Um dia no Luberon - Roussillon e Lourmarin
Viagens

Um dia no Luberon - Roussillon e Lourmarin


Roussillon, a vila provençal em tons de ocre

         Reservei o último dia da minha estadia em Aix-en-Provence para visitar os recantos do  Luberon. A reserva natural do sul da França estava na lista de lugares a conhecer desde que o meu colega de blog Vinicius escreveu há quatro anos o post sobre suas cidades, um dos campeões de audiência do Álbum de Viagens.

          Porém meu passeio iria diferir do feito pelo Vinicius em dois aspectos importantes. Primeiro, o Vinicius viajou em pleno junho, época de floração da lavanda. Enquanto no verão os campos provençais são enfeitados por aquela cor púrpura fantástica, em outubro a lavanda é uma planta verde como outra qualquer. Segundo, ele fez o passeio todo de automóvel por conta própria, enquanto eu adquiri uma excursão com a Tylene Tours na internet. 

A localização das paradas no mapa do maciço do Luberon

           Às nove e meia em ponto nosso guia Renault (ele fez questão de frisar que seu nome se pronunciava como o do carro, portanto vou grafar desse jeito) apareceu na Place Rotonde e ao saber que eu era do Rio de Janeiro já soltou uma pérola: "So you are a carioco!!".  Difícil foi explicar que a palavra carioca servia para ambos os gêneros... Logo eu e mais outros excursionistas de países variados como Estados Unidos, Índia e Inglaterra entramos na van e ela partiu. Renault, que também era o motorista, explicou que íamos conhecer ao longo do dia cinco localidades espalhadas pelo Luberon, um maciço situado ao norte de Aix-en-Provence, conhecido pelos seus vilarejos idílicos. 

Parada: Lourmarin

          Esta pequena e encantadora vila de pouco mais de mil habitantes foi nossa primeira parada. Albert Camus, escritor francês ganhador do Nobel de Literatura, a escolheu para residir e está enterrado no cemitério local. Outro que vive por aqui é o inglês Peter Mayle, autor de diversos livros que se passam na Provença e ajudaram a divulgar a região, dos quais um virou filme em Hollywood, Um Bom Ano, dirigido por Ridley Scott e estrelado por Russel Crowe e Marion Cottillard.

Lourmarin e o Luberon

         Situada num vale que divide o Luberon em meio a vinhedos e plantações de oliva, Lourmarin é relativamente plana, ao contrário das localidades que visitaríamos a seguir. A vila é conhecida pelas suas ruelas com arquitetura mediterrânea típica, entremeadas por pracinhas com cafés convidativos para uma parada de contemplação. Infelizmente era sexta-feira, dia de mercado;  as cidades da Provença têm uma espécie de rodízio, onde cada lugarejo sedia a feira durante um dia da semana (veja a escala nesse post sobre as feiras provençais). Foi bem interessante vagar pelas barracas com os produtos típicos da Provença, em especial o setor alimentício com alguns dos maiores cogumelos que já vi, mas a feira com muita gente se espalhava pelas ruas e praças de Lourmarin, mascarando suas marcas principais, a arquitetura e a tranquilidade. Em resumo, saí com aquela sensação incômoda de não ter podido apreciar o que Lourmarin tinha de melhor para oferecer ao turista.

A feira de Lourmarin

      Lourmarin também é conhecida pelo seu castelo com uma parte gótica e outra renascentista, tendo sido originalmente uma fortaleza erguida no século XII. O castelo, situado na entrada de Lourmarin e separado desta por uma bela aleia que corta o campo verdejante, data do século XV e pode ser visitado. No nosso caso, porém, nos limitamos a conhecer os seus jardins, em especial o laguinho na sua entrada.

O Castelo de Lourmarin
Os jardins do Castelo de Lourmarin

       Aqui ocorreu aquele contratempo que pode vitimar quem embarca em excursões - a falta de pontualidade (e de cortesia com os companheiros de viagem) de algum integrante. Como fez nas paradas seguintes, após uma breve explanação sobre o lugar, Renault levou os excursionistas até a praça principal e combinou um horário para a saída da van, deixando que cada um explorasse Lourmarin como melhor lhe conviesse. Na hora indicada para a volta, cadê um dos casais? Após muitos minutos de espera, lá foi Renault procurar o casal "perdido", tarefa que se complicou pela multidão frequentadora da feira. O casal acabou sendo encontrado saboreando sem pressa um café numa praça... Pelo menos depois dessa não voltaram a aprontar.

Os campos verdejantes ao redor de Lourmarin

          Para quem não dispõe de condução própria, pode-se alcançar Lourmarin pela linha de  ônibus 9.1 a partir de Aix-en-Provence com tempo de viagem de 1h15min, mas atenção, os horários são poucos ao longo do dia. Confira a escala atualizada em www.vaucluse.fr/deplacements/transports-cars-transvaucluse.html

Vista geral de Roussillon

Parada: Roussillon

         Roussillon (cuidado para não confundi-la com a região homônima localizada perto dos Pirineus no sudoeste da França) foi um caso de paixão à primeira vista. Como não se maravilhar com aquela cidadezinha sobre a colina com todas as casas em tons de vermelho, laranja ou amarelo? Na hora me veio à cabeça um adjetivo em inglês que não tem paralelo na nossa língua: quaint, que significa algo muitas vezes antigo que é atrativo de uma forma inusitada. Toda essa atmosfera  atrai grande quantidade de turistas na alta temporada, fazendo com que Roussillon seja a segunda localidade mais visitada do Luberon, atrás somente de Gordes.

