Viagens
As fumegantes Furnas açorianas
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Um gêiser em Furnas |
Se Sete Cidades são a maior atração dos Açores, Furnas certamente levam o título de mais exótica. O vale de Furnas se situa na parte oriental da ilha de São Miguel e contém a lagoa e a vila de mesmo nome. A denominação se origina das fontes quentes emergindo de buracos espalhados pelo vale, que parece literalmente um caldeirão quente borbulhante. Pela primeira vez na viagem, a palavra "caldeira" pôde ser levada ao pé da letra.
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A Lagoa de Furnas vista do Mirante do Pico do Ferro |
Como os demais vales vulcânicos nos Açores, a Caldeira de Furnas surgiu após uma erupção ocorrida há milênios. A última registrada em 1630 foi tão devastadora que acabou com dois lagos, deixando somente a Lagoa de Furnas. Para apreciar melhor a extensão do vale verdejante, a melhor vista é obtida do Mirante do Pico do Ferro, a 570 metros de altitude.
O que me surpreendeu na vila foi a dispersão dos diversos gêiseres, sempre expelindo fumaça, em meio a ruas e casas. Existem mais de duas dezenas de fontes borbulhantes ou de água mineral. Quanto ao odor de enxofre que acompanha as fontes, após algum tempo nos acostumamos a ele.
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A vila de Furnas em outra vista a partir do Mirante do Pico do Ferro |
O vale é cruzado por dois rios, sendo um de água quente que passa pela vila. Furnas conta com uma área para banhos quentes a 30 °C na água férrea e na lama medicinal junto ao rio, a
Poça de Dona Beija, e um parque cuja construção inicial data do século XVII, o
Terra Nostra, com jardins, lagos, hotel e uma piscina termal. Por isso, Furnas é rotulada em alguns folhetos turísticos como "a maior hidrópole europeia".
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Outra fonte quente em Furnas, a Caldeira do Esguicho |
Um parêntesis: para quem deseja se banhar nas águas quentes, recomendo viajar mais um pouco até perto de Ribeira Grande. Numa localidade apropriadamente chamada de
Caldeira Velha, existem mais fontes ferventes e piscinas naturais de água quente corrente, só que no meio da floresta com direito também a pequenas cascatas nestes açudes. Um autêntico paraíso! No local existem algumas cabines para troca de roupa. Pela sua exuberância formando uma reserva, a Caldeira Velha foi nomeada Monumento Natural dos Açores.
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A convidativa piscina natural quente na Caldeira Velha |
Uma experiência inesquecível em Furnas é saborear o seu lendário
Cozido na Caldeira, acompanhando as etapas da sua "produção". Primeiro, para abrir o apetite, nosso grupo caminhou por uma hora na trilha pela floresta margeando a Lagoa de Furnas, que conta com dois km² de superfície. Pena que na metade do caminho começou a chover... Chegamos então a um terreno na borda da lagoa com várias fontes quentes expelindo vapor. Lá se encontravam enterrados em montes de terra a um metro de profundidade diversos panelões, cozinhando há seis horas somente com o calor da terra. A retirada dos panelões na hora do almoço é um espetáculo devidamente aguardado e fotografado por uma horda de turistas. Em seguida, seguimos para um dos vários restaurantes da vila, onde o cozido foi servido em régia porção. O cozido, composto de carnes de boi, porco e frango misturados a batata, inhame, cenoura, repolho e morcela, é realmente saboroso - um dos melhores que já provei.
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O momento em que o panelão com o cozido é retirado da terra |
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O cozido de Furnas servido à mesa |
Quem visita Furnas costuma incluir no roteiro uma outra atração nas proximidades: as plantações de chá, únicas na Europa. Visitei a de Porto Formoso, que de quebra está situada num local com vista privilegiada, na costa norte. O chá, inicialmente usado como planta decorativa, teve o cultivo iniciado no século XVIII com sementes brasileiras. Posteriormente, o plantio se voltou para a extração da erva para bebida. A visita inclui um vídeo sobre o plantio e prova de um dos três tipos exportados plantados no local, extraídos de tipos de folha diferentes da mesma planta.
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Plantação de chá de Porto Formoso com a vila de mesmo nome ao fundo |
No caminho de retorno a Ponta Delgada, vale a pena parar em Vila Franca do Campo. Primeira capital de São Miguel, perdeu o posto para Ponta Delgada em 1536, após sofrer um terremoto violento que a destruiu. Diante da cidade se situa o Ilhéu da Vila, nascido de um vulcão. Uma das paredes da cratera cedeu, formando uma piscina natural circular perfeita com acesso pelo mar. No verão, barcos transportam os banhistas e adeptos de snorkel até a ilhota.
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Vista de Vila Franca e seu ilhéu, obtida da Ermida |
A outra atração de Vila Franca é a Ermida de Nossa Senhora da Paz, uma igreja no alto do morro com vista para toda a cidade. Acessada por uma bonita escadaria decorada com azulejos, foi construída em 1764. Ao se apreciar a bela vista, é interessante notar a quantidade de construções geminadas com teto triangular branco, que são as estufas de ananases descritas no post sobre Ponta Delgada.
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A Ermida de Nossa Senhora da Paz |
Dicas para viagem aos Açores:Apesar da temperatura raramente passar dos 27 graus em julho ou agosto, a sensação térmica é muito maior devido à umidade alta. Já no inverno, prepare-se para eventuais cancelamentos de voos entre as ilhas (a cargo da empresa Sata) devido ao mau tempo.
Além das três ilhas visitadas, há duas adicionais que também costumam entrar em roteiros turísticos: Terceira, a ilha lilás, com a cidade histórica de Angra do Heroísmo, e São Jorge, a ilha castanha, bastante montanhosa e repleta de fajãs, terrenos cultiváveis à beira mar oriundos do derramamento de lava. Nos meses de verão, São Jorge é conectada à ilha do Faial via Pico por barco diário.
Tanto em Horta quanto em Ponta Delgada usei táxis para o traslado entre o aeroporto e o hotel. Os preços são tabelados em €12 e €10, respectivamente.
As atrações naturais das ilhas se situam fora das capitais. Normalmente, os ônibus interurbanos tradicionais são de pouca valia para os turistas, com horários voltados para os trabalhadores e estudantes que passam o dia na capital e voltam às suas casas no final da tarde. Uma exceção é a rede de transporte de São Miguel, mais frequente para algumas localidades como Ribeira Grande e Vila Franca. Existem três alternativas para o deslocamento:
alugar um carro. As estradas asfaltadas são de qualidade excelente.
embarcar numa excursão – foi a minha opção. Além da excelente Horta Cetáceos em Faial, posso recomendar a Futurismo e a Belazorica em São Miguel, com bons guias e roteiros. Nas excursões ao interior do Faial e a Sete Cidades, o veículo utilitário (chamado de jipe) fez diferença, por enveredar em caminhos belíssimos pelos quais um carro normal teria dificuldade em passar. Excursões de meio dia custam cerca de €35, e as de dia inteiro, entre €60 e 70. Reservei todas as excursões nas recepções dos hotéis.
fazer um tour por táxi – muitos taxistas são autênticos dublês de guias. Pode-se contratá-los para passeios de meio dia ou dia inteiro, e o roteiro é moldado a gosto do freguês. A partir de duas pessoas, o preço já pode sair mais em conta que uma excursão, além da vantagem de você decidir o tempo de permanência em cada local.
* Este é o último da série de sete posts sobre os Açores, Portugal. Para visualizar os demais, acesse: Açores, um paraíso no Atlântico.
Postado por Marcelo Schor em 16.08.2012
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