Os parques de Chicago - Millennium, Grant e Lincoln Park
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Os parques de Chicago - Millennium, Grant e Lincoln Park


O Cloud Gate no Millenium Park

          Chicago é uma cidade que surpreende a todo instante. Como mencionei nos posts anteriores, suas edificações e monumentos espalhados pelas ruas do Centro conferem um colorido único, e os parques não ficam atrás. E haja parque. Não custa lembrar que quase toda a extensão da orla do Lago Michigan é separada da cidade por uma faixa verde. Três dos principais parques se situam exatamente aí.

           Posso considerar que, de todas as atrações de Chicago, a que melhor representa o conceito da sua reinvenção é o Millennium Park. Inaugurado em 2004, o parque se espalha numa área equivalente a seis quarteirões na Michigan Avenue junto ao Art Institute of Chicago. Fugindo ao estereótipo de parques urbanos, apresenta várias obras de arte e construções instigantes que aparecem frequentemente nos cartões postais da cidade. O Millennium Park foi o meu local favorito em Chicago e todo dia perto do anoitecer voltava lá para apreciar suas atrações, tarefa nada complicada já que o parque ficava a 500 metros do hotel onde me hospedei. Reafirmando a tendência registrada em Chicago em fugir da obviedade, o forte do parque não são as árvores e sim seus monumentos.

Os arranha-céus da foto anterior refletidos no Cloud Gate

         Sem dúvida a principal destas inovações artísticas é o Cloud Gate, que recebeu o apelido óbvio de The Bean pela população local. Feito pelo artista indiano Anish Kapoor e constituído por 168 placas de aço inoxidável, o monumento reflete de forma distorcida as pessoas e  a paisagem dos arranha-céus à sua volta, oportunidade única para fotos bem legais. Os fotógrafos de plantão não devem deixar de se posicionar no vão abaixo do “feijão” e bater uma foto para cima, para ver o flash se multiplicar de forma espantosa na superfície da barriga côncava da leguminosa de aço. O Cloud Gate se tornou tão popular que acabou roubando da escultura de Picasso o posto de símbolo maior de Chicago.

A estranha foto para cima sob a barriga do "feijão". Estou replicado várias vezes na imagem. 

          Competindo com o Cloud Gate em termos de popularidade, a Crown Fountain também chama a atenção. São dois blocos interativos com 15 m de altura contendo um milhão de LEDs que se elevam numa piscina de granito (que pode estar mais ou menos alagada, fazendo a alegria da criançada quando está mais vazia). Voltadas uma para a outra, as faces mostram pequenos filmetes com chicaguenses exercitando expressões faciais, com direito a muitas caretas e jorros de água saindo direto das respectivas bocas. Mil moradores foram filmados para o projeto e agora podem vislumbrar suas feições em tamanho gigante. Fiquei surpreso quando soube que uma atração tão interessante foi objeto de muita polêmica quando foi inaugurada junto com o parque em 2004.

Um dos blocos da Crown Fountain no instante em que se transforma em fonte

         O parque sedia ainda um dos melhores auditórios ao ar livre do país, o Pritzker Pavillion. Quando vi a estrutura que envolve o palco, parecendo uma pétala aberta de prata, me lembrei imediatamente de uma das construções mais impactantes que já apreciei, o Museu Guggenheim de Bilbao, no País Basco. Não deu outra, ambos são projetos do mesmo arquiteto, Frank Gehry. Com acústica invejável, o auditório acolhe alguns dos mais prestigiados eventos musicais de Chicago, incluindo o Festival de Música Gospel e concertos de música clássica. Durante o verão, é praticamente certo haver alguma apresentação gratuita à noite.