Trecho da pedreira desativada, rica em ocre

              Originária de um castelo erguido no século X, Roussilon está assentada junto a uma enorme reserva de ocre. A vila teve seu dia a dia pacato completamente transformado com o início da extração de ocre nas pedreiras, lá instaladas no final do século XVIII.  O ocre nada mais é que um pigmento natural formado por óxido de ferro misturado à areia do terreno há milhões de anos. Nos últimos séculos o ocre era utilizado em tinturas que variavam do vermelho ao amarelo, como podemos comprovar ao apreciar as fachadas das casas de Roussillon. A extração do ocre durou até a década de 30 do século passado, quando métodos mais modernos de obtenção das tinturas levaram ao fechamento das pedreiras.

O largo principal de Roussillon, a Praça da Prefeitura (o prédio de janelas e portas verdes)

           Chegamos a Roussillon por volta da hora de almoço e tivemos uma parada de hora e meia para apreciar essa vila que se tornou a minha favorita no roteiro desse dia. Seria tempo suficiente se o tempo para almoço não estivesse também incluído. Procurei então um restaurante que parecesse fornecer uma refeição rápida - dei sorte, almocei um ravioli em vinte minutos numa casa de massas junto à Praça da Prefeitura e parti para percorrer as ruelas da Roussillon, conhecidas por abrigar várias lojas de arte. A parte mais interessante sem dúvida foram as travessas da área mais antiga, o castro, acessíveis por uma passagem sob o campanário e que sobem até a Igreja de Saint Michel e ao topo da colina. De lá se tem uma boa vista dos campos e morros que circundam Roussillon.


Ruela de Roussillon com a passagem sob a torre do campanário

Igreja de Saint Michel


          A outra grande atração de Roussillon é o próprio campo de extração do ocre, hoje transformado num parque, Sentiers des Ocres. O funcionamento das pedreiras por mais de dois séculos fez com que a paisagem se tornasse meio alienígena naquele tom avermelhado. com a encosta exibindo rasgos profundos. A vasta área pode ser conhecida por trilhas, cujo ingresso custava €2,50.


Ruas de Rousillon


           A cor ocre da terra também gerou uma lenda um tanto macabra que tenta explicar o fenômeno. Séculos atrás o senhor das terras de Roussillon, Raymonde d'Avignon, morava no castelo local com sua esposa, Sermonde. Viciado em caçadas, Raymonde negligenciava a esposa, que acabou se apaixonando por um jovem trovador. Quando soube do affair, Raymonde atraiu o trovador para a floresta e o matou com sua espada. Retirou então seu coração e o mandou servirem no jantar a Sermonde, sem que ela soubesse do que se tratava. Ao terminar a refeição, sadicamente contou a origem do "prato especial" que tanto tinha encantado a esposa. Sermonde, muito abalada, saiu correndo aos gritos e se atirou do alto da colina, tingindo para sempre a terra com o vermelho do seu sangue.

Ateliês e lojas de arte se espalham pela rua de acesso à Praça da Prefeitura

           Só fico a imaginar como deve ser bonito o visual da vila ao entardecer, com o céu combinando com a cor das casas. Fica para uma próxima oportunidade.

          Para quem usa transporte público, há somente uma linha de ônibus de pouca serventia, que liga Roussillon a Gordes e prossegue até Cavaillon, a 15.3. Confira os horários no mesmo site indicado para Lourmarin.  O mais prático é mesmo usar locomoção própria ou embarcar em excursão.   

          No próximo post, as outras três localidades visitadas - Gordes, Bonnieux e L'Isle-sur-la-Sorgue.

           
 Postado por  Marcelo Schor  em 17.04.2016 





loading...

- Um Dia No Luberon - Gordes E Bonnieux
O Vale do Luberon visto de uma rua de Gordes       Continuamos com o relato do bate-volta até o Luberon desde Aix-en-Provence. No último post, descrevi a passagem por Lourmarin e Roussillon. Agora, sigo com as três localidades restantes....

- Sintra E O Castelo Dos Mouros
A vila de Sintra, com o Palácio Real ao centro, vista do Castelo dos Mouros         Sendo um usuário habitual da TAP, faço conexões frequentes em Lisboa, muitas vezes passando alguns dias na capital portuguesa. Já fiz vários...

- As Feiras Da Provence: Uma Explosão De Cores E Aromas
           Todo dia é dia de feira em alguma cidade na Provence. Desde as primeiras horas da manhã, produtores locais de artesanato, floristas, fabricante de compotas e muitos outros se dirigem a uma cidade...

- Região Provence-alpes-côte D'azur
Provence-Alpes-Côte d'Azur, Paisagens de Tirar o Fôlego! Antigas ruínas, calanques, campos de lavanda, vilarejos floridos, as maravilhas da Provence merecem uma visita. Elas são numerosas, mas bem diferentes: da deslumbrante Marselha até a...

- As Mais Bonitas Cidades Medievais Da França
As Mais Bonitas Cidades Medievais da França Mont Saint Michel Não é uma cidade comum. Entre a Normandia e a Bretanha, o Mont-Saint-Michel abriga numerosas pequenas casas muito antigas e bem conservadas. Suas ruelas tortuosas e caminhos de pedra,...



Viagens








.