Juneau, a capital aos pés de uma geleira
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Juneau, a capital aos pés de uma geleira


Mendenhall Glacier e Lake, em foto tirada no Centro de Visitantes

         Ao contrário do que muitos pensam, a capital do Alasca não é sua maior cidade, Anchorage, e sim Juneau. Uma capital americana bem diferente: completamente isolada do resto do continente por terra, só podendo ser alcançada por mar ou ar. A cidade tem dois momentos bem distintos ao longo do ano: durante os meses úteis, Juneau assume um ar sério, com os funcionários públicos e parlamentares trabalhando engravatados; já nos meses de verão, eles dão lugar às hordas de turistas que desembarcam dos navios para conhecer a geleira de mais fácil acesso em todo o Alasca, Mendenhall Glacier. Pois é, Juneau também difere de outros portos por se situar praticamente aos pés de uma enorme massa de gelo. 

A rua do comércio em Juneau, Franklin Street

        Hoje com 32.000 habitantes, Juneau foi fundada em 1880 e já em 1906 foi nomeada capital do Alasca numa época em que se situava no centro econômico do então território, devido à exploração do ouro (veja o post sobre Skagway para se aprofundar no assunto). No século XX, especialmente com a descoberta do petróleo, o eixo econômico se moveu para a região mais ao norte, e os alasquianos pressionaram bastante para a capital se mudar para perto de Anchorage. A transferência foi aprovada e se iniciou seu planejamento no fim da década de 70, até o momento em que foi apresentada aos contribuintes a conta astronômica do projeto. Desistiram na hora e nunca mais se mencionou o assunto. 

        Juneau em si é uma cidade pitoresca com poucas atrações nos seus limites urbanos. O centro inclusive é bem pequeno, espremido entre a montanha e o canal Gastineau. Achei curiosa a grande quantidade de carros nas ruas para uma cidade que não se conecta a lugar nenhum, mas depois constatei que a área urbana se esparrama bastante pelo vale, o que torna necessário o uso do automóvel.

A Igreja Russa de São Nicolau em Juneau

            No centro urbano, como construção notável só a Igreja de São Nicolau, construída há 120 anos em estilo russo com um pequeno cume em formato de cebola para atender à comunidade ortodoxa da capital; não podemos esquecer que o Alasca pertenceu à Rússia até 1867, quando foi vendido aos Estados Unidos. Para rememorar ainda mais essa época, matrioshkas - aquelas bonequinhas russas encaixadas uma dentro da outra - são vendidas nas lojas de suvenires de Juneau. Outra atração que deve ser legal é o Alaska State Museum, focado em artefatos da história do Alasca, especialmente dos povos nativos da região e dos esquimós.  Para minha decepção, o museu está fechado até 2016, quando reabrirá em novo prédio. Fiquei curioso em conhecer o State House Capitol, o Centro de Governo do Alasca, mas com exceção do pórtico de entrada com quatro colunas de mármore, achei a construção bem inexpressiva, nem parecia sede do Poder de um estado. Outra construção que não aparenta sua importância é a Catedral católica, mostrada na foto abaixo. Segundo a Wikipedia, deve ser a menor da América do Norte.

A Catedral da Natividade de Juneau, edificada em 1910 a meia quadra da Igreja Ortodoxa

       A estadia do navio em Juneau não foi tão longa quanto em Skagway, o Disney Wonder zarparia às 16h45min. O navio ainda aportou longe, mas havia um shuttle ligando-o ao centro da cidade. Nosso planejamento para Juneau consistia em pegar uma excursão para o Mendenhall Glacier pela manhã e passear pela cidade à tarde. Tínhamos planos para a tarde de também subir por teleférico ao Mt. Roberts para apreciar a vista da cidade e do canal a partir do seu mirante, mas desistimos devido ao mau tempo. Havia outras atividades em excursões oferecidas aos viajantes, como um passeio de barco para avistamento de baleias ou visita a um criadouro de salmões. Preferimos nos ater somente à geleira para poder conhecer melhor a capital. 

A maquete nos mostra a imensidão do Juneau Icefield. O ponto destacado é o Centro de Visitantes junto ao Mendenhall Lake. Juneau aparece mais abaixo, junto ao canal. 

        O Mendenhall Glacier está situado a apenas 19 quilômetros do centro de Juneau. Já esteve ainda mais perto, pois vem encolhendo bastante nas últimas décadas. A área do glaciar também faz parte da Tongass National Forest, o extenso parque florestal que engloba a maior parte do sudeste do Alasca, desde Ketchikan até Skagway.

       Quem olha o glaciar ao longe não tem ideia da área enorme que o gelo ocupa por trás nas montanhas, conforme mostrado em maquete no Centro de Visitantes, na entrada do complexo (foto acima). A geleira, que também tem 19 quilômetros de extensão, é a parte que conseguimos vislumbrar do Juneau Icefield, que se espalha por 4.000 km².

A trilha que leva a Mendenhall Glacier e Nugget Falls

        O Centro de Visitantes fica logo na entrada do parque, e vale a pena conhecê-lo (para quem chega ao complexo por conta própria, não é cobrado ingresso no parque, mas o acesso ao Centro de Visitantes é pago, com taxa de US$ 3). Além de termos uma vista do glaciar ao longe a partir de  um ângulo superior e mais abrangente, aprendemos mais sobre as geleiras do Alasca e sua formação através de uma exposição e de um filme com duração de 15 minutos. O recesso que vem acontecendo me impressionou: há 70 anos não existia o lago que separa o Centro de Visitantes da geleira - o lago surgiu com o progressivo encolhimento da massa de gelo.

Mendenhall Glacier desde o fim da trilha

        A partir dali, há diversas trilhas de caminhada pelo parque, que passam pelo lago e por rios com salmões descendo a correnteza durante a primavera e subindo no outono para procriação. A vista da geleira a partir do Centro de Visitantes já é impactante, mas uma trilha de caminhada fácil de meia hora nos leva a chegar bem perto do gelo. E aparece uma surpresa junto ao glaciar, as Nugget Falls, uma cascata que cai 115 metros numa torrente desde outro glaciar, o Nugget Glacier, para o lago. A trilha termina em um banco de areia, de onde se obtém as melhores fotos das duas atrações da natureza. O jorro da cascata dá um contraste impressionante na vista da geleira, tornando-a ainda mais bonita. Fico a imaginar como devia ser quando não existia o lago, com a cascata caindo direto no gelo...

Nugget Falls: impossível não se molhar para conseguir uma boa foto

        Uma última observação: para quem não comprou excursão, há ônibus a cada meia hora para o Mendenhall Glacier que normalmente saem do terminal em frente ao teleférico e cobram bem mais barato, com a vantagem de você ter maior flexibilidade no seu horário. Pena que só descobri isto depois de termos reservado o passeio... 

         No próximo post, a última parada do cruzeiro, Ketchikan.

* Este é o quinto post da série sobre o cruzeiro ao Alasca. Para visualizar os demais, acesse  Navegando pela costa do Alasca.



 Postado por  Marcelo Schor  em 25.08.2015 





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