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O ancoradouro do barco no rio Chicago, diante do Wrigley Building com a torre e relógio. À sua direita, a Tribune Tower. |
Durante a estadia em Chicago o passeio mais legal que fiz foi o cruzeiro de barco pelo rio Chicago e Lago Michigan. Foi um rol de paisagens magníficas e muita informação reunidas num dia de sol glorioso e céu azul sem uma única nuvem.
Existem dois tipos de passeio: o que abrange somente o rio, também chamado de tour arquitetônico devido aos prédios pelos quais passa, e o completo, com 90 minutos de duração, que além de trafegar pelo rio ainda acompanha a costa da cidade no lago.
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O barco do tour, ancorado junto à ponte da Michigan Avenue |
Várias companhias oferecem o passeio. Resolvi fazê-lo pela que estava indicada no guia de viagem, cujo atracadouro, adivinhem, estava localizado quase em frente ao hotel em que me hospedei. Mais prático, impossível. Os dois tipos de passeio da Wendella Boats saem em horário alternado do cais no rio Chicago junto à ponte da Michigan Avenue, em frente ao Wrigley Building. Comprei o tíquete de 36 dólares e embarquei no tour completo de 90 minutos das 10h30min em uma quarta-feira, com o barco bem cheio. Por sinal, quarta é o dia da semana em que acontece um outro passeio, noturno, para acompanhar os fogos de artifício no lago, mas dois cruzeiros no mesmo dia com trajeto semelhante foi algo que nem me passou pela cabeça.
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A comporta interna entreaberta, deixando a água fluir para o rio Chicago |
Durante o tour, um mestre de cerimônias vai dando informações sobre os lugares por onde o barco passa. Ele começou nos informando que iniciaríamos o passeio pelo lago e logo o barco seguiu contra o fluxo da água na direção da foz. Como assim?? Acontece que o rio Chicago tem uma história bem curiosa. Decididos a limpar o rio ultrapoluído, os engenheiros chicaguenses vieram com uma solução original em 1889: inverter a mão do rio. Construíram um canal ligando o rio Chicago à bacia do rio Mississippi a alguns quilômetros da foz e com isso puderam fazer com que as águas fluíssem no rio Chicago saindo do lago. Para isso, construíram duas comportas entre o rio e o lago formando uma eclusa com diferença de nível de água, por onde as embarcações passam.
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O barco passa rente à ponta do Navy Pier |
Vencida a etapa das comportas, o barco acompanhou o Navy Pier, um gigantesco cais que avança lago adentro, repleto de diversões que o fazem a atração favorita dos moradores de Chicago, incluindo desde quiosques e restaurantes até um carrossel e roda gigante. A vista do alto da roda gigante do Navy Pier é linda; a foto que abre o primeiro post sobre Chicago foi tirada de lá. Aliás, não há programa mais romântico do que andar nas cabines fechadas da roda gigante justamente na cidade onde ela foi inventada. Pois é, foi em 1893 que a primeira roda gigante do mundo foi inaugurada na Exposição Universal de Chicago, criada por George Washington Ferris (por esta razão o nome em inglês do brinquedo é Ferris Wheel). Os americanos queriam algo capaz de rivalizar em impacto com a Torre Eiffel, erigida em Paris para a Exposição anterior, e Ferris teria tido a ideia de construir a roda gigante ao apreciar aquelas bicicletas que possuíam uma roda enorme dianteira, comuns naquela época. Da mesma forma, não deve ser coincidência o nome do protagonista de um dos filmes ícones de Chicago, Curtindo a Vida Adoidado, também ser Ferris.
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A vista impressionante dos arranha-céus da Michigan Avenue, com o John Hancock Center no centro |
Após contornar o Navy Pier, o barco finalmente singrou pelo Lago Michigan. Este lago é o segundo maior em superfície dos cinco grandes lagos americanos, além de ser o único totalmente localizado dentro dos Estados Unidos. Se não fosse a ausência das ondas, poderíamos ter a percepção de que Chicago é banhada pelo mar, pois da costa não dá para ver a outra margem do lago. Além de Chicago, o lago também banha outra cidade grande, Milwaukee, já no estado de Wisconsin.
