O som do reggae ecoa no ar. Ainda estamos a alguns metros do bairro de Chistiania e já se ouvem os batimentos de alguns tambores e o "sound" nas ruas. Como dizem os meus saudosos amigos argentinos "muito boa onda". ♪♫ ♩♫♭♪♯♬♮♫♯
Uma visita a Christiania é uma "viagem" dentro de Copenhaga. Christiania é a "free town" como gosta de sublinhar quem por lá vive e circula.
Na nossa visita a Christiania conhecemos o Ramon, um argentino imigrado em Copenhaga há mais de 30 anos. "Tengo que relajarme al final del día", dizia ele. Eu trabalho, não sou um "malandro" mas "si usted no fuma un porro no se siente bien", acrescenta. "Vengo aquí todos los días", termina.
Sabíamos que Christiania era um mundo à parte. Já tinha ouvido rumores de que era um dos lugares a não perder em Copenhaga mas, confesso, esperava algo menos explicito. À entrada um cartaz exibe as 3 regras da cidade:
1. Divirta-se.
2. Proibido tirar fotografias (o consumo de droga continua a ser ilegal).
3. Não corra (pode causar o pânico)
Christiania é um bairro auto-proclamado autónomo com cerca de 850 habitantes numa das zonas mais nobres da cidade de Copenhaga. A criação deste bairro data de 1971, quando um quartel militar abandonado foi ocupado por moradores vizinhos. Os moradores arrombaram as cercas para utilizar uma área desocupada como um parque infantil para os seus filhos. Nesta altura havia falta de edíficios em Copenhaga e esta atitude foi vista como um acto de protesto contra o governo dinamarquês. Os hippies que existiam na zona aproveitaram esta ideia e juntaram-se ao movimento já que esta era uma excelente oportunidade para construir uma sociedade a partir do zero. Estavam assim reunidas as condições para a criação de um espaço livre e o grupo proclamou a criação da Cidade-Livre de Christiania.
As autoridades civis em Copenhaga consideram Christiania como uma grande comunidade, mas a área tem um status único, sendo regulado por uma lei especial, a Lei de Christiania, de 1989, que transfere partes da supervisão da área do município de Copenhaga para o estado.
"O objectivo de Christiania é criar uma sociedade auto-regulada em que cada indivíduo é responsável pelo bem-estar de toda a comunidade. A nossa sociedade será economicamente auto-sustentável e, como tal, a nossa aspiração é ser firmes em nossa convicção de que a miséria física e psicológica pode ser evitada." Lê-se na Lei de Christiania.
Mas, o espírito de Christiania rapidamente evoluiu para um movimento hippie, depois um movimento squatter, colectivismo e anarquismo. As regras de Christiania proíbem o roubo, violência, armas, facas, coletes à prova de balas, drogas pesadas e bikers'colors (um gang de motociclistas). Os moradores só pagam impostos, taxas de água, luz e recolha do lixo desde 1994.
Há várias actividades que são e sempre foram muito populares, nomeadamente a meditação, yoga e o teatro. Aquando da criação da Cidade-Livre, o seu líder, Ludvigsen, realçou a importância da aceitação dos toxicodependentes que não podiam lidar com a sociedade regular.
A sua rua principal, Pusher Street, tornou-se famosa pois haxixe e erva foram vendidos abertamente nas bancas permanentes até 2004. No entanto, as regras proíbem drogas duras, como a cocaína, anfetaminas, ecstasy e heroína. O comércio de hash é controverso, mas como as regras exigem um consenso não pode ser removido a menos que todos concordem. A ideia de legalização da maconha é um dos ideais dos cidadãos em Christiania.
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Fotografia retirada da internet |
Mas, apesar do espírito e da crença inicial se manter, muitos problemas surgiram nesta cidade, nomeadamente o tráfico de drogas e uso de drogas duras (que não são teoricamente toleradas em Christiania). Muitos dinamarqueses têm visto Christiania como uma experiência social bem sucedida. No entanto, há anos o estatuto jurídico da região está num limbo devido à especulação imobiliária dos terrenos e aos problemas associados.
Christiania tem sido fonte de controvérsia desde a sua criação. O comércio de estupefacientes, especialmente cannabis foi tolerada pelas autoridades até 2004. No entanto, desde essa altura, as medidas para normalizar o estatuto jurídico da comunidade levaram a conflitos, investidas policiais e negociações. Houve inclusive vários episódios violentos, nomeadamente um tiroteio com um morto e dois feridos em 2005, o linchamento de um jornalista que tentava fazer uma reportagem para a TV em 2007 e um ataque com granadas em 2009.
Após amargas negociações, que resultaram temporariamente na área a ser isolada para o público em 2011, os moradores de Christiania concordaram em criar um fundo colectivo para adquirir formalmente a terra ocupada (ainda que abaixo dos preços do mercado).
De realçar que neste momento Christiania é considerada a quarta maior atracção turística de Copenhaga e recebe cerca de meio milhão de visitantes por ano. Alguns dinamarqueses orgulham-se desta "marca" de estilo de vida dinamarquês, supostamente progressista e liberal. À parte da imagem inequívoca associada ao consumo e tráfico de droga, Christiania desempenha claramente uma função social: acolhe vários pensionistas, imigrantes, beneficiários de instituições sociais, mães solteiras, sem-abrigo, desempregados, gronelandeses, etc. Para além disso, serve de inspiração para vários estudantes, músicos, artistas, intelectuais e académicos.
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Fotografia retirada da internet |
Ao sair de Christiana vemos um cartaz que diz "You are now entering the European Union". É essa claramente a sensação. Christiana contrasta fortemente com o resto da cidade de Copenhaga. É mesmo uma "viagem dentro da viagem". E a nossa viagem segue agora ao som do reggae. ♪♫♩♫♭♪♯♬♮♫♩♫♭♪♯♬♮♬♪♫
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