Tem pobre em Paris?
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Tem pobre em Paris?


Paris atrai milhões de turistas anualmente, é uma das cidades mais visitada no mundo (se não a mais visitada), e a maioria volta para casa  com as expectativas atendidas ou mesmo superadas, mas cada vez mais tenho me deparado com brasileiros que não gostaram ou mesmo odiaram Paris. Tentei esmiuçar bem, conversando com quem pude ou lendo (blogs, relatos de viagens, foruns da internet) as razões e as principais que encontrei são as seguintes:

- Afinal, tem pobre em Paris?

Sim, é verdade, tem. Mas a pobreza aqui é diferente da que vemos no Brasil. Aqui ainda existem muitas ajudas sociais, quem está desempregado tem um longo seguro desemprego, quem não tem direito ao seguro desemprego tem uma renda garantida pelo governo (RSA), existe ajuda para pagar aluguel, existe ajuda para tudo. Então quando vemos pessoas nas ruas em situações muito difíceis, geralmente elas não estão em situação regular na França para poder contar com todas essas ajudas, ou estão em uma situação transitória até conseguir dar entrada na papelada, ou são pessoas em situação de conflito com a sociedade, que se recusam a ter um domicílio fixo, emprego ou prestar contas. Existem exceções, mas de uma forma geral é isso que indicam as associações especializadas.
Então, encontramos sim muita gente que pede dinheiro na rua (geralmente ciganos da Romênia e Bulgária, conhecido como "rooms"), no metrô, nos sinais de trânsito e tem muitos SDFs (sem domicílio fixo) que vivem nas ruas. Alguns são bem limpinhos e bem-vestidos com o seu animal de companhia (que fazem geralmente parte desse grupo que não quer se submeter às regras da sociedade), outros se encontraram na rua por N outras razões (como explicado acima) e a situação é complicada e não é simples de ser resolvida!

- Gente feia e mal-encarada, "senti medo em Paris"

Essa tenho ouvido ou lido cada vez mais. Acontece que para os muitos brasileiros (e não só) o padrão de beleza é o "europeu", ou então tem que ser uma mulata estilo dançarina de escola de samba, ou uma índia estilo Pocahontas. Se o negro chegou direto da Africa, ainda mais vestido com as roupas do vilarejo, entra automaticamente na classificação de "feio". Também associamos muito a questão da cor com a criminalidade ou violência. E nem falo só de negros, mas árabes e indianos também acabam entrando nesse rótulo. Faz parte da "história da feiúra" (recentemente li o livro do Umberto Eco que leva esse nome e que explica muito bem ao longo da história o que era considerado feio e bonito). Como quem viaja para a Russia "branca e loira" se espanta com a quantidade de mulheres "bonitas". Quem definiu esses padrões de beleza?

Uma amiga brasileira chegou na França há 20 anos, ela morava em uma cidade do interior do Paraná e foi aqui em Paris que viu um negro pela primeira vez na frente dela. 
Mas vamos concordar, gente, não é porque alguém é negro, árabe, indiano, chinês e pobre que é bandido!!!
Apesar do aumento da violência na Europa, Paris continua sendo uma cidade muito segura. O que mais acontecem são os roubos de celulares ou bolsas/carteiras, sem que a pessoa veja. Mas uma agressão a mão armada para roubar alguma coisa resta ainda um fato raro!!! 
Não dá para dar bobeira, os batedores de carteiras estão em todos os lugares, mas principalmente perto dos pontos turísticos.
A Europa está mudando, ela viveu e vive uma imigração muito forte e no futuro a imagem do francês não será mais a mesma. Só espero que a mentalidade dos povos também evolua!!!

- Paris é uma cidade suja e fedorenta

Talvez eu tenha me acostumado, mas desde a primeira vez em que estive aqui, nunca vi essa sujeira da qual todos falam. Mesmo comparando com outras cidades européias ou brasileiras que conheci. 
Em lugares com um fluxo muito grande de passantes (turistas, em sua maioria), é verdade que a cidade não é "um brinco". Mais uma vez o exemplo da Champs Elysées, que por medidas de segurança possui poucas lixeiras!!! Então os turistas deixam o lixo em qualquer lugar mesmo. 
O metrô é um outro tema de controvérsias. O metrô de Paris é muito antigo (a primeira linha foi inaugurada em 1900)  e atualmente são 16 linhas, num total de mais de 200km. Mais de 4 milhões de pessoas utilizam o metrô todos os dias. Se o número de passageiros é praticamente o mesmo do metrô de São Paulo, uma diferença básica é que em Paris, pela idade e construções dos túneis, existe muito pouca aeração. O ar não circula, o cheiro de multidão fica. Sem contar tudo o que se passou nesse solo durante séculos e séculos... O cheiro não vai embora assim!

Mas outra diferença é se a gente pega uma linha que passa pelas localidades mais pobres (= maior número de imigrantes pobres) ou uma que passa pelas zonas nobres da cidade (pode ter imigrante, mas vai ser imigrante rico), em que os passageiros geralmente são clarinhos e limpinhos... O cheirinho e a limpeza são longe de serem os mesmos...
E mesmo para os parisienses a cidade se tornou suja e fedorenta, eles reclamam medidas junto à prefeitura, reclamam em fóruns de dediscussão e em mesas de cafés ou bar... Segundo eles, o problema se agrava com o turismo (muitos turistas que jogam lixo em qualquer lugar e utilizam as ruas como banheiro público) e com uma imigração desenfreada de pessoas que não possuem os mesmos hábitos. Pode parecer exagero, mas basta verificar que os locais mais sujos são habitados justamente por essa categoria.
Lembro que quando morava em outro apartamento, uma família africana tinha mania de jogar o lixo pela janela! Era caixa de leite, pacote de cereais, restos de comida... Um horror! O síndico (gardien) tentava falar com eles, mas quem diz que entrava na cabeça deles que tinha um lugar específico para colocar o lixo?