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Os prédios do Loop e o Millenium Park vistos do lago |
A cidade possui 48 quilômetros de orla. Dessa extensão toda, grande parte é formada por parques, com 34 praias. A orla da região do centro é tomada por áreas verdes famosas, como o Millenium Park, o Grant Park e o Lincoln Park (todos serão abordados no último post da série). O barco acompanha todo este trecho, da península dos museus até o início da Golden Coast, permitindo tirar fotos do famoso skyline de arranha-céus.
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O rio Chicago com a Trump Tower ao fundo |
Era a hora então de adentrar novamente o rio Chicago. Às margens do rio estão dispostos diversos edifícios famosos, construídos desde o início do século passado até anos mais recentes. Um exemplo do contraste bem-vindo que torna Chicago tão atraente é justamente a área de onde o barco saiu. Lado a lado estão o Wrigley Building, um edifício inaugurado em 1921 com o projeto baseado na Giralda sevilhana e com fachada em terracota, que foi o primeiro em Chicago a ter ar condicionado; a Tribune Tower, bela sede neogótica do jornal Chicago Tribune inaugurada na mesma época, cujas paredes possuem pedras trazidas por jornalistas de monumentos da estirpe do Taj Mahal e da Catedral de Notre Dame; e a azul Trump Tower, um moderníssimo mamute de bom gosto surpreendente inaugurado em 2009. Um aspecto interessante da Trump Tower é que, composta por camadas que vão afilando à medida que os andares sobem, tem cada camada acabando exatamente na altura de um prédio lateral, interagindo assim de forma harmônica com seus vizinhos.
Logo depois o barco passa pelas Corncobs, torres gêmeas erguidas em 1964 que realmente parecem duas espigas de milho. O nome oficial das torres é Marina City, e elas têm garagens de barco no seu nível mais baixo com saída para o rio Chicago. Os marcos da cidade vão desfilando diante dos nossos olhos até que o barco alcança a Willis Tower (ex-Sears Tower, o prédio mais alto de Chicago que já foi também o mais elevado do mundo), dando meia volta e retornando ao ancoradouro.
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As espigas de milho de Chicago |
Além dos edifícios, outras obras de arte chamam a atenção à medida que o barco vai avançando: as pontes sobre o rio. A maioria não tem nome próprio, levando o nome da respectiva rua. A mais famosa é a exceção: a ponte da Michigan Avenue foi recentemente rebatizada como Du Sable Bridge, numa homenagem ao primeiro habitante não índio a se estabelecer na área, o comerciante haitiano Jean Du Sable, nos idos de 1790. As pontes são levadiças, incluindo a própria ponte da Michigan Avenue, levantadas duas vezes por semana para possibilitar a passagem de uma procissão de veleiros. Outro aspecto interessante é que as pontes têm o chão vazado - ao se passar por debaixo delas, podemos ver as rodas dos carros que as estão atravessando.
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A ponte da Wabash Avenue, com a promenade que acompanha o rio à direita |
Com o passeio, dá para perceber que a cidade soube se integrar perfeitamente ao ambiente da sua localização, tirando dele o melhor proveito possível. O lago e o rio estão tão presentes no dia a dia de Chicago que são representados na sua bandeira por duas faixas azuis em fundo branco. As quatro estrelas vermelhas entre as faixas homenageiam acontecimentos marcantes da sua história, incluindo o grande incêndio de 1871 e duas exposições mundiais, a Universal de 1893 e a do Centenário de Chicago de 1933.
Quem visitar Chicago no dia 17 de março conta com um atrativo extra: é o dia de São Patrício, patrono da Irlanda, e o braço principal do rio (o que teve o fluxo d'água invertido) é tingido de verde, em homenagem àquela que é conhecida como "Ilha Esmeralda".
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A bandeira de Chicago |
Fica então a dica: quando estiver em Chicago, não deixe de conhecê-la por outro ângulo, o das águas. E o faça no início da sua estadia; o passeio pelo rio serve como referência excelente para se situar na cidade e conhecer algumas de suas atrações principais, que você certamente visitará mais tarde.
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Mais uma foto do rio Chicago, tirada do ancoradouro do barco. O hotel Wyndham, em que me hospedei, é a torre mais moderna no canto esquerdo. |
O próximo post é dedicado aos observatórios (incluindo a Willis Tower) e museus de Chicago.
* Este é o segundo post da série sobre Chicago. Para visualizar os demais, acesse Chicago, uma metrópole fascinante. Postado por Marcelo Schor em 08.02.2015
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