Vale Sagrado Inca: Moray e Maras
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Vale Sagrado Inca: Moray e Maras



As ruínas de Moray

        Sexto dia no Peru e segundo no Vale Sagrado. Seria um dia puxado, pois após conhecer mais atrações do Vale, embarcaria no trem para Machu Picchu no final da tarde. Partimos no início da manhã para duas atrações que fogem ao estilo das demais ruínas do Vale: Moray e as salinas de Maras. Para chegarmos lá subimos bastante por uma estradinha a partir de Urubamba até alcançarmos uma altitude de 3.500 m , um pouco mais alto que Cusco. Foi nesta estrada que passamos por vários camponeses no seu dia a dia, andando a pé ou de carroça ou conduzindo rebanhos. Algumas mulheres usavam a vestimenta típica da área, que inclui um chapelão alto e estreito. Aliás, a província de Urubamba é uma das que possuem um dos maiores índices de fala habitual do quéchua, o idioma nativo dos incas de onde provêm as denominações dos lugares e que é uma das três línguas oficiais do Peru (além do espanhol, existe ainda o aimará).

Outra visão dos anéis concêntricos de Moray

          Moray é um sítio arqueológico situado em meio às montanhas que não é tão visitado como as demais atrações do Vale Sagrado, talvez pelo seu isolamento. Havia pouquíssimos visitantes além de nós. De qualquer forma, achei o lugar fascinante, não só pelo cenário onde está localizado, em meio a picos andinos salpicados de neve, como também pela obra-prima de tecnologia inca diante dos nossos olhos. Ultimamente Moray vem despertando interesse um pouco maior nos brasileiros graças à filmagem de uma cena importante da novela “Amor à Vida”, um encontro entre os personagens Ninho e Paloma.

Os anéis internos com os Andes ao fundo

         As ruínas são formadas por alguns conjuntos de  depressões contendo anéis (ou círculos) concêntricos distribuídos em platôs, avançando em profundidade e podendo chegar aos 35 m. De longe, lembram os anfiteatros gregos ou uma tigela gigante escavada na terra.  Com o efeito combinado do sol, sombra e profundidade,  a  diferença de temperatura entre o anel do topo e o mais profundo supera os 10 °C, criando inúmeros microclimas. Supõe-se que os incas usavam Moray como um laboratório para experiências agrícolas nas colheitas. Um sistema de irrigação engenhoso completava o conjunto. Nossa guia acrescentou que os incas eram aperfeiçoadores exímios, aproveitando técnicas desenvolvidas por civilizações anteriores e as melhorando até níveis inimagináveis para a época em campos diversos como agricultura, construção e astronomia. Os grandes conjuntos agronômicos de Moray seriam dedicados a várias plantações, e as hipóteses de cultivo vão da batata à coca.

             Após entrarmos apresentando o boleto turístico, percorremos toda a área caminhando pelo alto e depois fomos explorar um dos conjuntos, primeiro descendo por um caminho de terra até chegar à borda da "tigela" e em seguida vencendo a diferença entre cada anel  por escadinhas nas laterais das muradas de pedra, até um círculo intermediário. Os círculos inferiores estavam com o acesso bloqueado – Moray foi muito afetada pela enxurrada de 2010 e vem sendo lentamente restaurada.

Anéis de Moray com algumas obras de restauração em andamento à direita

          Alguns quilômetros retornando pela estrada, atravessamos a cidadezinha de Maras, uma vila pacata com ruas muito estreitas e casario antigo e praticamente sem vivalma à vista; parecia uma cidade fantasma às dez da manhã de uma terça-feira. Chegamos então às Salinas de Maras. Paramos pouco antes da entrada num ponto da estrada para tirarmos fotos. O turista desavisado tem dificuldade em entender do que se trata - uma paisagem meio alienígena ao longo da encosta. 

            As salinas são um conjunto de mais de 3.000 tanques de sal, extraído a partir de um riacho de água salgada quente que brota das montanhas. Maras não faz parte do boleto turístico de Cusco, mas a entrada é barata, sete soles. Para o nosso grupo, o ingresso estava incluído no pacote.

A primeira visão das Salineras de Maras a partir da estrada

            Após a entrada, passamos por algumas lojas e chegamos a uma varanda onde se pode descortinar melhor como funcionam as salinas. No alto, o riacho (mais para um filete d'água , como podemos verificar na foto abaixo). Os tanques são piscinas de cerca de 5 m² que se situam em platôs encosta abaixo. Cada tanque fica ligeiramente abaixo do anterior ; a água passa do riacho para o tanque superior, e através de passagens no muro dos tanques, vai se derramando de um para o outro. Com os tanques cheios, as passagens são fechadas por obstáculos colocados manualmente. Então se inicia a evaporação da água, que deixa o sal no fundo do tanque. Após alguns dias, os mineradores limpam o sal do fundo e das paredes do tanque, carregando-o em sacos. O processo então se reinicia com a reabertura das "comportas" em cada piscina.

O filete de água salgada correndo na parte superior das salinas, com alguns turistas fotogrando

      As famílias da localidade trabalham na extração do sal há muitas gerações - as salinas foram estabelecidas numa época anterior aos incas. Cada família é responsável por um grupo de tanques.  É interessante (e triste) notar que o processo de extração é praticamente o mesmo daquela época. Os mineradores manipulam o sal sem qualquer equipamento de proteção, como luvas ou óculos.

Os tanques das salinas de Maras

            Na época do inverno, de maio a outubro, os tanques tem uma coloração branca, mas como estávamos já em novembro, início da temporada de chuvas, a cor dos tanques já estava se alterando para o marrom. A qualidade do sal  produzido pela comunidade de trabalhadores varia - os de segunda categoria são direcionados para alimentação de animais, já os de primeira são vendidos para consumo em restaurantes e nas lojas da entrada.
     
A  vista  idílica a partir da varanda do Restaurante Tunupa, às margens do rio Urubamba

          Voltamos para Urubamba a tempo de almoçar num restaurante famoso da área, o Tunupa. Assim como o restaurante do dia anterior, a refeição estava incluída no pacote e comemos no sistema de bufê apreciando uma bela vista na varanda. O que fez a diferença foi uma dupla de músicos tocando instrumentos típicos. Já cansei de ver apresentações de música andina no calçadão do Largo da Carioca no Rio, mas os do Tunupa eram excepcionais.

           Em seguida, rumamos para Ollantaytambo, local do embarque no trem para Machu Picchu e objeto do terceiro e último post sobre o Vale Sagrado.
 
* Este é o sexto post da série sobre o Peru. Para visualizar os demais, acesse  Rumando ao Peru, a Terra dos Incas.

 Publicado por  Marcelo Schor  em 23.04.2014 



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