Navegando pela costa do Alasca
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Navegando pela costa do Alasca



A beleza do fiorde de Tracy Arm

           Na primeira semana de junho embarquei em Vancouver num cruzeiro de uma semana da Disney para  uma região que sonhava há muito conhecer - a costa sudeste do Alasca. A escolha da Disney pode parecer insólita para quem acompanha pelo blog minhas andanças, já que costumo viajar sozinho, mas dessa vez estava em boa companhia - meu irmão, minha cunhada e meus sobrinhos de 11 e 2 anos de idade.

O navio Disney Wonder ancorado no porto de Skagway

       Alguns cruzeiros para o Alasca partem de Seattle, mas o fato de este sair de Vancouver foi um bônus, pois considero essa cidade canadense uma das mais bonitas da América do Norte, com muitos parques e uma qualidade de vida invejável. Foi uma ótima oportunidade para revisitar os seus principais pontos turísticos.

O Canada Place, o cais de Vancouver onde aportam os transatlânticos (foto resgatada da minha estadia anterior na cidade)

        A imagem que temos normalmente do Alasca é de muito frio, uma região meio desértica e de vegetação rasteira algo congelada, sem noite nos meses de verão e podendo topar com um urso polar a todo instante. Bem, nada disso vale para a costa sudeste, que é aquele "rabo de cavalo" estreito do Alasca que avança pela costa do Canadá no Pacífico - os alasquianos chamam a região de Panhandle, ou Cabo de Panela em bom português. Vamos ver o que encontrei:
  • Só para ter uma ideia, a cidade mais setentrional que visitamos, Skagway, fica na latitude da capital da Estônia, Tallinn, e portanto, em junho, final de primavera, o frio não é intenso - em dias de chuva pegamos mínima de 7 °C; é verdade que o ventinho chato aumentava muito a sensação de desconforto. Em média nos dias de cruzeiro com parada nos portos do Alasca a temperatura máxima era de uns 13 °C. Na alta temporada, no meio do verão, o termômetro passa fácil dos 20 °C. 
  • A paisagem na costa é de florestas intermináveis, ou seja, muito verde alimentado pela chuva abundante que cai na área. Se você pegar dias de sol  no cruzeiro, considere-se sortudo. Não foi o nosso caso, durante todo o percurso o tempo estava nublado ou chuvoso, com o sol teimando em só aparecer enquanto navegávamos. Mas mesmo sem a presença do sol, não há como negar que se trata de uma das mais belas paisagens do planeta. 
  • Quanto aos ursos polares, não existem em latitudes tão baixas, mas seus primos, os ursos negro e pardo, abundam na região. Outros animais que costumam fazer a alegria dos turistas são baleias, focas, cervos e águias. 
  • Quando o assunto são os animais, não posso esquecer de um onipresente nessa região - o salmão. Afinal, o Alasca é responsável por 80% do salmão pescado em toda a América do Norte e essa iguaria é um dos principais itens dos cardápios dos restaurantes.
  • Felizmente também não vi sinal de uma praga que assola o Alasca nos meses de verão, os mosquitos.

Rua principal de Skagway

         O Alasca é o maior estado americano, separado dos Estados Unidos pela província da Colúmbia Britânica no Canadá. A região que visitamos é pouco habitada e bem isolada, e a maioria das cidades não pode ser alcançada por rodovia ou ferrovia, sobrando as opções marítima e aérea. Hoje um estado rico graças à exploração do petróleo, o Alasca tem uma história interessante, pois foi uma possessão da Rússia nos séculos XVIII e XIX, e a área central da ocupação russa era justamente o sudeste do Alasca. Pena não termos parado em Sitka, a capital da época, cheia de elementos que remetem a esse período, incluindo uma igreja ortodoxa russa. Os russos exploraram pouco o Alasca. No início, tiveram sérios problemas com os nativos, os tlingits, mas logo desenvolveram um comércio de peles. Na segunda parte do século XIX, às voltas com problemas internos, primeiro arrendaram o Alasca para o Reino Unido e depois finalmente venderam-no em 1867 aos Estados Unidos, somente dois anos após o término da Guerra Civil. O preço foi de 7,2 milhões de dólares (cerca de 120 milhões a preços atuais!). Completamente isolado por terra, o Alasca se beneficiou dos acontecimentos da Segunda Guerra Mundial, quando por motivos estratégicos militares foi construída a toque de caixa a Alaska Highway que atravessava o Yukon canadense e passou a ligar Anchorage ao resto dos Estados Unidos. Logo o Alasca se converteu no 49º estado americano em janeiro de 1959 - o último a virar estado foi o Havaí, no mesmo ano.

