As obras de arte nas ruas de Chicago
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As obras de arte nas ruas de Chicago



A State Street: o relógio da Macy's, o letreiro do Chicago Theater e os postes de iluminação remetem a décadas atrás

         Miró, Picasso, Chagall. Ao sair do hotel, eu tinha em minhas mãos uma lista de obras de arte de alguns dos maiores mestres europeus para conhecer naquela manhã. Vocês devem estar se perguntando se eu visitaria algum museu. E a resposta é negativa; o dia estava reservado para passear pelo centro de Chicago. Todas as obras que eu mencionei estão espalhadas pelas suas ruas, ao alcance de todos. O melhor, de graça. Só mesmo em Chicago! 



        O centro de Chicago é um colírio para os olhos de quem aprecia arquitetura e arte moderna. É um dos centros de cidades americanas mais cativantes que já visitei. Totalmente destruído pelo Grande Incêndio de 1871, foi logo reconstruído e hoje ainda apresenta vários dos primeiros arranha-céus que foram erguidos no mundo, com técnicas revolucionárias para a época.

         A área é conhecida como Loop, devido ao anel que forma a linha elevada do metrô - o sistema metroviário foi inaugurado em 1882 já para desafogar as ruas então congestionadas, circundando os quarteirões mais antigos da metrópole. Você vai encontrar vários exemplos de prédios antigos erguidos num estilo original, além das esculturas e murais que mencionei – uma combinação ímpar entre o antigo, belo, e o moderno, arrojado, que distingue Chicago das outras cidades.

A linha do loop com a estação Wabash/Randolph. Ao fundo, a Trump Tower.

         O loop do metrô em si atrai olhares curiosos. Cenário de vários filmes e séries de TV, o anel foi construído em 1882 e acabou batizando todo o sistema, chamado de "L" (começo da palavra elevated). Suas estações elevadas ainda detêm um ar bem retrô, especialmente quando você passa por algumas catracas que parecem saídas de um filme do cinema mudo. O único senão é o barulho ensurdecedor que invade a calçada abaixo a cada passagem do trem. Vale a pena embarcar numa dessas estações e fazer a volta completa (veja as dicas sobre o metrô no post inaugural da série).

      A melhor forma de se conhecer a área do Loop é passear a pé pelas ruas, traçando um roteiro para se conhecer os diversos monumentos. Como o traçado das ruas é em formato xadrez, é bem fácil se achar. As ruas são divididas em porções leste e oeste, como em Nova Iorque, e norte e sul.  As numerações em cada direção se iniciam na Madison Street e State Street. Esta última por sinal é um ícone de Chicago, onde antigamente se concentravam as principais lojas e hoje ainda se localiza uma das mais importantes Macy's do país.

Relógio dependurado na esquina da Wacker Drive com Wabash Avenue

          Ao percorrer as ruas, você vai perceber um diferencial – as fachadas são limpas, sem grandes anúncios de neon ou outdoors que as tapem. Vários dos prédios antigos apresentam relógios magníficos dependurados nas fachadas. Os mais famosos são os dois relógios da Macy’s na State Street, que foram inaugurados em 1897 e pesam 6,8 toneladas cada. Os letreiros verticais dos vários teatros dão um charme adicional à região. A Prefeitura faz questão de promover este ar de década de 30 “clean”, bem diferente da Chicago violenta e ameaçadora dessa época, que povoou o imaginário durante anos, graças a gângsteres como Al Capone. De qualquer forma, os governos mais recentes fizeram o possível para apagar essa “mancha” da história da cidade. Só vi uma breve menção a Al Capone no Museu de História de Chicago, sobre o qual vou falar no próximo post.

