nossos passaportes, que pegamos na véspera no balcão do navio (os passaportes de algumas nacionalidades ficam retidos com a tripulação durante o cruzeiro). Não tivemos qualquer problema na fronteira, a verificação do passaporte e visto na ida foi feita por guardas canadenses ainda dentro do trem em movimento, e na volta para os Estados Unidos nem chegaram a olhar os passaportes quando foram informados que o ônibus trazia excursionistas do Disney Wonder em retorno ao transatlântico.

O vale se aprofunda em meio às montanhas nevadas (e enevoadas)

         A linha de ferrovia, oficialmente chamada de White Pass & Yukon Route, foi  concebida em 1897, quando estourou a Corrida do Ouro no Klondike. Na época mais de 100.000 pessoas foram testar sua sorte arriscando sua vida na travessia do Passo e consequente descida pelo rio Yukon até chegar à região do garimpo, num trajeto de mil quilômetros. A construção da ferrovia demorou três anos, e quando foi inaugurada em 1900 a febre do ouro já estava se encerrando (dezenas de milhões de dólares foram gerados para pagá-lo). A ferrovia acabou sendo utilizada nas décadas seguintes para o transporte do minério explorado  desde as minas até o porto. Décadas depois, no início dos anos 80, as minas foram fechadas por já estarem obsoletas e a ferrovia teve o mesmo fim, mas em 1988 foi reaberta em parte do trajeto como passeio turístico, reforçando a inserção de Skagway nas rotas dos cruzeiros.

O trem se aproxima do White Pass

      A ferrovia original ligava Skagway a Whitehorse, capital do Yukon, num trajeto de 110 quilômetros, e pelas dificuldades enfrentadas na construção do seu trecho inicial até o White Pass - solo difícil,  grande inclinação, curvas acentuadas e tempo inclemente - foi considerada um marco na história da Engenharia. 

        Hoje algumas das suas viagens contam com um atrativo adicional, os vagões são puxados por uma maria-fumaça. Não demos essa sorte, a locomotiva era a diesel. Embarcamos no vagão de madeira em Skagway, e para minha desolação, o lado esquerdo da composição já estava tomado de turistas. Este é o lado que acompanha o desfiladeiro em todo o trajeto até chegar ao White Pass, e portanto, detém as melhores tomadas fotográficas. As fotos deste trecho que aparecem no post foram tiradas na varandinha que conecta os vagões, sob um vento cortante e gélido; é, turista sofre... Xinguei bastante em pensamento a organização da excursão do navio por não ter partido mais cedo e termos pegado um lugar melhor. Este trecho de subida da serra tem a extensão de 32 quilômetros e ascende a 832 metros, passando por diversas pontes sobre o despenhadeiro e atravessando dois túneis. As ruínas de uma ponte hoje desativada também chamam a atenção. A paisagem florestal com o desfiladeiro cercado por montanhas e o rio Skagway correndo no vale estreito é bem bonita, mas fiquei pensando que já tinha visto este cenário algumas outras vezes.




A desolada e bonita paisagem do Tormented Valley

             Tudo mudou quando alcançamos o White Pass, que serve de fronteira entre Estados Unidos e Canadá. Adentramos um vale que leva o terrível nome de Tormented Valley e o cenário mudou radicalmente. As florestas cederam vez à vegetação rara e rasteira, a paisagem assumiu ares de deserto e bolsões de neve passaram a aparecer nas margens do rio. Lindo! Depois, a paisagem sofreu nova alteração com a chegada a uma região de lagos, que me fez lembrar da rodovia que une Banff a Jasper, nas Montanhas Rochosas canadenses.

O trem parado em Fraser, já no Canadá

        Após um trajeto de 45 quilômetros realizado em uma hora e meia, deixamos o trem na localidade de Fraser, à beira de um lago. Seguimos por ônibus em percurso curto até chegarmos à Yukon Suspension Bridge. Fiquei decepcionado porque a ponte na realidade não ficava no Território de Yukon (ainda estávamos na Colúmbia Britânica, bem perto da fronteira com o território) nem atravessava o rio Yukon. De onde saiu esse nome enganador - marketing??

        Verdade seja dita, a ponte em si não tem nada de especial, além de estar situada numa área de natureza privilegiada. Na entrada do complexo, um mapa-múndi com alfinetes indicava a procedência dos visitantes. Maioria absoluta de americanos, com surpreendentes poucas marcações de canadenses. Colocamos cinco alfinetes no Rio de Janeiro, que se juntaram às poucas representações brasileiras e seguimos o caminho para conhecer a ponte.

A Yukon Suspension Bridge

      A ponte suspensa 18 metros acima do rio Tutshi (pronunciado tutxái) tem comprimento de 61 metros, sendo constituída por cabos. Sua construção foi tão complicada que necessitou de um helicóptero para içar suas extremidades. Após uma caminhada curta, atravessamos a ponte curtindo o visual do rio abaixo. A temperatura estava ótima para a altitude, 10 °C sem vento, causando uma certa falta de emoção na travessia da ponte - o balanço foi quase nulo. Muito menos impactante que a caminhada pela  provocativa Carrick Bridge na costa da Irlanda do Norte, que conheci um ano atrás.

         A trilha até a ponte é recheada de placas com informações sobre a geografia e a fauna da região e o complexo conta com um bar, onde descansamos esperando a hora de voltar ao ônibus - o tempo de uma hora dado pelo guia foi mais do que suficiente para conhecer a área.

Foto do rio Tutshi obtida do meio da ponte 

         O trajeto de volta passou novamente pelo Tormented Valley, percorrendo uma área sujeita a avalanches. Por causa do perigo de deslizamento de neve, os postos de fronteira dos dois países são separados por muitos quilômetros, criando uma espécie de terra de ninguém. Após a fronteira, o ônibus seguiu por uma rodovia que desce o desfiladeiro na margem oposta da linha do trem, que pôde ser avistado ao longe subindo a montanha. Chegamos em Skagway no fim da tarde, satisfeitos com o passeio.

Um aviso à beira da rodovia nos lembra dos perigos que rondam o Tormented Valley

            Um conselho final, não faça o passeio de trem que só vai até o White Pass, junto à fronteira; a parte mais exótica do trajeto está no Canadá.

           No próximo post, a segunda parada do cruzeiro, na capital do Alasca, Juneau.

* Este é o quarto post da série sobre o cruzeiro ao Alasca. Para visualizar os demais, acesse  Navegando pela costa do Alasca.

 Postado por  Marcelo Schor  em 16.08.2015 



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