Como é morar no exterior?
Viagens

Como é morar no exterior?


Todos os dias recebo dezenas de mensagens de pessoas que dizem que não aguentam mais morar no Brasil e querem deixar o país.
No meu caso não foi assim. Nunca tive nada contra o Brasil e apesar de ter uma origem simples e ter estudado em escola publica, tinha sido aprovada em uma excelente universidade publica, esforcei-me bastante, fiz diversos estágios, me formei, consegui um emprego na área que eu buscava e ainda atendia paralelamente no meu consultorio. Conseguia economizar e viajava um pouco, e provavelmente se tivesse ficado no Brasil hoje eu teria uma carreira estabilizada, meu carro e teria financiado uma moradia (pois tinha o sonho de morar sozinha, contudo não queria pagar aluguel).

Porém o que aconteceu comigo foi uma insatisfação interior, eu era (e sou) uma eterna insatisfeita. Quando cheguei onde sempre quis estar, já não era mais isso que eu queria. Queria ver o mundo, fazer alguma coisa diferente. Freud já tinha me alertado.

Durante toda a minha adolescência sonhei com o Japão ou os EUA, mais tarde com a França e a Alemanha, e também sempre quis conhecer a China ou a Russia (não exatamente morar nesses lugares).

Era uma insatisfação comigo mesma e com a vida que eu levava, e um conjunto de circunstâncias me trouxeram à França. Poderia ter sido a Alemanha, a Inglaleterra ou a Itália, mas foi a França, não sei explicar direito, foi algo que aconteceu naturalmente e eu decidi agarrar essa oportunidade, "pagar para ver", voltar mais tarde. Era uma experiência que eu PRECISAVA viver. Desejo ou necessidade? Provavelmente os dois.

Algumas pessoas tiveram comentários maldosos do tipo "em dois anos vai voltar com o rabinho entre as pernas e dois filhos debaixo dos braços" (?!?). Justamente eu que saia de um relacionamento sério de 3 anos, então acho que eu não tinha lá essa fama de "avoada". Mas algumas pessoas falam e são maldosas mesmo, e pelo que tenho visto nesse mundo afora, infelizmente tenho a impressão que é no Brasil onde as pessoas mais cuidam da vida dos outros. 

Para mim foi tão natural chegar aqui na França, me virar no meu francês muito básico, aprender a cada dia palavras novas. Tive a sorte de conhecer um amigo, um companheiro que se tornou o meu marido e que me ajudou nessa adaptação. 

Eu sou o tipo de pessoa que prefere fazer as coisas sozinha e gosto de estar sozinha, então essa forma de "exilio" nunca me incomodou. Muitas pessoas não gostam da minha personalidade, por essa auto-suficiência. Vivo a minha vida de forma a tentar não depender dos outros e consequuentemente sou menos disponível aos outros. 

Quando cheguei aqui passava muito tempo nos transportes diariamente para ir à Universidade, eu sozinha com os meus livros, e os contatos multiplos (mas superficiais) que ali realizava era suficientes para mim. Passava boa parte do meu tempo livre passeando pela cidade, visitando museus ou olhando vitrines, atividades que nunca me importei de fazer sozinha. Gostava de ir ao supermercado e passava horas descobrindo os produtos que para mim eram novidade e gostava de observar o que as pessoas colocavam no carrinho (uma prática que sempre repito nas minhas viagens). Ia à piscina e gostava de ler nas bibliotecas de Paris, aprendi que não é o fim do mundo ir ao cinema desacompanhada ou sentar em um café, mas ainda não gosto de ir ao restaurante sozinha. 

Como em uma corrida, podemos estar rodeados de milhares de pessoas, mas estamos sozinhos, cada um diante de seus próprios limites. 
Vai depender de nós mesmos desistir ou avançar, de ninguém mais. 
E isso é genial.

Gosto de estar sozinha, gosto do silêncio. 
Ha muitos anos não preciso ligar a tv para sentir uma "presença".

