Hanôver, uma cidade com passado nobre
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Hanôver, uma cidade com passado nobre


A nova Prefeitura de Hanôver

       Hanôver, a capital do estado da Baixa Saxônia no norte alemão, é uma cidade média de 525.000 habitantes, situada na rota ferroviária entre Amsterdã e Berlim - o que já permite uma parada esperta para aqueles que quiserem esticar um pouco as pernas no trajeto. Com um passado respeitável como membro da poderosa Liga Hanseática e ainda capital de reino até o século XIX, é hoje um importante centro industrial e de negócios, sendo conhecida como sede de feiras de tecnologia como a CeBIT. Outro grande evento, sua Oktoberfest só perde em tamanho na Alemanha para a de Munique. Assim como Hamburgo está vinculada aos Beatles, Hanôver está também associada a outra banda contemporânea - é o berço dos Scorpions.

O brasão de armas da Casa de Hanôver - fonte: Wikipedia

         Uma surpresa aparece no brasão de armas da monarquia de Hanôver: ele é praticamente idêntico ao do Reino Unido e isto não é uma coincidência - ambos tiveram os mesmos reis por mais de 120 anos até 1837, ano de ascenção da Rainha Vitória ao trono inglês. A separação ocorreu porque as leis de sucessão hanoverianas proibiam a existência de uma rainha se houvesse qualquer herdeiro do sexo masculino - e havia seu tio, que assim assumiu somente o reino de Hanôver. A dinastia de monarcas ingleses desta época é conhecida justamente como Casa de Hanôver.
            
A maquete no hall da Prefeitura apresentando como era Hanôver em 1939. Em destaque, a própria Prefeitura.


        Mas quanto ao aspecto turístico, o que Hanôver tem a oferecer? Disposto a tirar esta dúvida, fiz um bate-volta a partir de Hamburgo, numa viagem de trem de 1h30min, para conhecer as afamadas áreas verdes da cidade e verificar se havia algum atrativo adicional. E sim, há. A cidade reserva algumas surpresas.

         Sem dúvida, o prédio que mais chama a atenção no centro é a nova Prefeitura, situada diante de um lago. O edifício em estilo neo-renascentista foi inaugurado em 1913 pelo próprio Kaiser Guilherme II. Sua enorme cúpula pode ser melhor apreciada (e fotografada) dando-se a volta na trilha que circunda o lago. Mesmo tendo sido construído há somente 100 anos, de certos ângulos no caminho o prédio mais parece um daqueles palácios dos contos de fadas alemães.

A Prefeitura vista da aleia que margeia o lago

         Além do edifício em si, a Prefeitura ainda oferece duas atrações adicionais: a primeira é a exposição no hall de quatro maquetes mostrando a evolução da cidade ao longo dos anos. A cidade é mostrada em 1689, em 1939 (antes da Segunda Guerra Mundial), em 1945 (destruída pelos bombardeios dos Aliados) e na fase atual. A segunda atração é a mais inusitada: a torre da Prefeitura é aberta a visitação e oferece vistas interessantes da cidade a partir do seu topo. Para chegarmos até lá tomamos um elevador convencional até o último andar e aí entramos em um pequeno elevador. Este elevador tem uma característica que o diferencia: ao invés de estar situado no miolo do prédio, ele está situado rente à parede curva da cúpula verde de cobre, e sobe inclinado à torre, acompanhando lentamente a curvatura da cúpula pelo seu interior. Achei a ideia bastante original. Como é lerdo e cabem somente cinco pessoas nele, em épocas de grande afluxo de turistas há filas grandes para subir à torre. Estive em outubro, fora da alta temporada, e não enfrentei esse problema.

O centro da cidade visto da torre da Prefeitura, com o rio Leide à esquerda e a Marktkirche ao centro 

        O centro histórico de Hanôver é acanhado, se o compararmos aos de outras cidades que foram membros da Liga Hanseática, como Lübeck. Restam poucos prédios realmente antigos, efeito do bombardeio devastador sofrido na Segunda Guerra.  Apenas uma pequena parte foi reconstruída segundo os moldes originais. De qualquer forma, a cidade conta com alguns edifícios dignos de nota como a Ópera, construção clássica inaugurada em 1852 e a  Marktkirche, uma igreja do século XIV em estilo gótico com  tijolos vermelhos, cujo topo ainda se destaca na silhueta do centro. Um recanto bucólico é a Ballhofplatz, um largo com luminárias no estilo antigo e fachadas com detalhes em enxaimel, onde se localiza o Teatro Ballhof, em funcionamento desde 1664.

A Ballhofplatz

          Localizado no Memorial aos Mortos na Breiterstraße, em honra às vítimas do bombardeio, o Sino da Paz foi um presente da cidade irmã Hiroshima. Todo dia 6 de agosto às 8:15 da manhã, a hora em que a bomba atômica explodiu no Japão em 1945, representantes das duas cidades tocam o sino.

       Às margens do rio Leine, que banha o centro, ficam as esculturas mais polêmicas de Hanôver: as Nanas. Trata-se de arte moderna multicolorida que causou muito reboliço quando foi inaugurada em 1974. As três esculturas provocativas foram batizadas com nomes femininos da nobreza da época áurea - Caroline (curiosamente o nome da atual Princesa de Hanôver, a também Princesa de Mônaco), Sophie e Charlotte. Hoje já estão incorporadas como uma das principais atrações locais. Não vou traçar maiores comentários, deixo a foto abaixo para que apreciem a obra.

Uma das controversas esculturas Nanas

        Visitado o centro, parti para a atração que me chamou a atenção para Hanôver. Os jardins, com quatro nomes diferentes e colados um ao outro, são conhecidos coletivamente como Herrenhäuser Gärten e se estendem por três quilômetros a oeste do centro. Para se chegar até lá, basta tomar a linha de metrô 4 ou 5, cujo trajeto ladeia os parques. O mais famoso e bonito dos jardins é o Großer Garten, o mais longínquo do quarteto. Também o mais antigo do grupo, o Großer Garten  foi criado em 1710 por Sophie, esposa do Eleitor (o governante da época) e mãe da rainha da Prússia Sophie Charlotte. O jardim foi construído junto ao palácio Herrenhausen onde Sophie residia, com forte inspiração em Versalhes, que ela tinha visitado. O jardim barroco de 50 hectares pouco mudou em 300 anos e conta com fontes e estátuas dispostas ao longo das suas sebes trabalhadas em desenhos geométricos. A adição mais recente é uma gruta artificial que contém mosaicos coloridos em suas paredes, da mesma artista francesa responsável pelas Nanas, Niki Saint-Phalle. Durante o verão, concertos e shows noturnos de iluminação e fogos acontecem no parque. Quanto ao palácio, que estava fechado quando visitei Hanôver, foi reaberto há alguns meses e abriga exposições e um centro de convenções.

O Palácio Herrenhausen no Großer Garten

       O Berggarten, o outro jardim de destaque, fica do outro lado da rua e é na realidade um jardim botânico que inclui uma estufa de orquídeas. A entrada combinada para os dois parques custa € 4 .

O Großer Garten, com suas estátuas dispostas ao longo dos jardins que formam desenhos


 Publicado por  Marcelo Schor  em 06.12.2013 


Para conhecer outras cidades que foram membros da Liga Hanseática, acesse:
  • Lübeck e sua herança hanseática
  • A eclética Hamburgo - do hambúrguer aos Beatles
  • As muitas faces de Riga
  • A cidade medieval de Tallinn



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