Os padres exploraram as selvas sul-americanas e instalaram missões (aqui designadas
reducciones) estabelecendo comunidades de guaranis e tentando protege-los do comércio de escravas perpetuado pelas colónias espanhola e portuguesa.
A chegada dos jesuitas à América do Sul ocorreu em 1609 e estes criaram cerca de 30 missões no Paraguai, Argentina e Brasil, chegando a albergar cerca de 100.000 guaranis. No Paraguai, as missões jesuitas tinham um legado jurídico. Eram governadas por guaranis sob supervisão jesuita. Apesar de algumas tribos guaranis praticarem poligamia e canibalismo, os jesuítas não terão proibido tais actos. Terão sim, evangelizado os indígenas, esperando que os valores do cristianismo alterasse as suas práticas.
Estas missões localizavam-se em locais remotos e pretendiam preservar a cultura guarani. Os indigenas eram convidados a integrar a comunidade e em troca recebiam segurança, prosperidade e educação. A língua falada na missão era o guarani e os indigenas não eram obrigados a aprender espanhol, já que em cada missão normalmente só haviam dois padres. No entanto, a criação de um dicionário espanhol-guarani veio pôr em contacto mais próximo estas comunidades dos seus protectores.
Para chegar a Trindade é preciso apanhar um colectivo urbano e pedir ao motorista que nos deixe na estrada, a 1km das ruínas. Daí, atravesso por uma estrada "colorada" o Paraguai profundo. Algumas casas e habitantes trabalhando as suas terras acompanham-me até à entrada nas ruínas.
Todas as missões estavam organizadas de forma semelhante, e as ruinas de Trindade são um exemplo extraordinário e bem preservado. O centro nevrálgico era a
Plaza, uma área central e de grande dimensão, em torno da qual se organizava a vida social da missão. No extremo da praça encontra-se uma grandiosa igreja e o colégio com a casa dos padres. À volta da casa erguiam-se as casas dos indigenas e, um pouco mais atrás, as oficinas.
A horta era um espaço extremamente importante, porque aos indigenas era-lhes ensinado agricultura, de forma a tornar a missão auto-suficiente. Tinham inclusive o seu próprio poço para captação da água subterrânea e um cemitério.
As ruinas da missão de Trindade estão incrivelmente bem preservadas. Enquanto percorro a área, hoje Património Mundial da Humanidade, sinto-me no cenário do filme "A Missão" e quando fecho os olhos consigo sentir a energia deste local.
Caminho só pelas ruinas. Sou a única visitante. Estou no Paraguai, provavelmente o país menos turistico da América do Sul.
De Trindade sigo para Jesus. Faço 1000m para trás até à estrada. Daí tenho que caminhar um pouco mais, cerca de 500m, até chegar a um cruzamento. Sento-me e espero outro colectivo que me levará a Jesus de Tavarangue. O colectivo só passa de duas em duas horas e eu e um casal argentino apanhamos boleia da polícia para fazer os 12km que me levarão à povoação. A principio pensei "bem, poupei o dinheiro do autocarro!" Afinal não. Quando chegamos a Jesus o polícia parou na bomba de gasolina e pediu-nos o dinheiro equivalente ao preço do bilhete para meter gasolina. Pensei "oportunistas"! No entanto, não me posso queixar, deixaram-me na entrada das ruínas.
Se em Trindade toda a área está bem preservada, em Jesus praticamente só a igreja restou. Com as suas três naves e três portas na fachada, fazem lembrar as glórias do passado.
Mais uma vez, tenho as ruínas só para mim. Aproveito a paz do local e reflito sobre este mundo que, ao mesmo tempo, é tão belo e cruel.