Manual prático de boas maneiras na França
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Manual prático de boas maneiras na França


Não é novidade que muitos brasileiros têm uma imagem bem negativa dos franceses, principalmente dos parisienses, na ocasião de sua passagem pela capital francesa.

Tenho visto ao longo desses meus 5 anos na França o outro lado da moeda. Os franceses têm muitos defeitos e não são exatamente referência em educação, mas eles possuem seus códigos, e então o estrangeiro que não respeita o básico desses códigos e fórmulas acaba passando por uma pessoa muito desagradável (justamente quem pensa que os franceses é que são desagradáveis).

Claro que ninguém nasce sabendo, mas acredito que uma boa observação do ambiente já nos fornece bons indícios de como nos comportarmos. Foi isso o que sempre me fez me virar em diversos países do mundo, mesmo quando havia uma grande barreira da língua.

Alguns pontos sensíveis:

- Dizer e responder ao "bonjour"
Em estabelecimentos administrativos, comércios, restaurantes, na verdade em qualquer lugar aqui, costuma-se dizer "bonjour" antes de toda e qualquer coisa. Infelizmente tenho percebido que os nossos conterrâneos não são acostumados a saluar "desconhecidos". Já ouvi de "amigas" que sempre foram "educadas", ao entrar em uma loja francesa, que não vão responder a um subalterno! Essa semana vi uma vendedora saluar com um "bonjour" um grupo de brasileiras, que ignoraram completamente (não responderam e nem olharam), aí a vendedora repetiu em inglês... Uma das brasileiras disse, bem grossa: "a gente se conhece?"
Se o "cliente" aqui ignora seu interlocutor, pode ter certeza que o mesmo não terá a mínima vontade de ajudá-lo, fazendo seu trabalho de forma mais impessoal possível.

- Falar alto
Eh conhecido aqui na França que brasileiros falam alto e todos ao mesmo tempo a ponto de atordoar as pessoas ao redor. Uma vez uma brasileira me disse que isso não era sinal de má educação. Bom, na minha família falamos alto, mas a minha mãe sempre nos ensinou que em casa e no meio do mato podemos falar como quisermos, mas que em locais públicos ou que temos que dividir com os outros, temos que moderar o tom. Para mim o respeito é reconhecer que não estamos sozinhos no mundo e que falar alto incomoda sim.
Falar alto e rir alto em restaurantes calmos, museus, igrejas, qual o sentido?

- Por favor
Os brasileiros não se sentem confortáveis em dizer "por favor, s'il vous plaît ou please"... Raramente ouvi isso de algum brasileiro aqui na França. Parece que na nossa cultura isso é sinal de "rebaixamento", enquanto na França é sinal de respeito. E aqui na França, isso é primordial no contato com o outro. Desta forma, se a gente pede algo sem usar essas fórmulas, o interlocutor pensa direto que está diante de uma pessoa muito mal-educada e EXTREMAMENTE desagradável que não merece nenhuma simpatia da sua parte.
Mesmo em inglês tem brasileiro que diz "I want" ao invés de "I would like"... Razão suficiente para receber um tratamento seco e ríspido.

- Pedir informação
Muito brasileiro (ou estrangeiro em geral) fica muito bravo quando pede uma informação e o outro responde que não sabe. A mania de perseguição lhe faz acreditar que o francês sabe, mas não quer dizer, por pura maldade. Já pararam para pensar que simplesmente ele não saiba??? 
Todos os dias me interrompem na rua para perguntar onde tem banheiro, mas eu não conheço os endereços dos banheiros públicos de Paris. Quando preciso, vou a um café ou algo do gênero. Tem lugares em que mesmo os franceses se sentem meio perdidos, como na região de Chatelet, que é um verdadeiro labirinto. Então, explicar a alguém que não fala nem francês nem inglês que tem que seguir 200 metros, dobrar à esquerda, depois à direita 3 vezes, atravessar uma praça... Pode ser muito complicado.

