A história de Varsóvia através de seus monumentos
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A história de Varsóvia através de seus monumentos



A Rota Real e uma das pinturas que serviram de base para a reconstrução de seu casario

         Aparentemente os poloneses tem uma queda por estátuas e monumentos. Reconstruída há 60 anos a partir de documentos históricos e pinturas, Varsóvia está repleta destes monumentos, remetendo a um fato ou personalidade marcante. Conhecer estes marcos equivale a mergulhar na rica história polonesa, que alterna altos e baixos.

         Vários deles se concentram na Rota Real, uma rua longa que liga a Praça do Castelo ao sul da cidade, trocando de nome várias vezes no percurso. A via, uma das mais bonitas de Varsóvia, tem em seu trecho inicial uma série de residências outrora pertencentes à realeza e nobreza, com casas restauradas no estilo neoclássico do século XIX. 
A estátua de Copérnico defronte à Universidade de Varsóvia

        Católica desde o século X, a Polônia foi unificada no século XIV. Já no século seguinte se uniu à Lituânia, formando a Comunidade Polaco-Lituana. Nessa época ocorreu seu apogeu como potência, quando se tornou o maior país da Europa. Varsóvia foi então designada capital sob o reinado de Sigismundo III, retratado na coluna da Praça do Castelo, abordada no último post. A Polônia era um importante centro de estudos, dos quais o representante mais ilustre foi o astrônomo Nicolau Copérnico, que publicou em 1543 a teoria heliocêntrica, na qual se afirmou que o Sol era o centro do sistema solar. Sua magnífica estátua em bronze adorna a entrada de um dos prédios clássicos da Universidade de Varsóvia, que ocupa uma vasta área na Rota Real. A Universidade fundada em 1816 conta hoje com 60.000 estudantes.

O Palácio Presidencial
 
          No final do século XVIII, após diversas guerras, o poderio já tinha se acabado e o país desapareceu do mapa, partilhado entre Rússia, Prússia e Áustria. Varsóvia se tornou então a capital do Vice-reinado da Polônia sob domínio russo, com a sede do governo no atual Palácio Presidencial. O elegante edifício, no início da Rota Real, foi construído em 1643 por um aristocrata e hoje é a residência oficial do Presidente da República.

A Tumba do Soldado Desconhecido

         A Polônia como país oficial só voltou a existir no final da Primeira Guerra Mundial. Porém o Tratado de Versalhes não definiu claramente suas fronteiras. O presidente polonês Marechal Piłsudski viu uma excelente oportunidade de expandir os limites orientais, e como resultado, a Polônia entrou em guerra com a Rússia soviética em 1920. Com o desenrolar da guerra, a Polônia esteve a ponto de perder sua soberania recém-adquirida, mas a Batalha de Varsóvia, às portas da capital, virou o jogo, infligindo uma derrota constrangedora ao Exército Russo. Piłsudski assinou então com Lenin um cessar-fogo favorável  em Riga, na Letônia, estabelecendo as fronteiras que foram válidas nos vinte anos seguintes. Em homenagem às vidas perdidas nestas duas guerras, foi erigida em 1925 a Tumba do Soldado Desconhecido na Praça Piłsudski, a duas quadras da Rota Real. Originalmente a arcada onde está a Tumba ligava duas alas de um palácio, arrasado pelos alemães. Somente a arcada foi reconstruída, sendo reinaugurada em 1946. A Tumba é guardada por militares, que executam troca de guarda algumas vezes por dia.

Troca de guarda na Tumba

      Em 1939 a Polônia foi invadida pela Alemanha nazista, fato que desencadeou a Segunda Guerra Mundial. A população judaica de Varsóvia, um terço dos habitantes da cidade, foi encarcerada numa área exígua, o Gueto de Varsóvia, o maior da Europa. Em 1943, a população de 380.000 já tinha se reduzido para 60.000 devido às doenças causadas pelas péssimas condições e às deportações em massa para campos de concentração. Ocorreu então um levante heroico pela população que restava no gueto, que preferiu morrer lutando. A insurreição conseguiu durar três meses até ser esmagada pelos nazistas. Hoje a única lembrança do gueto é um memorial no local. Atrás deste monumento está sendo construído um enorme museu, que contará a história judaica na Polônia, com previsão de inauguração em 2013.