Anoitecer nos canais do Inside Passage no Alasca

         Pelo seu isolamento, a região sudeste do Alasca é ideal para se conhecer num cruzeiro. Na sua maior parte com a natureza ainda não tocada pelo homem, é constituída de uma faixa estreita entre as montanhas e o Oceano Pacífico. Seu litoral é bem recortado com um arquipélago com centenas de ilhas, que formam os canais conhecidos como "Inside Passage", pelos quais o navio passa. Os canais estreitos, as florestas e as montanhas formam uma bela paisagem para se curtir enquanto o navio ruma aos portos de parada. Como diferencial, há os fiordes e geleiras que pipocam na área.

O Sawyer Glacier desponta no fundo do Tracy Arm

         E foi justamente quando o navio adentrou o fiorde de Tracy Arm, no terceiro dia de navegação,
que pudemos realmente afirmar que estávamos no Alasca. Trata-se de um braço de mar muito estreito e ladeado por montanhas com picos nevados, que se alonga por 50 km e termina numa geleira, a Sawyer Glacier. Infelizmente o tamanho do fiorde vem aumentando devido ao retrocesso da geleira causado pelo aumento da temperatura global.

      Por terminar num bloco de gelo, à medida que vamos percorrendo o fiorde o número de pequenos icebergs daquela cor azul indescritível vai se avolumando.  O navio  vai então diminuindo a marcha gradativamente até parar diante do mamute de gelo. Em meio ao frio devidamente aumentado pela geleira, dava para divisar focas descansando sobre alguns blocos, que rapidamente entravam na água quando o navio se aproximava. Um cenário incrível que nos deu as boas vindas ao Alasca.

        A grande umidade favorece a queda de neve e chuva, tornando o sudeste do Alasca pródigo em glaciares. Ainda veríamos outra grande geleira em Juneau, dois dias depois.

O trajeto do Disney Wonder

 O roteiro do cruzeiro foi o seguinte:
 Dia 1: Saída de Vancouver.
 Dia 2: Navegação pela costa da Colúmbia Britânica, ainda no Canadá.
 Dia 3: Passagem pelo fiorde Tracy Arm, já no Alasca.
 Dia 4: Parada em Skagway, a cidade que serviu de partida para a corrida de ouro do Klondike, quando embarcamos no trem que galga o desfiladeiro que leva ao Yukon e visitamos uma ponte suspensa já no Canadá.
 Dia 5: Parada em Juneau, a capital do Alasca à beira da geleira Mendenhall.
 Dia 6: Parada em Ketchikan, capital americana do salmão, com um passeio de hidroavião até os Misty Fjords.
 Dia 7: Navegação de volta a Vancouver.
 Dia 8: Desembarque de manhã cedo em Vancouver.

Rua do centro da capital Juneau na hora do almoço: aparência de cidade do interior, sem ninguém à vista

      Nos demais posts, vou contar como foi o cruzeiro e mostrar cada parada e passeios que fizemos.  Começamos no próximo post com o que talvez seja a curiosidade maior, como foi viajar com a Disney para o Alasca!

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 Postado por  Marcelo Schor  em 20.07.2015 



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