O Funchal, debruçado entre mar e montanha
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O Funchal, debruçado entre mar e montanha



A orla leste da cidade. Em primeiro plano o Hotel Porto Santa Maria, onde me hospedei.
         A capital da Madeira pertence ao seleto grupo de cidades que na língua portuguesa são antecedidas pelo artigo definido masculino, como o Rio de Janeiro e o Porto. Provavelmente isto se deve à origem do seu nome, que designa uma coleção da planta aromática chamada funcho, que abundava na região no início da colonização da ilha.

         O Funchal está situado na costa sul da ilha, com pouco mais de 112.000 habitantes. Possui vários parques e muitos edifícios históricos no estilo típico colonial português, que surpreendentemente sobreviveram a terremotos e ataques piratas.  Apesar de sediar o governo, a ausência de prédios altos contribui para a impressão de cidade calma do interior, onde o progresso ainda não fincou suas garras. Além disso, os funchalenses são bastante afáveis e simpáticos, prontos a auxiliar o turista, e também são interessados nas novidades do Brasil. Uma grata surpresa é o seu sotaque, bem mais fácil de entender para os brasileiros que o similar lisboeta, por exemplo.

A rodovia com a entrada da cidade pelo desfiladeiro

        A cidade está distante vinte e dois quilômetros do aeroporto. Há ônibus municipais ligando o aeroporto à capital, além do Aerobus, expresso que custa cinco euros – entretanto, além de ter partidas espaçadas, este consiste em um miniônibus que lota rapidamente quando há acúmulo de chegada de vários voos. O táxi é a melhor opção, não sendo muito caro. Atração à parte é a entrada no Funchal a partir da rodovia, numa descida vertiginosa por túneis e rampas.
  
Zona velha

          Estando imprensada entre as montanhas e o mar, à medida em que nos afastamos da orla as ruas ficam cada vez mais inclinadas, galgando o morro. O seu centro é relativamente compacto, podendo ser percorrido tranquilamente a pé. Felizmente a maioria das suas atrações fica em sua parte plana, junto ao mar, e refletem a história da ilha, cujo arquipélago foi descoberto em 1418 por João Zarco. Como prêmio,  Zarco foi nomeado seu governador seis anos mais tarde. Assentou-se em 1425 no que seria Funchal, que é portanto considerada a primeira cidade fundada por europeus fora do continente desde a época do Império Romano. O largo onde se inicia a principal avenida da cidade, a Avenida Arriaga, tem uma estátua em sua homenagem virada para o mar,  defronte à fachada magnifíca do Banco de Portugal. Esta avenida é ladeada por frondosos jacarandás, sendo um cartão postal irresistível quando estes florescem em azul na primavera.

A fortaleza de São Tiago

        As atrações históricas começam com o Forte de São Tiago, fronteiro a uma praia minúscula e localizado na extremidade leste da cidade, tendo sido concluído em 1637. Sua construção amarela com as torres de observação sobre o oceano é interessante, e hoje a edificação sedia o modesto Museu de Arte Contemporânea. Entre a fortaleza e o centro comercial se situa a Zona Velha, bairro de origem da cidade. Em processo de revitalização, é repleta de ruas estreitas com casario antigo, incluindo também uma animada rua vedada ao tráfego com restaurantes com mesas ao ar livre, bastante frequentados à noite. Nesta região está ainda o Mercado de Lavradores, um mercado de frutas e peixes cuja maior atração é o painel de azulejos na sua entrada, retratando o mercado há cem anos atrás. Aliás, o Funchal se distingue por dois aspectos: os maravilhosos azulejos nas paredes de alguns prédios, mostrando aspectos da vida cotidiana de então, e o calçamento em pedras portuguesas de ruas centrais, impecável e adornado com desenhos criativos.
 
O painel de azulejos "Leda e o Cisne" na entrada do Mercado Municipal

          A maior parte das construções históricas se situa na região da Sé. A Praça do Município, a principal do centro da cidade, concentra três das mais importantes: a Câmara Municipal, em um palácio barroco do século XVIII; a  Igreja do Colégio, fundada por jesuítas em 1574, cujos prédios anexos hoje compõem a Universidade de Madeira; e na face sul da praça, o Museu de Arte Sacra, ocupando a antiga residência do Bispo da ilha, do século XVII - seu acervo inclui pinturas flamengas do século anterior, adquiridas pelos mercadores locais com o lucro do comércio de açúcar. Se você apreciou o painel de azulejos do Mercado Municipal (foto acima), encontrará a estátua nele retratada no pátio da Câmara Municipal, para onde foi movida em 1937 após a construção do prédio do Mercado.  A partir desta praça, caminhando-se duas quadras em direção ao mar, chega-se à , a catedral com sua torre de relógio de granito. Finalizada em 1517, é uma das poucas construções remanescentes da época de início da colonização, tendo um interior ricamente adornado, incluindo azulejos, e teto em estilo mourisco feito de cedro nativo.

A Praça do Município, com a Câmara à esquerda e o Museu de Arte Sacra à direita 

A  mesma praça com a Igreja do Colégio

          Ainda no centro do Funchal, mas numa localização um pouco mais incômoda, pois para chegarmos até lá é preciso vencer uma rua bastante íngreme, se situam o Convento de Santa Clara e a Quinta das Cruzes. A Quinta é originária dos primórdios da fundação da cidade, quando foi residência de João Zarco, o descobridor da Madeira. A casa foi reconstruída após um terremoto no século XVIII e hoje sedia um museu com mobiliário e pinturas de épocas diversas. De interesse especial para os brasileiros há um quadro retratando Dom João VI, que lá aportou na sua viagem de Portugal ao Rio de Janeiro em 1808 - a Madeira era um porto seguro por estar protegida de Napoleão por tropas inglesas.   Existe ainda um curioso "jardim arqueológico" nos fundos da casa, com relíquias retiradas do início da ocupação da ilha.      .

A Sé

         Sendo uma cidade marítima, um outro eixo importante é a orla. Uma promenade acompanha todo o percurso entre o Forte de São Tiago e o final da marina. A construção mais imponente da Avenida do Mar é sem dúvida a Fortaleza de São Lourenço, um forte do século XVI cuja missão era proteger o porto dos ataques dos corsários que assolavam a área naqueles tempos. Monumento nacional português, é hoje a residência do Ministro da Região Autônoma da Madeira.

Calçada da Avenida Arriaga, com os fundos da Fortaleza de São Lourenço e os fantásticos painéis da Casa da Câmara de Comércio
         Um dos passatempos favoritos dos funchalenses ao anoitecer é caminhar pelo calçadão na orla e parar em um dos inúmeros quiosques para bebericar e ouvir canções portuguesas - e algumas brasileiras também... Uma outra opção é jantar um peixe ou frutos do mar em um dos restaurantes mais requintados (caros e turísticos) situados entre a promenade e a marina. O mais famoso é o restaurante montado em um barco que pertenceu aos Beatles.

O jardim da orla de Funchal

          No post seguinte abordamos os bonitos jardins do Funchal, dos quais os mais conhecidos se situam nos seus arredores.

* Este é o segundo de uma série de cinco posts sobre Madeira, Portugal. Para visualizar a série, acesse: Madeira - muito além da produção de vinhos.



  Postado por  Marcelo Schor  em 21.03.2012  



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