(Atualização: o Museu da História dos Judeus - Polin foi efetivamente inaugurado no 70º aniversário do Levante do Gueto, em 2013; ocupa um prédio com arquitetura pós-moderna, e se tornou uma das maiores atrações da capital polonesa).

Memorial do Levante de Varsóvia, junto à Igreja do Exército Polonês

      O Levante do Gueto certamente inspirou líderes da resistência do exército polonês, que em 1944 iniciaram o chamado Levante de Varsóvia. O Levante deveria acontecer sincronizado com a entrada do exército soviético na cidade, mas este estacou na margem do rio Vístula, permitindo aos nazistas esmagar o levante e destruir o que restou da cidade após os combates, em represália. Com isto, os soviéticos tiveram sua dominação posterior em 1945 extremamente facilitada. Como resultado, 16.000 membros da resistência e 200.000 civis morreram durante os dois meses de combate. Para homenagear esta história de luta e traição, o Memorial do Levante foi erigido em 1989 (sintomaticamente pouco antes da derrocada da União Soviética) na Praça Krazinski, e consta de dois monumentos, o primeiro e maior mostrando os soldados em posição de luta e o segundo, os combatentes saindo do esgoto, forma preferida de locomoção da Resistência. Junto às estátuas placas relatam o evento. Combinado com o Memorial, deve-se visitar o excelente Museu do Levante, a 3 quilômetros de distância. É um dos museus mais interessantes da cidade, que expõe o Levante e a vida na época através de fotos, vídeos e documentos, além de efeitos sonoros e visuais.
  
Detalhe do Memorial do Levante

       Com um território bastante modificado quando comparado ao anterior, seguiu-se um período de 45 anos nos quais a Polônia foi um satélite da União Soviética e que os poloneses ainda têm reservas em abordar. A única edificação da época digna de nota é o atual Palácio da Cultura e da Ciência, um presente de Stalin similar a outros prédios grandiosos existentes na Rússia e em Riga. Inaugurado em 1955, ainda é o arranha-céu mais alto da Polônia, sendo odiado durante décadas pelos poloneses por ser considerado um símbolo da dominação soviética.

O Palácio da Cultura e da Ciência
     
        Um pouco afastado do centro mas ainda na Rota Real se encontra o Parque Łazienki (pronuncia-se uazienki) , o maior da cidade, conhecido pela Estátua de Frédéric Chopin, o genial músico polonês morto em 1849 que também dá nome ao aeroporto. A estátua retrata Chopin compondo sob um árvore que lembra mão e dedos de um pianista. Nas tardes de domingo de verão acontecem no local récitas de sua obra. Infelizmente o lugar se encontrava em reformas e só pude tirar fotos da estátua de longe, do portão do parque.

A Estátua de Chopin em obras no Parque

        Já que enfocamos a Rota Real, encerro o post com um fato ocorrido no dia de chegada a Varsóvia. Era um domingo e me informei no hotel sobre alguma opção de passeio a pé para o final da tarde. O funcionário da recepção me indicou a Rota Real, onde estava se realizando uma quermesse no seu trecho inicial. Para lá me encaminhei, e a área estava lotada de gente passeando, comendo e se divertindo. Vi ao longe um palco, com várias pessoas dançando, e pensei se já iria conhecer alguma música popular polonesa. Ledo engano - ao chegar mais perto, pude ouvir o refrão: "Oi,oi,oi". Sim, era o tema de abertura da novela das 9, Avenida Brasil, na canção original, dançado de um jeito meio estranho pelos jovens locais...

Mapa do Centro de Varsóvia com os marcos mencionados
       
        A partir do próximo post, mostramos a bonita Lituânia, país que como vimos teve fortes laços com a Polônia no passado. Estes laços porém cobraram uma conta alta no século XX: a própria capital, Vilnius.

Este é o terceiro de uma série de posts sobre Varsóvia e os Países Bálticos. Para visualizar os demais,  acesse Descobrindo os Países Bálticos.



  Postado por  Marcelo Schor  em 21.11.2012  



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