Murten, uma cidade medieval na Suíça
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Murten, uma cidade medieval na Suíça



As torres do Castelo e da muralha de Murten

         A Suíça é mais conhecida pelas suas paisagens naturais do que pela sua história, mas algumas de suas cidades nos surpreendem por terem atrações medievais como castelo e muralhas. Uma delas é Murten, uma cidade de 6.500  habitantes situada entre Berna e Neuchatel. Murten fica à beira do lago do mesmo nome, um dos três lagos da região conhecida como Seeland.

Vista aérea da cidade medieval - fonte: www.murten.ch

         Murten tem uma peculiaridade: está localizada na linha divisória entre as Suíças de idioma alemão e francês. Esta divisão - apelidada de röstigraben numa referência a um dos símbolos do lado germânico, a batata rösti – vai muito além da diferença de idioma, incluindo posições opostas na política, como na questão da entrada do país na Comunidade Europeia, apoiada pelo lado francês. Murten é oficialmente bilíngue, com 76% da população falando alemão e o restante francês. As placas da cidade ostentam as duas línguas e a versão do seu nome em francês é Morat. Para complicar um pouco mais a história, Murten pertence ao cantão de Friburgo, de maioria francesa.

O lago Murten

          A cidade é uma das mais antigas da Suíça, com os primeiros registros no ano de 1170, quando uma fortificação foi fundada no lugar. Logo depois foi declarada Cidade Imperial Livre no Sacro Império Germânico, da mesma forma que Lübeck e Augsburg. Após um incêndio em 1416, Murten foi toda reconstruída em pedra. Em 1476, logo após declarar sua lealdade a Berna e a Friburgo, foi cercada pelas forças de Carlos, o Temerário, Duque da Borgonha, que foi fragorosamente derrotado pela Confederação Suíça numa batalha épica. Alguns dos artefatos usados por ele na batalha se encontram expostos no Castelo de Gruyères, a 38 quilômetros de distância. Por mais de 300 anos a cidade bilíngue foi governada por Berna e Friburgo alternadamente a cada cinco anos, até que em 1803 Napoleão anexou Murten ao cantão de Friburgo, para desespero dos seus cidadãos na época.

Porta sob a muralha de Murten dando acesso às ruas da cidade histórica

        O acesso mais fácil a Murten é feito desde Berna pelo trem regional S5, num trajeto de 35 minutos. Ao se embarcar no trem em Berna temos que prestar atenção, pois os vagões da frente vão para Neuchatel e os de trás para Murten. No meio do trajeto a composição se divide em duas, cada uma seguindo seu caminho. Nos vagões para Murten, quem viajava de frente passa a ir de costas. Neste trecho do trajeto, o trem passa na borda da região chamada de Grande Pântano (Grande Marais ou Grosse Moos), o maior celeiro agrícola do país. A área cultivada é resultado da limpeza e correção das águas de rios efetuada no século XIX e aqui são plantados legumes, cereais, beterraba e uva.

A torre do Castelo vista da Rathausgasse

     Em Murten, para se chegar à cidade medieval, basta descer três quarteirões a partir da estação ferroviária. Seu portão está localizado junto ao Castelo da cidade, cujo prédio atual data de 1755, com partes remanescentes dos castelos anteriores que remontam a quinhentos anos antes. Após servir como prisão, hoje o castelo sedia a administração do distrito e durante três semanas em agosto acontece no seu pátio uma série de concertos no Festival de Música Clássica. Antes de entrar na cidade histórica, parei na praça arborizada ao lado do castelo, a Lindensaal, de onde se tem boa vista do lago e dos vinhedos do Monte Vully, na margem oposta.

 
O Portão de Berna, no final da Hauptgasse, e seu relógio de 1712


        A cidade murada que constitui a parte medieval e turística de Murten é bem compacta, com três ruas paralelas correndo por dois quarteirões. A parte que restou da muralha está bem conservada, cercando a cidade por três lados, com exceção do que dá para o lago. Vale a pena percorrer cada uma das três ruas, cada uma com uma atmosfera característica.

Uma das fontes da Hauptgasse

      Da mesma forma que Berna, a Hauptgasse, a rua principal que une os dois grandes portões de entrada da cidade medieval, é constituída nos seus dois lados por prédios com arcada coberta. A arcada, que acompanha toda a rua, dá um visual diferenciado e me forneceu ótima proteção contra a chuva que desabou. A Hauptgasse possui três fontes do século XV no seu curto trajeto, além de sediar os restaurantes principais e o comércio. 

A exótica Prefeitura de Murten

        Na rua mais perto do lago, Rathausgasse, a Prefeitura chama a atenção com o seu telhado desproporcional e o relógio no topo da torre, anexados muito após a construção do prédio. A parte mais baixa da rua é conhecida como Rua do Elefante, devido a um paquiderme que escapou de uma exibição de circo em 1866, matando o adestrador e semeando o pânico por toda Murten. O elefante foi finalmente abatido com um tiro de canhão. A bala se encontra em exibição no museu da cidade, junto ao pátio ao lado do Castelo; já o esqueleto do animal é parte do acervo do Museu de História Natural em Berna.

Caminhando pela muralha de Murten. Ao fundo, a Igreja Alemã 

       Já a última das três paralelas dá acesso às escadas de subida à muralha. Utilizei o acesso junto à Igreja Alemã (para não haver preferências, há também a Igreja Francesa, perto do lago). A muralha está aberta ao público, que pode percorrê-la gratuitamente em galeria coberta.  Esta foi a parte mais legal da visita; pelo caminho tive uma vista abrangente das casas da cidade e especialmente dos seus telhados, onde se sobressai um número impressionante de chaminés. As muralhas foram construídas em etapas entre os séculos XII e XV, o que fica óbvio pelos desníveis por que passa o caminho na galeria, vencidos por degraus ou escadas.  


Chaminés e mansardas em profusão com o relógio da Prefeitura ao fundo

       Uma porta sob a muralha dá acesso ao seu lado exterior na Törliplatz, uma pracinha bucólica com uma fonte. A visão das muralhas a partir de lá me lembrou muito os muros de Tallinn, na Estônia, que também são envolvidos por jardins. É interessante notar as diferentes camadas de pedras que compõem a parede do muro, com as inferiores antecedendo até a fundação da cidade. Uma dica é acompanhar o caminho que margeia os muros até o Castelo, para se ter uma outra ótica das muralhas.

A murada com sua passagem coberta vista a partir da Törliplatz

         Murten certamente foge do estereótipo de cidades suíças e é uma excelente alternativa para se passar uma manhã ou tarde agradável.


* Este é o sétimo post da série sobre a Suíça. Para visualizar os demais, acesse A saborosa Suíça.


 Postado por  Marcelo Schor  em 28.11.2014 



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