Monumento à Guerra do Vietnã

           Por sinal, o primeiro monumento que visitei ficava a uma quadra do meu hotel, à beira do rio Chicago, abaixo do nível da rua e por isso meio escondido  – o Memorial dos Veteranos do Vietnã, inaugurado em 2005 e que contém o nome dos 2.900 nativos de Illinois que pereceram na Guerra. Um memorial situado numa área muito bonita, com vista para vários marcos arquitetônicos e que é sóbrio e singelo (coisa rara), apropriado para a homenagem que presta,


A escultura sem nome por Pablo Picasso, sob dois ângulos diferentes

      Voltando aos monumentos ao ar livre dispersos pelo centro, o mais conhecido, e que por muito tempo foi considerado o símbolo de Chicago, é a escultura sem nome projetada por Pablo Picasso. Está situada na Daley Plaza, a praça junto à Prefeitura. Inaugurada em 1967 sob polêmica, permite interpretações diferentes – seria um macaco mandril, um louva-deus, um anúbis? A própria falta de denominação, possivelmente proposital, já permite que voe a imaginação de quem contempla esta obra-prima doada pelo mestre à cidade. A forma com que foi concebida permite ainda que a base da escultura possa ser escalada por crianças, o que ocorre em ocasiões festivas. Não é em todo lugar que se pode vangloriar de um dia ter brincado sobre uma obra de Picasso...

Miss Chicago, por Miró

        O sucesso obtido pela escultura pioneira de Picasso inspirou outros grandes artistas a também montarem trabalhos de arte para a cidade. Do outro lado da rua já se encontra outra estátua, desta vez do mestre catalão Joan Miró. Inaugurada em 1981 na entrada de um beco e feita de aço, bronze e concreto, causa um impacto bem menor que sua colega de Picasso. Para compensar a falta de denominação da outra escultura, esta tem duas: Miss Chicago ou The Sun, the Moon and One Star. Os dois nomes juntos corroboram a visão do artista, que imaginou a esfera no pescoço da figura como a lua enquanto o garfo (seus cabelos?) simbolizaria a estrela.

Monument with the Standing Beast, por Jean Dubuffet

       A uma quadra de distância, um outro monumento chama a atenção na esquina da Randolph Street com a Clark Street. A escultura em fibra de vidro Monument with the Standing Beast, projetada pelo francês Jean Dubuffet em 1984, é intrigante, mas não dá para não rir com a irreverência dos moradores de Chicago, que apelidaram o monumento de “Snoopy no liquidificador”. Vale a pena entrar no edifício atrás da estátua,  o James R. Thompson, para apreciar o seu átrio gigantesco e quem sabe depois comer na praça de alimentação subterrânea.

Flamingo, por Alexander Calder

   Ainda digna de nota há uma escultura enorme vermelha, Flamingo, pelo norte-americano Alexander Caldwell, considerado o maior expoente de móbiles, as esculturas abstratas com partes móveis. A escultura se encontra algumas quadras ao sul das demais, na Federal Plaza, na Dearborn Street. Aqui fiquei bem impressionado: os prédios governamentais mais modernos em cinza, que formam a praça, definitivamente fornecem um envoltório que valoriza bastante a obra.

Parte do mosaico Four Seasons, por Marc Chagall

            Fechando o conjunto, o mural Four Seasons por Marc Chagall ocupa uma parte considerável da Chase Tower Plaza, na Dearborn Street perto da Monroe Street. Em 1974 o grande artista russo procurou retratar seis cenas de Chicago nos quatro lados dos 21 metros do mosaico, e para isso usou milhares de pastilhas em 250 cores diferentes.

O saguão no The Rookery

        Dentre os diversos prédios antigos espalhados por Chicago, um me chamou a atenção. O pioneiro The Rookery é um dos mais famosos situados no Loop. Inaugurado no longínquo ano de 1888 com doze andares, era um verdadeiro arranha-céu para a época. O prédio é conhecido pelo seu saguão de entrada, bastante original e imponente, bem amplo e muito bem iluminado graças ao teto de vidro . O saguão foi desenhado por Frank Lloyd Wright em 1905. Wright é um dos mais famosos arquitetos americanos e há várias casas projetadas por ele no subúrbio de Oak Park, a onze quilômetros do centro,  que infelizmente não pude visitar por falta de tempo.

          Ainda ficou faltando falar das obras de arte expostas nos parques, mas isto será assunto do próximo post, o último sobre Chicago, dedicado às suas áreas verdes.

* Este é o quarto post da série sobre Chicago. Para visualizar os demais, acesse  Chicago, uma metrópole fascinante.

 Postado por  Marcelo Schor  em 02.03.2015 




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