Viagens
A Pequena Suíça que existe em Luxemburgo
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Trem rumando ao interior de Luxemburgo. Em primeiro plano, o bairro do Grund, na capital. |
Poucos brasileiros permanecem em Luxemburgo tempo suficiente para conhecê-lo melhor, o que é uma pena. E uma quantidade infimamente menor se aventura no interior do país, mas este esconde alguns tesouros, facilmente acessíveis. Afinal, não podemos esquecer que o país mede sessenta quilômetros de ponta a ponta.
A saída da cidade de Luxemburgo rumo ao norte pode ser feita tanto por ônibus quanto por trem. Este só possui um ramal, mas a parada de Ettelbruck funciona como hub, com várias linhas de ônibus intermunicipais saindo dali e se espalhando para todos os cantos da região. O trem possui uma ótima vantagem adicional: a vista da cidade obtida do viaduto que sai da estação ferroviária da capital (o da foto acima) é insuperável - confira na primeira foto do post anterior, sobre a cidade de Luxemburgo.
Para estes passeios, uma dica interessante é a aquisição do Day Pass por quatro euros, que dá direito a viagens rodoferroviárias ilimitadas por todo o país ao longo do dia.
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A cidade de Vianden, vista do mirante |
Visitei três localidades distintas, sendo as duas primeiras situadas nas Ardennes, região ao norte que ocupa a maior parte do país e se estende pela Bélgica. É uma área mais rural, formada por vales fluviais profundos tomados por florestas, com pequenas cidades. Algumas batalhas importantes nas duas Guerras Mundiais foram travadas lá.
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A ponte sobre o rio Our e o castelo de Vianden |
A mais visitada por turistas é Vianden, situada no nordeste do país. A cidade, de 1.500 habitantes, é dominada por seu castelo, situado no alto do morro. O castelo foi esplendidamente restaurado nas últimas décadas. Construído pelos condes de Vianden no século XIII, deve ser visitado, com destaque para a Sala dos Cavaleiros.
Outro ponto de interesse é o mirante da cidade, com bela vista para o vale do rio Our. Pode ser alcançado por trilha desde o castelo ou por cadeira elevada (chairlift) a partir da cidade.
Há ainda um pequeno museu dedicado a Victor Hugo, na casa onde o famoso escritor francês passou alguns meses em 1871, situada junto ao escritório de turismo.
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A vila de Esch-sur-Sùre, à margem do rio Sûre |
A segunda localidade visitada foi Esch-sur-Sûre. Trata-se de uma vila bastante bucólica e pitoresca. Suas ruas foram construídas galgando um monte em meio à floresta numa curva em formato de ferradura no rio Sûre (em alemão, Sauer). No topo do morro ficam as ruínas de um castelo às quais ascendemos após passar por avisos do tipo “suba por sua própria conta e risco”. Nos meses de verão, hordas de turistas invadem o lugarejo, mas em meados da semana em maio a vila estava praticamente deserta. Aliás, só a paisagem dos campos e florestas no trajeto até lá já valeu a viagem. Para quem gosta de caminhadas, a região possui inúmeras trilhas.
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A Praça do Mercado em Echternach em dia chuvoso, com a Prefeitura ao centro |
Já a cidade de Echternach, a mais antiga de Luxemburgo, é bem maior, e está situada na parte leste do país conhecida como Petite Suisse (Pequena Suíça), em razão dos seus terrenos ondulados e verdejantes. As extravagantes formações rochosas em arenito nas cercanias de Echternach atraem muitos interessados.
A cidade pode ser alcançada por ônibus a partir da capital. Após se descer a rua principal do comércio, Rue de Gare, alcançamos a bonita Praça do Mercado, onde se destaca o prédio da Prefeitura, o Dënzelt, em estilo gótico renascentista, e que antes abrigou o Tribunal da região.
Um pouco mais adiante se concentra o principal conjunto arquitetônico histórico, começando pela Basílica de St. Willibrord, erigida no século XI, que contém a cripta do santo. A basílica foi danificada na Segunda Guerra Mundial e posteriormente reconstruída. Logo atrás, a imensa Abadia Beneditina chama a atenção com seu formato quadrangular cercando um pátio, e hoje abriga uma escola. Seus monges exerceram enorme influência na Idade Média. A Abadia é separada do rio Sûre por um belo parque.
Echternach é muito conhecida pela sua procissão religiosa dançante na terça-feira após Pentecostes, em maio, uma das últimas ainda existentes na Europa. A festa atrai milhares de fiéis católicos. Ao som de uma música típica no estilo da polca tocada por uma banda, os peregrinos progridem pelas ruas da cidade dançando seguindo uma coreografia, com as mãos unidas por lenços brancos.
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A praça da Basílica (à direita) em Echternach |
Um outro aspecto que remete à Suíça é a pluralidade de idiomas (a Suíça possui quatro oficiais - alemão, francês, italiano e romanche). Estando encravado entre França e Alemanha, a população de Luxemburgo tenderia a falar o francês ou o alemão? A questão me veio à tona quando viajava no ônibus interurbano no retorno de Vianden. Além de mim, viajavam três crianças acompanhadas de uma senhora. Bem, as placas nas cidades e na estrada eram em francês; os avisos no interior do veículo estavam em alemão; as crianças conversavam em luxemburguês (que confesso não saber antes que existia...), mas a mãe deu uma bronca no filho em bom português.
Portanto, a resposta é um pouco complexa: na realidade, francês e alemão são utilizados na escrita, com notável predominância do francês. Entretanto, o que mais se ouve é o luxemburguês, uma mistura de alemão antigo e francês falada pela maioria dos habitantes, mas cuja versão escrita não é muito usada. Estes são os três idiomas oficiais de Luxemburgo. Como 10% do total da população é formada por imigrantes portugueses e seus descendentes, é comum ouvirmos o idioma luso, especialmente em restaurantes. Ou seja, na prática o país é tetralingüe. Surreal... Como curiosidade final, o nome do país em luxemburguês não contém o tradicional "Lux": Lëtzebuerg.
* Este é o segundo de uma série de dois posts sobre Luxemburgo.
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