Um dia no Luberon - Gordes e Bonnieux
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Um dia no Luberon - Gordes e Bonnieux


O Vale do Luberon visto de uma rua de Gordes

      Continuamos com o relato do bate-volta até o Luberon desde Aix-en-Provence. No último post, descrevi a passagem por Lourmarin e Roussillon. Agora, sigo com as três localidades restantes.

Parada: Bonnieux

           Bonnieux é uma típica cidadezinha da Provença, com 1.500 habitantes, espalhada pela encosta de uma colina e dominada pela sua igreja originária do século XII. A cidade, fundada nos tempos dos romanos, aumentou sua fama ao servir de cenário para o filme Um Bom Ano, já comentado no post anterior.

Bonnieux com a Igreja Nova e o vale ao fundo

          Na realidade, esta foi a segunda localidade do Luberon que visitamos, entre Lourmarin e Roussillon (inverti a ordem por motivos técnicos na divisão entre os dois posts). Bonnieux é servida pelo mesmo ônibus que passa por Lourmarin, mas seria muito difícil fazer um bate-volta num dia visitando ambos os locais por transporte público, devido à exiguidade de horários do transporte.

             O melhor de Bonnieux é a vista maravilhosa da planície do rio Calavon que se obtém do alto da cidade, alcançando diversos lugares do Luberon no outro lado do vale, como Menérbes e Lacoste.  Nosso guia parou a van nesse mirante e após uma breve explanação sobre a cidade, nos orientou como alcançar a Igreja Nova seguindo ladeira abaixo, passando pelas casas e vielas medievais da cidade no caminho.  Lá embaixo, na Place Gambetta (um largo pouco acima do templo), um autêntico chamariz para a ala comprista da excursão: mais uma feira, desta vez de tamanho reduzido, e que seguindo o modelo provençal, só acontece uma vez na semana, às sextas. Aliás, propositadamente, a operadora só oferece essa excursão em dias no qual há uma feira em um dos cinco lugares visitados.

A Pont Julien, construída há 2.019 anos, em foto tirada de dentro da van

         No caminho de saída de Bonnieux, passamos junto à Pont Julien, uma ponte de arcos de pedra construída pelos romanos no ano 3 A.C, e que fez parte da famosa Via Domitia, que ligava  Roma à Espanha atravessando terras gaulesas. Fechada ao tráfego em 2005 com a construção da nova ponte (o que faz com que fosse usada por longos 2008 anos!!),  hoje tem tráfego restrito a pedestres e bicicletas. O guia parou a van por alguns momentos sobre a ponte nova e ele mesmo tirou as fotos da sua janela com nossas máquinas. Eu tinha achado ótimo esse oferecimento até reler o comprovante da  excursão à noite no hotel e descobrir que o previsto era uma parada completa para fotografias na ponte.

Vista de Gordes

Parada: Gordes

           A cidade mais conhecida e visitada do Luberon faz jus à fama que tem. Foi só alcançar o mirante perto da sua entrada para me maravilhar com a vista soberba das casas de pedra sobre o aclive da encosta no sol da tarde. No topo do morro, o destaque vai para o Castelo e a Igreja de Gordes, formando um  belo conjunto uniforme com as casas abaixo.

Castelo de Gordes e a Estátua do Soldado da Resistência

      Gordes, assim como muitas das vilas provençais, surgiu de um assentamento romano e posteriormente se desenvolveu em torno do seu castelo na Idade Média. Teve o seu apogeu nos séculos XVIII e XIX graças às atividades de tecelagem e de artesãos. O século XX trouxe um esvaziamento da cidade causado entre outros por um terremoto em 1909 e bombardeios alemães na Segunda Guerra Mundial (em represália a Gordes abrigar um centro da Resistência Francesa), até ser descoberta pelo turismo nas últimas décadas do século. Aliás, a estátua na praça de entrada da cidade homenageia exatamente os soldados heroicos da Resistência, demonstrando a importância desse período turbulento na história de Gordes.

A Fonte de Gordes

             A van nos deixou na praça de entrada do Castelo, no topo da cidade, e lá fui eu explorar as ruelas íngremes de Gordes, auxiliado pelo mapa no folheto previamente distribuído pelo guia (ponto para ele, esses mapinhas foram de grande ajuda em Roussillon, Gordes e L'Isle). O Castelo  já existia em 1031 e foi reconstruído sob a forma atual em 1525. Hoje abriga tanto a prefeitura quanto um museu dedicado a um pintor flamengo morto em 1998 que residiu em Gordes, Pol Mara. Impressionante foi descobrir que a fonte localizada na praça ao lado do Castelo era o único modo de obter água  potável em Gordes até 1954.

            Para verificar o que a cidade tem de melhor, só mesmo descendo e subindo por suas ladeiras, apreciando o casario com fachadas de pedra e de vez em quando obtendo vistas arrebatadoras do vale abaixo. As ruelas relativamente vazias em meados de outubro (surpreendentemente bem mais que em Roussillon), a ausência de fiação aparente e os lampiões de época na iluminação pública ajudaram a compor a aura medieval da paisagem, fazendo parecer que Gordes estacionou no tempo.

Passeando pelas ruas de Gorges

           Se você visitar Gordes de meados de junho ao fim de julho não deixe de passar pela Abadia de Sénanque, a quatro quilômetros de distância. O mosteiro estabelecido no século XII e até hoje habitado por monges é célebre por suas plantações de lavanda que servem de cenário para cartões postais.
         
Mais uma viela em Gorges


Parada: L’Isle-sur-la-Sorgue

       A última parada da excursão foge totalmente do padrão dos lugares visitados ao longo do dia: esta cidade de nome um tanto complicado é bem maior que as demais e não parece tão antiga, além de não estar rodeada por colinas, mas não deixa de merecer que a conheçamos.

Um dos canais de L'Isle-sur-la-Sorgue

         L'Isle-sur-la-Sorgue é cortada por uma rede de canais que conferem uma aparência pitoresca à cidade. Não é de admirar que logo tenha sido apelidada de "Veneza da Provença". Outra característica que dá um colorido adicional à paisagem local são as rodas d'água espalhadas por seus canais. Construídas às dezenas no século XIX para aproveitar a energia hídrica e impulsionar a economia local, sobraram hoje somente quatorze. A cidade também é conhecida pelas várias lojas de antiguidades.

      Para quem não dispõe de condução própria, Aix-en-Provence e L'Isle são interligadas pela linha de ônibus 17, que faz o percurso em uma hora.

Roda d'água em L'Isle-sur-la-Sorgue

           Minha impressão final sobre a excursão da Tylene Tours foi positiva, mas a achei um pouco corrida. Talvez se fôssemos a quatro localidades ao invés das cinco visitadas, o aproveitamento teria sido melhor, esticando a permanência nas fantásticas Roussillon e Gordes. Às vezes menos é mais...


 Postado por  Marcelo Schor  em 27.04.2016 




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