Após, passadas duas décadas voltei novamente à Portalegre. Na primeira, num programa escolar da aula de Têxteis, fiz a visita a uma fabrica de manufatura de tapetes desta animada cidade, num dia de semana. Agora, num domingo solarengo, presenciávamos uma cidade do interior alentejano quase deserta, onde visitamos este museu que conta a história da tecelagem, de uma tradição relativamente recente no país.
Isto, porque apesar de em Portugal existir uma grande tradição têxtil com a maioria dos feitos épicos representados em tapeçarias, estas eram executadas na França e/ou na Flandres. Foi só depois do terramoto de 1755, após terem sido destruídas grande parte das peças, é que o Marquês de Pombal teve a ideia de conceber duas fábricas de tecelagem (uma em Lisboa e outra em Tavira) que não só não resultaram como quase só dois séculos depois é que voltaria a existir realmente tecelagem em Portugal...
Quando, em 1946, dois amigos (
Guy Fino e Manuel Peixeiro) resolveram reviver a tradição de tapetes em ponto de nó e depois aceitaram o desafio da tapeçaria mural com um ponto (o "ponto de Portalegre") inventado pelo pai de um dos elementos, enquanto estudante têxtil na França.
Apesar da grande resistência na aceitação da tapeçaria portuguesa foram os próprios tapeceiros franceses que reconheceram a importância da tapeçaria de Portalegre, em 1952, na exposição "A tapeçaria francesa da idade média ao presente".
Parecem-lhe idênticas não parecem?
Mas não! Aquando da visita à fábrica de Portalegre, em 1958, por
Jean Lurçat (renovador da tapeçaria Francesa),
Guy Fino aproveitou a ocasião e confrontou as duas técnicas diferentes (a do estrangeiro e a nacional) com estas duas tapeçarias (à da esquerda, tecida em França e a da direita, uma réplica tecida em Portalegre), saindo vencedora a da direita (apesar de não se ver bem nesta foto, a tecida em Portalegre apresenta os contornos mais bem definidos e bem mais bonitos).
As tapeçarias são belíssimas reproduções de telas originais de pintores, únicas pelas suas qualidades intrínsecas e pela técnica utilizada para reproduzir a original (representado em papel quadriculado em que cada quadrícula representa um ponto e fazendo a equivalência entre o original e as mais de 7000 cores da paleta de lãs, ver foto abaixo).
Apesar das instalações fabris estarem fechadas aos domingos visitamos esse museu com as várias tapeçarias expostas e adorei! Já são mais de duas centenas de pintores que viram as suas telas passadas a tapeçaria de Portalegre. É possível também solicitar, por encomenda, peças únicas à fábrica (mais informações em: www.mtportalegre.pt).
Este museu abriu as suas portas em 2001 e funciona das 9 às 13 horas e das 14 às 18 horas, com encerramento às segundas!
Depois visitamos uma das muralhas do sobrevivente castelo, estranhamente modernizado (atualmente, com uma espécie de galeria de exposições temporárias: "Esculturas Habitáveis") para o meu gosto e vimos um plátano de 1838, depois de um aceitável almoço no restaurante "O escondidinho", antes da viagem de regresso até ao algarve!