Ontem me perguntaram na Champs Elysées onde tinha uma joalheria. Disse que tinha várias ao longo da rua e que não sabia exatamente onde. A americana ficou furiosa, disse que eu iria fazê-la andar para cima e para baixo só porque eu não queria dizer! Respondi um tom mais grosso que o dela que não costumo ir nas joalherias dali, nunca entrei em nenhuma, mas que tinha certeza que no caminho em direção ao Arco do Triunfo ela poderia encontrar Cartier. Ela foi embora bufando (dizem que os franceses são especialistas em bufar) e me xingando. 
Quantas vezes também já vi brasileiro perguntando ao vendedor quanto custa um determinado produto em REAL ou então em dolar. Quem aqui vive ganha e gasta em euro, a cotação das moedas estrangeiras interessa somente para quem vai viajar ou tem negócios no exterior. Melhor andar com uma calculadora e com a cotação do dia, se quiser converter!
Isso também vale para a tax free (détaxe). A lei é clara, o cliente tem que comprar 175.01€ ou mais na mesma loja e no mesmo dia. Não é má-vontade do vendedor ou da loja que não quer fazer a détaxe para você!

- Escada rolante
Não só brasileiros, mas turistas em geral têm muita dificuldade em usar corretamente as escadas rolantes. Não me lembro quem me disse, mas desde a minha adolescência eu sabia que as escadas rolantes são geralmente largas não para que o casal suba de mãos dadas, mas para que de um lado fique quem segue o ritmo da mesma, e de outro quem quer ir mais rápido. Aqui na França é isso. Se a gente olhar só um pouquinho vamos ver que todo mundo se concentra no lado direito, e o esquerdo fica livre para quem está com mais pressa. E as pessoas usam mesmo! 
Mas porque tanta pressa, você diria? Eh realmente tão urgente? Por que a pessoa não saiu de casa 15 minutos mais cedo se está tão apressado?
Eu respondo que quando chego em casa às 22h30, prefiro chegar às 22h30 e não às 23h porque alguém bloqueou a escada rolante e isso me fez perder o ônibus por 2 segundos, resultando em uma espera de 30 minutos pelo próximo (o que aconteceu 2 vezes na semana passada).
Geralmente as pessoas aqui fazer várias correspondências de metrô, e se a cada vez elas perdem o seu transporte, no final do dia isso representa muito tempo perdido.
Algumas pessoas me falaram que nunca tinham pensado nisso, pois no Brasil só conheciam escadas rolantes de shopping, onde ninguém estaria apressado. Mas você já pensou que para 200 lojas de 5 funcionários são mil pessoas que ali trabalham? Então tem muita gente que não está ali por prazer, mas tenho certeza que muita gente não pensa nisso e sou meio radical para dizer que aí está mais um problema que é a dificuldade de se colocar no lugar do outro. Se a gente está passeando, esquece que tem muita gente que vive disso.

- Segurar a porta
Aqui se costuma segurar a porta para a pessoa que vem atrás... Mas se espera que quem vem atrás pegue a releva. Ou pensam que ele segurou a porta porque é porteiro?

- Horários
Se um restaurante (ou loja, etc) diz que fecha às 22h30, não dá para chegar às 22h30. Quer dizer simplesmente que nesse horário o serviço tem que estar terminando. No início eu me indignava muito com isso, mas agora entendo: é um respeito para com o ser humano, o funcionário que tem outras responsabilidades. 

- Idosos
Muita gente diz que na França não se respeita os idosos e que por isso os franceses não podem dizer nada em termos de "educação". O que acontece é que aqui na França o número de idosos é extremamente alto e normalmente eles estão em boa saúde. Idosos de 70 anos praticam esportes, longas trilhas (sobem na muralha da China tranquilamente com mais facilidade que um jovem). Então se pensa que se a pessoa é aposentada e em boa saúde física ela pode esperar como todo mundo na fila. 
Mas vejo muita gente deixando lugar nos transporter para pessoas idosas... Mas geralmente são pessoas que se mostram um pouco debilitadas, não o idoso super-em-forma.

- Espaço
Se não tem lugar livre, todo mundo anda apertadinho. Mas quer irritar muita gente é sentar ao lado de alguém quando o ônibus ou vagão está vazio.
Outro dia acordei de pé esquerdo e troquei de lugar quando uma mulher veio se sentar ao meu lado: tem 13 lugares vazios no vagão e essa senhora vem justamente se sentar ao meu lado?????

Para finalizar, tem muito brasileiro que acha que a melhor cerveja é brasileira, o melhor vinho, o melhor chocolate, assim como a melhor pizza e até o melhor "pão francês". Para esses, eu me pergunto se viajar vale todo esse sofrimento...



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