Madeira - lado oriental e Eira do Serrado
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Madeira - lado oriental e Eira do Serrado


A trilha que leva ao mirante de Eira do Serrado, ladeada por árvores queimadas

      Conforme pudemos verificar nos posts anteriores, as inúmeras atrações do Funchal podem ser facilmente alcançadas a pé ou por ônibus municipais. A situação se complica quando queremos conhecer as atrações da natureza exuberante presente no restante da ilha. A rede de ônibus intermunicipais, apesar de eficiente, não ajuda muito o turista, pois basicamente interliga as cidades maiores à capital, seguindo pelas novas estradas recentemente construídas. Existe a opção de se alugar um carro, mas fica o alerta de algumas das rotas mais interessantes passarem por estradas estreitas e extremamente sinuosas. Para quem não dirige ou não quer se arriscar, restam as excursões por vans ou miniônibus, abundantes na Madeira e a preços razoáveis. As excursões tradicionais são basicamente três, com roteiro pouco variando (mas o preço sim) entre as agências: Madeira Oriental e Madeira Ocidental , ambas ocupando um dia inteiro, e Eira do Serrado com retorno via Monte, que leva meio dia e que algumas agências oferecem de brinde se adquirirmos as outras duas. Optei pelo pacote completo com as três excursões, bastante distintas em termos de atrativos, pagando €65.

          Eira do Serrado é um mirante localizado a dezesseis quilômetros do Funchal, em meio às montanhas a mais de 1000 metros de altitude. Após uma breve caminhada a partir do seu estacionamento, se tem uma visão espetacular do vale com a vila de Curral das Freiras na sua base,  muitos metros abaixo. O vale, uma autêntica  e profunda cratera  originária de um vulcão extinto há milênios, era tão isolado que o sinal de televisão só chegou à vila em 1986. Há sete anos a dificuldade de acesso ao Curral se encerrou de vez com a construção de um túnel varando a montanha. Reza a lenda que as tais freiras fugiram do Convento de Santa Clara no Funchal, se refugiando no vale para se esconder de piratas que tinham invadido a costa. Lembro de ter lido em um guia de viagens que o efeito da visão de todo o conjunto lembrava Shangri-La, o paraíso do livro "Horizonte Perdido". Não sei se foi efeito do nevoeiro sobre os paredões altíssimos que cercam o vale, mas para meu total espanto a comparação não era exagerada.
       
Zoom da vila do Curral das Freiras, cercada de montanhas por todos os lados, vista de Eira do Serrado em meio ao nevoeiro

         O mirante possui um restaurante no início da trilha, e anexo a ele, uma loja de lembranças, com destaque para os lindos bordados característicos da ilha, presentes em toalhas de mesa, lenços, tapeçarias e outros acessórios. Os bordados da Madeira têm fama internacional, sendo uma das atividades de exportação características da ilha. O trabalho artesanal, feito em casa pelas mulheres madeirenses, pode levar mais de um ano na confecção do bordado, sendo os mais trabalhados muito bonitos e caros.   Lojas de venda dos bordados podem também ser encontradas na capital e os produtos feitos manualmente na Madeira ostestam um selo de qualidade, atestando a sua procedência.

O extremo nordeste da Madeira, visto do Pico do Facho
           Já a porção oriental da Madeira é pródiga em belas paisagens, com  penhascos e costões abruptos à beira mar. Uma vista excelente da região pode ser obtida do mirante do Pico do Facho,  de onde foi tirada a foto acima e a do aeroporto mostrada no post introdutório da Madeira. Este pico se localiza junto à  cidade de Machico, local da descoberta da Madeira, cuja vista compõe o post de abertura desta série.  Um dos pontos mais fotogênicos  de toda a ilha é o Mirante da Ponta de São Lourenço, de onde se avistam os rochedos que formam a extremidade leste da Madeira. Toda esta região selvagem fustigada pelos ventos é uma reserva natural protegida pelo Governo.
   
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Os rochedos da Ponta de São Lourenço

           A quarenta quilômetros a nordeste da Ponta se encontra a Ilha de Porto Santo, cujas atrações são basicamente duas: sua longa praia de areia, invadida a cada verão pelos madeirenses que lá se bronzeiam, e o Museu de Cristóvão Colombo, na casa onde este teria vivido. Colombo efetivamente se estabeleceu como mercador em Porto Santo em 1478, tendo inclusive se casado com a neta do primeiro governador local. Teria vivido lá por dois anos até a morte da esposa.
            Para quem se interessar, um ferry une as duas ilhas num percurso de duas horas.
    
Faial, entre a serra e o mar

        Da Ponta de São Lourenço a Santana, no norte de Madeira, as estradas serpenteiam pelos morros da costa, numa sucessão de penhascos e mirantes soberbos,  passando por vilas encravadas em localizações pitorescas, como é o caso de Faial, sob a sombra do morro Penha da Águia (não confundir com a linda ilha açoriana do Faial, objeto de outro post neste blog).

A costa norte, a partir da estrada que une a Ponta de São Lourenço a Santana

        A cidade de Santana,  uma das poucas cuja população municipal decresce a cada censo, tem como atrativo alguns parcos exemplos das antigas casas típicas da ilha, chamadas de casas-palheiro, com teto triangular de sapê e janelas pintadas em cores vivas.

         Um dos maiores chamarizes das excursões a Madeira Oriental é a subida ao Pico do Arieiro, que paradoxalmente fica no centro da ilha e é um dos seus pontos culminantes, a mais de 1.800 metros de altitude. De lá se tem uma boa vista da cordilheira que permeia o miolo da Madeira. Não pude atestar a veracidade da informação, pois jazia um nevoeiro denso que impedia a visão dois metros à frente, em meio a um frio colossal. O pico é envolvido pela floresta nativa laurissilva que ocupa a região central da Madeira, parte da reserva natural da ilha que é Patrimônio da Unesco. Infelizmente uma grande área de 6.000 hectares foi destruída por um terrível incêndio  no mês anterior à minha chegada, provavelmente causado pelo calor excessivo anormal. As folhas em amarelo escurecido das árvores que estavam parcialmente queimadas formavam um espetáculo ao mesmo tempo bonito e muito triste (veja a foto que abre o post). A reação dos madeirenses com os quais conversei a respeito era de muita desolação.

As casas-palheiro típicas em Santana
     
.         No post que encerra a série sobre a Madeira, desvendaremos o seu lado ocidental, o mais rústico.

* Este é o quarto de uma série de cinco posts sobre Madeira, Portugal. Para visualizar a série, acesse: Madeira, muito além da produção de vinhos.



  Postado por  Marcelo Schor  em 29.03.2012  



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