O Pritzker Pavillion

         A comemoração de dez anos da inauguração do Millenium Park ocorreu em grande estilo em maio passado. Quatro estátuas contendo enormes rostos esculpidos foram acrescentadas ao já rico acervo do parque, todas feitas pelo mesmo artista que criou a Crown Fountain, o catalão Jaume Plensa. A mais bonita das esculturas fica bem na entrada do parque, na Michigan Avenue em frente à Madison Street, a rua que é o marco zero das numerações na cidade. Feita de ferro fundido, mármore e fiberglass, essa escultura toda em branco me deixou perplexo por uma coincidência extraordinária: antes de ser instalada em Chicago, ela enfeitou por dois meses as águas da Enseada de Botafogo no Rio de Janeiro, onde moro. 

Awilda, a escultura que chegou a Chicago após uma temporada no Rio de Janeiro

Duas das três esculturas que foram instaladas junto com Awilda

        O segundo parque é contíguo ao Millenium Park. Apesar da proximidade, o Grant Park difere bastante do Millenium, sendo um parque bem tradicional, com árvores e fontes, tendo sido uma das primeiras áreas verdes da cidade. Inaugurado há 170 anos sobre uma área aterrada à beira-mar, o Grant Park é conhecido por sua bela fonte, a Buckingham Fountain, de 1927. Quem via séries de TV na década de 90 vai reconhecê-la da abertura do seriado "Um Amor de Família" (Married... With Children). A fonte apareceu ainda no filme "Curtindo a Vida Adoidado". É  no Grant Park, num fim de semana em maio ou junho, que acontece  o prestigiado Festival de Blues, um evento gratuito que reúne centenas de milhares de apreciadores da música que é a cara de Chicago. Assim como o Festival de Blues dá início à temporada de verão, o Grant Park também sedia em setembro o Festival de Jazz, outro gênero de música muito ligado à cidade.

A Buckingham Fountain no Grant Park

         O terceiro e último parque que visitei fica situado ao norte do centro. Trata-se do Lincoln Park, uma enorme área verde também junto ao lago que tem uma peculiaridade: é sede de um dos raros zoológicos gratuitos nos Estados Unidos. Um dos mais antigos ainda em funcionamento, o zoo inaugurado em 1868 tem todos os animais selvagens costumeiros dispersos numa área muito agradável para se passear.

Um pássaro pousa/posa para minhas lentes em um dos habitats do Lincoln Park Zoo

           Mas não foi o Lincoln Park o motivo principal para eu visitar a região pelo ônibus 156, que peguei na La Salle Avenue. Colado ao limite sul do parque fica o Chicago History Museum, um museu ótimo que conta toda a história da cidade através de dioramas e painéis. Bastante instrutivos, os dioramas realmente impressionam, a começar pelo que mostra o Grande Incêndio de 1871, de um efeito avassalador que faz jus à destruição causada na época.

O Grande Incêndio retratado em diorama no Chicago History Museum

           A exposição cobre todos os períodos da história de Chicago, desde sua fundação até eventos mais recentes. Só estranhei bastante o pouquíssimo destaque dado a Al Capone e Elliot Ness, relegados a um mero painel meio escondido. Para compensar, há alas inteiras dedicadas a Abraham Lincoln, que se casou e morou em Springfield, capital do estado, e a Martin Luther King, cujos dois últimos anos de vida passou em Chicago (aliás, os tumultos raciais de 1968 que marcaram a cidade são muito bem abordados). Outro destaque é um dos primeiros vagões que percorreram o "L", o trilho ferroviário elevado que hoje é parte integrante do metrô. Em resumo, um programão para aqueles que como eu curtem conhecer a história do lugar que estão visitando.

Um vagão do sistema de transporte de Chicago em 1882

      Antes de abordar meu destino seguinte nessa viagem, a Nova Inglaterra, vamos voltar no próximo post à Europa, numa incursão aos cenários magníficos da costa da Irlanda do Norte.


* Este é o último post da série sobre Chicago. Para visualizar os demais, acesse  Chicago, uma metrópole fascinante.


 Postado por  Marcelo Schor  em 11.03.2015 







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