Os encantos de Lucerna
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Os encantos de Lucerna


A Ponte da Capela, o cartão postal principal de Lucerna

        Emoldurada pelos Alpes, plantada no rio Reuss junto ao Lago dos Quatro Cantões, Lucerna é talvez a conjunção maior do que esperamos de uma cidade suíça. À beira de um lago com paisagens belíssimas e com um centro histórico acolhedor, a cidade pode até não ser a preferida, mas agrada até o mais cético dos turistas. Além do mais, é uma das melhores escolhas para servir de base de hospedagem na Suíça, com sua localização central.

A orla do Lago dos Quatro Cantões

       Chegamos a Lucerna no meio da manhã vindos de Interlaken, pelo trem que faz a segunda parte do trecho do Golden Pass, serpenteando pelas montanhas dos Alpes. Achei este pedaço do trajeto famoso, com duas horas de percurso, bem menos bonito que o trecho inicial, de Montreux a Interlaken.

         Dedicamos o resto do dia a conhecer Lucerna. O dia seguinte foi reservado ao passeio ao Monte Pilatus. No terceiro dia, o último em terras suíças, visitamos alguns museus. Havíamos deixado Lucerna como nossa base derradeira na Suíça, pela sua proximidade com o aeroporto de Zurique, a 1h03min por ligação direta de trem.

Outro ângulo da Ponte da Capela

        Não tem jeito, a atração que mais chama a atenção em Lucerna é a Ponte da Capela (Kappelbrücke). Atravessando o rio Reuss em diagonal e unindo os dois lados do centro, a ponte com 170 m de comprimento remonta ao século XIV e é a mais antiga ponte de madeira coberta da Europa. Um dos maiores atrativos são as pinturas triangulares no teto da passarela da ponte, feitas no século XVII e que retratam cenas do cotidiano e lendas de Lucerna, incluindo a história famosa de William Tell acertando com uma flecha a maçã na cabeça do seu filho.  Cerca de metade das pinturas foi destruída no triste incêndio que devorou a ponte em 1993, causado por um barco em chamas. Grande parte da ponte foi reduzida a cinzas, sendo reconstruída e reinaugurada no ano seguinte; algumas das pinturas foram restauradas, mas outras se perderam para sempre.

         Além do teto coberto, o grande diferencial da ponte de arquitetura incomum é a Torre d'Água (Wasserturm), plantada no meio do rio. Ainda mais antiga, seu acesso é feito pela própria ponte. A torre de formato octogonal nunca armazenou água, mas já serviu até como farol para as embarcações no lago.

A Torre d'Água ligada à Ponte do Moinho 
         Três pontes rio abaixo, a Ponte do Moinho (Speuerbrücke) tem várias semelhanças com a sua irmã mais famosa: foi construída em diagonal com ângulos, é de madeira e coberta, além de apresentar também painéis triangulares pintados e encaixados no teto, mas com um tema bem mais mórbido: a morte - representada por um esqueleto que interage com nobres e plebeus ao longo da sequência. Bem calmo no seu trecho junto ao lago, o rio aqui se apresenta caudaloso com várias ondas, graças a uma barragem cujo papel é regular a vazão das águas do Reuss (o rio é afluente do Aare, que banha Berna e Interlaken). O dique de madeira erguido no século XIX tem um tipo simples e engenhoso de construção, baseada em agulhas que são acrescidas ou retiradas de acordo com a necessidade de controle. Desta forma seu comprimento varia conforme o número de agulhas colocadas na água. Quando tirei a foto abaixo, a barragem estava até pequena.

As águas revoltas junto à barragem do rio Reuss

       No lado direito do rio, o centro histórico guarda algumas ruas com casario medieval, apresentando fachadas decoradas com desenhos variados. O lugar mais representativo deste estilo é a praça Weinmarkt, com sua fonte gótica algo bélica do século XV. No passado, aqui se situava o mercado de vinho e eram encenadas apresentações religiosas.  O centro é cercado por um trecho da muralha remanescente do século XIV, com um trecho aberto para caminhada (mas na minha opinião, quando o assunto é percorrer muralhas na Suíça, Murten bate Lucerna com muita folga).

A Weinmarkt, no centro histórico de Lucerna

         Mas a atração mais conhecida desta margem do rio é o Monumento do Leão, numa parte mais moderna do centro. Entalhada numa pedra diante de um pequeno lago artificial, a estátua tocante do leão ferido  e moribundo deitado sobre um escudo relembra um fato histórico pouco conhecido dos brasileiros. Em 1792, durante a Revolução Francesa, 700 mercenários suíços integrantes da guarda palaciana do rei Luís XVI foram mortos pelos revolucionários ao se renderem. Uma frase gravada em latim na rocha sobre a estátua significa "À lealdade e virtude suíça". 

O Monumento do Leão

        Como já falei, o último dia em Lucerna, mais curto pois embarcaríamos no meio da tarde no trem, foi dedicado aos museus. Lucerna é uma cidade com alguns museus dignos de nota. A manhã foi dedicada ao Museu dos Transportes, um pouco afastado do centro, a dois quilômetros de distância. Fomos caminhando pela margem do lago, num passeio muito agradável e voltamos de ônibus, gratuito com o Swiss Pass; outra alternativa é tomar um barco até lá. O museu, cujo nome em alemão é Verkehrmuseum, ocupa uma área enorme e é um prato cheio para aqueles que se interessam por sistemas de transporte, tendo seções dedicadas aos trens e aviões. Estando localizado na Suíça, não poderia falta uma seção dedicada aos teleféricos. Um simulador de voo e o planetário completam as atrações. O museu é interessante, especialmente para crianças, mas não o colocaria entre as atrações imperdíveis de Lucerna. Os portadores do Swiss Pass têm desconto de 50% no ingresso.

Parte da pintura do Panorama Bourbaki - fonte: commons.wikimedia.org

        Acabamos gastando tempo demais no Museu dos Transportes e não pudemos visitar o Museu Picasso, dedicado ao mestre andaluz. Como estávamos premidos pelo tempo devido ao horário do trem, preferimos visitar o Panorama Bourbaki, localizado bem perto do nosso hotel e do Monumento do Leão. Este é um museu radicalmente diferente, constituído de uma única e gigantesca pintura circular com 114 m de comprimento por 10 de altura. A cena retratada ocorreu em 1871, no final da Guerra Franco-Prussiana, quando o exército de milhares de soldados do General francês Bourbaki, em frangalhos após a travessia da neve, se rendeu aos suíços quando atravessou a fronteira. O artista pintou a cena dez anos depois de ter testemunhado a rendição como voluntário da Cruz Vermelha. Durante uma reforma no museu ocorrida no ano 2000, o mural ganhou um certo aspecto tridimensional com a adição de figuras em ação à sua frente. Este tipo de pintura, chamada de panorama, foi relativamente comum no século XIX, mas somente algumas sobrevivem nos dias de hoje. A visita valeu pela curiosidade e pela beleza do mural, ainda mais sendo a entrada gratuita para os portadores do Swiss Pass.

       O próximo post é dedicado a um dos passeios mais bonitos que se pode fazer na Suíça - o circuito do Monte Pilatus.

* Este é o oitavo post da série sobre a Suíça. Para visualizar os demais, acesse A saborosa Suíça..


 Postado por  Marcelo Schor  em 07.12.2014 





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