Na antiga cidade de Xelb (parte 1)
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Na antiga cidade de Xelb (parte 1)


Qual é a cidade, qual é ela, cujo nome era Xelb durante o domínio muçulmano, situada no interior da região algarvia, junta às margens do rio Arade, a 15 km da costa e antiga capital do Algarve? Adivinharam?

Na Ponte Romana
(vista sul para a Sé e o Castelo)


Sim, trata-se de Silves. Depois de termos passado a passagem de ano numa freguesia do concelho de Silves, no primeiro dia do ano, rumamos na direcção daquela cidade que tem o maior castelo do Algarve.


Vista da muralha norte


É verdade, confesso, aquele amplo castelo localizado na encosta sempre me fascinou particularmente.
Vivi durante mais de 14 anos no concelho, fui algumas vezes à cidade de Silves: às lojas, ao casamento da minha madrinha na Sé (enquanto criança), ao Festival da Juventude e à Biblioteca Municipal, durante a minha adolescência, cursei um ano da língua Árabe na Escola Secundária, namorei muito e até casei na Conservatória do Registo Civil de Silves, não há muito tempo.
Havia também o Festival da Cerveja, uma festa anual realizada no castelo, depois transferida para a extinta Fábrica do Inglês, onde haviam festas temáticas, espectáculos  e o famoso e único Museu da Cortiça, infelizmente, declarado na falência há dois anos.


Fábrica do Inglês


Nos dois dias seguintes, fui sozinha (aproveitando assim os dois dias de folga) à procura de recônditos lugares no interior do castelo, na Sé, na Igreja da Misericórdia (construída devido à doação de Silves à Rainha Dona Leonor, no século XV) e no amplo Museu de Arqueologia, não abertos à visitação no dia anterior.


Interior da Igreja da Misericórdia


As ruas estreitas, íngremes e quase fantasmagóricas fizeram parte do percurso até ao castelo que continua grandioso, apesar da cidade ter perdido a importância, a imponência e magnicência de outrora. Silves, há uns séculos atrás, foi uma das maiores cidades do reino do Gharb e do sul de Portugal (existem até alguns autores que afirmam a sobeja importância de Silves em relação a Lisboa).

A riqueza da região, devido aos seus recursos naturais, sempre atraiu navegadores e comerciantes. Inicialmente Fenícios, mais tarde Cartagineses e no período Romano já ali se efectuava a cunhagem de moeda. Mas foi em 713, que a região de Silves foi conquistada pelos Muçulmanos, sendo os primeiros habitantes Árabes oriundos do Iémen, a zona da origem da civilização islâmica.

Este castelo remonta ao século VIII, quando Xelb era o principal centro urbano e comercial muçulmano no sul, devido à fertilidade das suas terras nas margens do Rio Arade (por ironia do destino, foi o assoreamento do Arade que provocou a decadência da cidade), sendo a mais importante fortificação islâmica, do actual território nacional.
Conquistado por D. Sancho I no final do século XII, foi depois reconquistado no século XIII por D. Afonso III, monarca que deu foral de repovoamento à localidade. Na entrada, do mesmo, está a escultura de D. Sancho I.





Tem uma deslumbrante vista sobre a cidade e com área de doze mil metros quadrados, está dividido em duas partes: a alcáçova e a al-medina. Está construído em arenito vermelho da região, também designado como "grés de Silves".




Com entrada paga (o bilhete conjunto do Castelo com o Museu de Arqueologia fica em 3,60€), o Castelo abre às nove da manhã e conta, actualmente, com duas exposições. Uma delas, com descobertas arqueológicas (peças de armaria: flecha, punhal, besta, balas; elementos decorativos: brincos, anéis, alfinetes, fivelas, pinça, jarras, botão, frascos, taças, potes, jarras) e outra, fotográfica (intitulada: "Silves, paisagem urbana, dois olhares") a comparar duas diferentes épocas do mesmo local, da cidade.

Depois de ter andando nas muralhas fui ver as escavações do palácio principal e almoada (é a única edificação deste tipo totalmente escavada, em Portugal) com complexos de banhos (como se sabe, o ritual de ablução ou limpeza corporal antes das orações sempre foi extremamente importante para os Muçulmanos).










Existem ainda duas cisternas. A primeira, designada por "cisterna dos cães" (este nome vem do facto de meados do século passado se atirarem para ali cães vadios da cidade, credo... cruzes...) está quase completamente escavada no substrato rochoso, é um poço com profundidade de 70 metros (alguns até dizem que tem ligação com o rio).





A outra designada por "cisterna da moura" foi edificada nos séculos XII e muito importante, no abastecimento de água à população da alcaçova, na resistência a cercos prolongados, contra a ameaça cristã. Constituída por 12 colunas, tem capacidade para 1.300.000 litros de água que chegava para abastecer mais de 1000 pessoas durante um ano.
Reza a lenda, que à meia noite do dia 24 de Junho, ouvem-se os lamentos de uma princesa moura, condenada a remar num barco de prata até que um príncipe Arabe a resgate.


Exterior e interior da Cisterna da Moura


Lamentos à parte, a verdade é que no interior desta cisterna existem muitos achados arqueológicos numa espécie de galeria protegida por (imagine-se) água!

E deambulando pela alcaçova, sentindo no ar o delicioso aroma a rosas, nas muralhas do lado poente vi um bonito jardim particular.









No primeiro dia do ano, tivemos ainda o privilégio de ouvir um grupo de música (Banda Atlântica) ao vivo no Café do Inglês, um estabelecimento muito próximo do castelo. Não deixem de provar aqui as estaladiças pizzas e as deliciosas sobremesas Banoffee (tarte de banana com caramelo) e Chocolate St. Emillion (bolo de chocolate com amendoa e rum) se passarem por lá.





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