- Os franceses são grossos, antipáticos ou mal-educados

Eu sempre digo que quem passou somente alguns dias aqui como turista provavelmente viu ou teve contato com pouquíssimos franceses!!! A cidade conta com uma imigração bem forte e geralmente os empregos da área do turismo (hotelaria, restaurantes) são ocupados massivamente por estrangeiros. Eh uma realidade, pois são considerados empregos relativamente precários, onde é necessário trabalhar em horários malucos e alternados, com salários baixos. Quem tem escolha cai fora, e geralmente quem não tem escolha acabam sendo os estrangeiros... A gente vai em um restaurante ou loja em Paris e praticamente todos os funcionários são estrangeiros (ou "filhos de", com uma cultura ainda muito forte ligada ao país de origem, muito mais ligada à ele do que à França). Exceções para os estabelecimentos de luxo, onde geralmente os funcionários vêem de grandes escolas de gastronomia ou hotelaria, mas nesses casos o atendimento é geralmente perfeito.
Outra coisa que acontece muito na França é que existem muitos contratos de trabalho para "estudantes". Então também encontraremos muitos jovens estudantes que precisam ou querem trabalhar e fazem um "bico". Nesse caso eles mesmo dizem que o trabalho é "puramente alimentar" (= para pagar as contas) e alguns não fazem o menor esforço. Além disso alguns trabalham apenas um dia por semana, então nem conseguem se manter atualizados de tudo o que se passa na empresa. No verão (julho e agosto), época de férias européias, praticamente só vemos estudantes e contratos temporários, e na minha opinião o atendimento é mais precário.
Tudo isso para dizer que cada vez que alguém me citou um caso em que foi mal-atendido, perguntando daqui ou dali, ou quando estive presente, o tal mal-educado nem francês era!!!

E o pior lugar onde fui atendida foi justamente... em um restaurante brasileiro!!! Chegamos às 21h conforme reservado, pediram a nossa identidade (que não devolveram até o final da refeição, mesmo que a mesma já estivesse paga antecipadamente) e nos deixaram 40 minutos esperando, ninguém veio nos ver, nem perguntar se queríamos uma bebida, nada. Fui falar com jeitinho com uma atendente, que, para a minha surpresa, não falava francês (ops, estamos na França) nem português, mas espanhol (?!?). O dono veio falar comigo, um tapinha nas costas e disse que enviaria alguém... Que não chegou! Quando ele passou, minha amiga estava um pouco irritada e disse que já estávamos esperando há mais de 40 min, e ele respondeu bem arrogante "é mentira, vocês não estão aqui há 40 minutos". Eu disse que sim, que a reserva era às 21h e já eram quase 22. Ele disse que teríamos que esperar, que tinha muita gente. Então chega um grupo na mesa ao lado que é servido antes de nós!!! Aí sim falei que não era normal que servissem quem estava chegando agora enquanto estávamos ali há muito mais tempo, e ele disse que se não estávamos contentes, poderíamos ir embora. Mas como já estava pago, acabamos ficando. A nossa felicidade foi que um dos garçons (que não era brasileiro, ele só falava francês com uma pronunciação perfeita) que passava o rodízio de carnes fez de tudo para nos servir bem e passamos um momento agradável com a carne no prato.

- na França ninguém fala inglês

Se os franceses possuem realmente um dos piores resultados da Europa no domínio de línguas estrangeiras, mais uma vez em qualquer lugar turístico vamos encontrar quem fale um pouco de inglês! A começar pelos hotéis, a não ser que seja um hotel bem simples e que não pertença a nenhuma rede. Mas para se ter uma idéia, estive algumas vezes no Novotel Paris Chatelet-Les Halles, e o pessoal da recepção, além de falar inglês e espanhol, ainda tinha alguém que falava português, justamente porque o número de brasileiros tem aumentado consideravelmente todos os anos. Nas lojinhas de lembrancinhas perto dos pontos turísticos, eles falam tudo que é lingua, e até arranham o português. Existem muitos indianos nesse tipo de comércio, e eles são bilíngues (inglês), apesar de às vezes ser um pouco difícil de entender. Em grandes avenidas comerciais como Champs Elysées, se o vendedor não fala inglês ou enrolou na entrevista ou veio tapar-furo de último minuto. Muitas marcas até preferem contratar estrangeiros para trabalhar em lojas turísticas, mesmo que não fale francês. Por exemplo na Ladurée, famosa por seus macarons, sempre que vou ali é até difícil encontrar alguém que fale francês!!! Certa vez eu queria perguntar quanto tempo poderia conservar os macarons, e quem disse que a menina falava francês? Ela era russa (lembrando que os russos são um dos turistas que mais gastam dinheiro na França durante a estadia). Ou seja, se um francês hoje em dia deseja comprar macarons, melhor ele falar inglês, ou até mesmo russo! Inversão da história!



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