Em outubro de 2009 começei a trabalhar na minha empresa atual, mas no inicio era apenas um emprego temporário, queria entrar na vida produtiva, ganhar um pouco de dinheiro, mas na época trabalhava menos, conciliando com os estudos. 
No trabalho não foi fácil no inicio, não fui muito bem aceita por algumas pessoas, mas hoje olho para trás e percebo que não era "preconceito", mas sim porque eu tinha uma forma diferente de trabalhar e de pensar que não combinava com a forma de trabalhar da empresa e da França em geral. Comecei a ter mais auto-confiança e fui observando os outros e aprendendo com alguns comportamentos que achava bons, e jogando fora outros que eram ruins, e aos poucos fui sendo não apenas aceita, mas apreciada e mesmo elogiada. Recebi diversas promoções e novas responsabilidades nos ultimos anos e fui ficando, pois mesmo se o que faço hoje não tem relação direta com a minha formação de Psicóloga, gosto do meu trabalho e sou feliz assim. 


Paralelamente, fui ficando na França pois o meu casamento está dando certo e aqui escolhemos para viver. Tenho 6-7 semanas de férias por ano, nas quais sempre viajamos e nas outras 45-46 semanas trabalho, curto a vida parisiense tão rica em atividades culturais, gastronomia e lazer e não tenho tempo de reclamar nem de sentir falta do Sol do Brasil nem do calor humano brasileiro, que sinceramente, nunca foi tão evidente para mim. 

Não vejo o Brasil tão ruim assim como alguns dizem, mas sempre repito que não me encaixo numa certa mentalidade brasileira para a qual tudo é feito para os ricos, que só os ricos são valorizados. Não quero viver em uma sociedade em que somente o médico, engenheiro e advogado sejam considerados pessoas de valor. Na qual para se ter um emprego "correto" é necessario ter doutorado. Em que as pessoas são julgadas pelo carro que têm ou o lugar onde passam as férias. 
Sim, como eu entendo que muitas pessoas não apreciem a minha personalidade!!!

Sinto falta da minha família, e muito,  de alguns amigos e alguns lugares, mas aprendi que no meu caso, saudade dói mas não mata. Não podemos evitar a dor, mas depende de cada um sofrer ou não.

Passei 28 an os da minha vida no Brasil. Não tenho a pretensão de ser vista como "uma francesa", inclusive o meu diferencial aqui é ter uma outra bagagem. E no meu dia a dia (que é bem carregado) de trabalho, obrigações e lazer nem dá tempo de sofrer preconceito.

Essa é a minha historia com a Europa, que esta dando certo há quase 7 anos. Não quer dizer que seja a melhor, nem tem nada de especial, mas é a minha. 
E nem digo que seja melhor viver na França. Eh o melhor para mim e por enquanto. 

Quem sabe o que é melhor para você é você mesmo, não é?



loading...

- Uma Nova Aventura Em Vista!
Fiquei pensando milhões de vezes se falaria aqui no blog, ou de que forma contaria a novidade. Estou grávida. Pronto, falei, para que enrolar ainda mais para contar? Primeiro pensei esperar os 3 meses para anunciar (o que se costuma fazer...

- A Delicada Arte De Viver
Esses dias assisti a um filme que muito mexeu comigo e que me fez chorar do inicio ao fim, não apenas algumas lágrimas perdidas, escondidas ou de emoção, mas lágrimas e choro de verdade. Mas por que esse filme mexeu tanto assim comigo? Tentando analisar,...

- Eu Já Não Sou Mais A Mesma
Hoje estou com 34 anos. Quem diria que o tempo passaria tão rápido assim!  Maranhão, 1983                                            ...

- Diálogo Feminino
- Você é casada, não é? - Sou. - Mas não tem filhos ? - Não. - E por que não? (como explicar as minhas crises de existência, minha dúvidas, meus medos...?)- Néao sinto ainda esse chamado da natureza. - Mas quantos anos você tem? - 31. - Não...

- As Idades Da Mulher
          As pessoas que realmente me conhecem sabe que não faço parte do grupo das mulheres mais vaidosas do mundo... Antes mesmo de morar na França era uma briga com a minha mãe, que não entendia como...



Viagens








.