Symi, a pérola do Dodecaneso
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Symi, a pérola do Dodecaneso



As casas em estilo neoclássico da capital Symi

      Há três anos, ao planejar nossa viagem à Grécia e ler as informações no guia de viagens sobre  Rodes, onde passaríamos alguns dias, deparei-me com algumas páginas sobre uma ilha vizinha, que me pareceu muitíssimo interessante. Era a ilha de Symi. Não tive dúvidas, resolvi dedicar um dia do roteiro a conhecê-la. Foi um dos melhores passeios de toda a viagem, já que Symi tem peculiaridades que a tornam única na multitude de ilhas gregas.

       Symi pertence ao arquipélago do Dodecaneso, e fica situada a apenas quarenta quilômetros a noroeste de Rodes. A pequena ilha de 58 quilômetros quadrados é rochosa, parcialmente coberta por pinheiros, e suas montanhas têm aparência desértica. Nos meses de verão faz um calor escorchante, mas nos meses intermediários como maio e setembro a temperatura é agradável. A forte escassez de água limita o turismo, só existindo alguns poucos hotéis. Sorte dos felizardos que vão conhecê-la, pois não há a balbúrdia característica de algumas ilhas gregas bem mais visitadas, como Mykonos e Santorini.

       Symi tem uma história bastante curiosa. Assim como Rodes, no final da Idade Média foi governada pelos Cavaleiros de São João e em seguida esteve séculos sob o domínio otomano, o que não chega a surpreender, uma vez que Symi é separada da Turquia somente por um estreito. Neste período, sua população prosperou muito com a construção de barcos e principalmente com a pesca de esponjas, abundantes nos mares da região. Em 1912, a Itália invadiu o Dodecaneso, e sob o jugo italiano, estas atividades econômicas foram praticamente suprimidas, graças também à invenção das esponjas sintéticas e à disseminação dos barcos a motor. Para se ter uma ideia da decadência econômica, há cem anos atrás a população insular era de 23.000 habitantes; hoje, minguou para meros 2.500. Com a derrota do Eixo na Segunda Guerra Mundial, Symi finalmente voltou a fazer parte da Grécia em 1948.


Esponjas naturais à venda

       A excursão que compramos se inicia diariamente às nove da manhã no porto de Mandraki, na cidade de Rhodes, custando à época 22 euros. Após singrar o Mar Mediterrâneo por cerca de duas horas, a escuna alcançou a costa meridional de Symi, aportando no Monastério de Panormitis, onde fez uma breve parada para que pudéssemos conhecê-lo. A ilha de Symi é conhecida pela quantidade de monastérios lá existentes. O monastério ortodoxo de Panormitis, o mais famoso,  tem uma arquitetura interessante, com uma torre e sino imitando a igreja de Izmir, na Turquia. Foi construído no final do século XVIII no lugar onde existia uma imagem do Arcanjo Miguel. Esta imagem foi levada para a capital diversas vezes, mas sempre acabava misteriosamente retornando ao local. Por isso, hoje o monastério é objeto de peregrinação de marinheiros de toda a Grécia.


O Monastério de Panormitis com sua torre em destaque

       Em seguida, o barco acompanhou a costa oriental da ilha, até aportar na capital, também chamada Symi, como é costume na maioria das ilhas gregas menores. Ali permaneceu por três horas e meia, tempo razoável para conhecermos esta estranha e linda cidade e nela almoçarmos.

       A cidade de Symi é dividida em cidade baixa – Yialos e cidade alta – Horiá. A parte baixa corresponde ao porto, que considero um dos mais bonitos da Europa. É dominada por uma reentrância do Mar Egeu e é cercada em três lados por morros, por onde a cidade sobe, formando a cidade alta. A característica que salta aos olhos é a uniformidade das casas em estilo neoclássico pintadas em tons pastéis, formando um conjunto extremamente harmonioso. Na realidade, esta beleza toda esconde várias casas vazias, quase podres por dentro, reflexo do êxodo populacional causado pelas décadas de decadência econômica. Note-se que várias destas casas vêm sendo restauradas ultimamente. Um marco que se nota ao se chegar de barco é a torre do relógio datada de 1881 na entrada do ancoradouro.

A Torre do Relógio na entrada do porto de Symi 

       O porto é a região mais turística, por isso é imprescindível subir à cidade alta para conhecermos a verdadeira Symi, e apreciar os detalhes desta região da Grécia. Uma curiosidade adicional na cidade baixa é a presença de barracas vendendo esponjas, o que nos leva a pensar que a pesca dos pequenos animais ainda é uma atividade importante em Symi. Ledo engano – são todas importadas...

Vista geral de Yialos, a cidade baixa

      Para se chegar a Horiá, pode-se tomar ônibus ou táxi, infelizmente escassos, ou subir a escadaria conhecida como Kali Strata (“Caminho bonito” em grego). Optamos pela última alternativa e encaramos quase quatrocentos degraus bem cansativos. A apreciação da vista à medida que fomos subindo valeu o esforço. A cidade alta é um emaranhado de vielas e pequenas praças, com algumas igrejas pelo caminho, configurando um bairro bem pitoresco. Na cidade alta se encontram ainda as ruínas do Castelo dos Cavaleiros.

A cidade começa a aparecer no meio da subida da escadaria

        Munidos de um roteiro que nos indicava como chegar a partir da praça principal de Horiá a um mirante no alto da cidade, percorremos um caminho complicadíssimo em meio a becos tortuosos até chegar ao dito mirante. Esta autêntica "caça ao tesouro" valeu a pena, pois o mirante, na realidade um terraço, possibilita uma visão deslumbrante da cidade e do mar Egeu, alcançando até a Turquia,  conforme demonstra a foto abaixo.

      Ao voltar a Yialos, saboreamos uma moussaka deliciosa na região do porto, aproveitando para apreciar aspectos  como  jegues transportando alimentos e padres ortodoxos caminhando em suas vestimentas pretas  características. Retornamos a Rhodes pela escuna, chegando por volta das seis da tarde.

A bela vista de Symi, do Mar Egeu e das montanhas turcas mais ao fundo à direita, obtida do mirante

      Lembro até hoje da reação do recepcionista do hotel em Rodes ao mencionarmos que iríamos visitar Symi: "Symi?  Mas essa é outra ilha! Vocês devem é se concentrar nas belezas de Rodes". Tirando à parte esta aparente rivalidade entre os rodiotas e simiotas, quem decidir esticar sua estadia em Rodes em mais um dia para uma visita a Symi pode ter certeza de que não irá se arrepender.



  Postado por  Marcelo Schor  em 24.02.2012  

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