Stanley Park, o pulmão de Vancouver
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Stanley Park, o pulmão de Vancouver


Sede do Vancouver Rowing Club no Stanley Park

         De acordo com diversas pesquisas, Vancouver é uma das cidades com melhor qualidade de vida em todo o planeta. Também é frequentemente eleita como a melhor cidade para se viver na América. Em uma cidade com estas qualificações não chega a ser surpresa encontrar um parque como o Stanley Park, uma fabulosa reserva verde a poucos passos dos quarteirões residenciais do West End, bairro onde nos hospedamos.

Início do Seawall - a marina de Coal Harbour e o visual dos arranha-céus de Vancouver

             O parque está situado numa localização privilegiada. Ocupa 4 km² na ponta da península onde está situado o centro de Vancouver, cercado de água por três lados. Seu lado oeste é mais selvagem, ocupado por florestas e varrido por várias trilhas, enquanto o setor oriental, mais visitado pelos turistas, possui alguns jardins e construções como o Aquário de Vancouver.

As atrações do Seawall e o Aquário no mapa do Stanley Park

              O surpreendente é que o Stanley Park é quase tão antigo quanto a cidade em que está situado. Se Vancouver foi fundada em 1886 no hoje histórico bairro de Gastown, o parque foi estabelecido somente dois anos depois, batizado com o nome do então governador geral do Canadá, Frederick Stanley. Já naquelas priscas eras existia um princípio de consciência ecológica e preservação que seria a marca da maior cidade do oeste canadense - de acordo com o site oficial do parque, Vancouver, com seus 2,2 milhões de habitantes, tem uma meta arrojada para 2020: ser a cidade mais verde do mundo.

Mesmo com o parque lotado num domingo à tarde, alguns recantos permanecem supertranquilos

             Durante minha estadia, estive duas vezes no parque, primeiro numa sexta à tarde, quando poucas pessoas estavam aproveitando o que o parque oferece; era um dia ensolarado, ideal para a caminhada pela trilha ao seu redor quase deserta. Na segunda vez na manhã de domingo, já encontrei o parque lotado e bem animado, com quermesse e outras atividades que atraíam a atenção dos moradores da cidade. Aliás, estávamos iniciando nossa caminhada quando nos assustamos com um barulho de um tiro. Tiro em Vancouver? Nossas mentes cariocas já ficaram alertas pensando num improvável assalto quando vimos uma multidão de corredores atravessarem uma ponte vindo em nossa direção.  Rapidamente deixamos então o caminho livre para acompanhar o início da maratona naquela manhã de primavera...

Maratona no parque

              Recomendo fortemente o passeio que fiz andando ao redor do parque no chamado Seawall - uma trilha de 22 quilômetros de extensão que acompanha toda a orla de Vancouver e cujo trecho inicial engloba os 8,8 quilômetros que envolvem o parque. O cenário é arrebatador, e além do verde do parque há paisagens bem variadas, desde o visual arrojado dos arranha-céus da cidade até o azul da baía, passando por alguns marcos históricos e praias. Uma ótima alternativa é fazer o circuito pedalando. Em torno do nosso hotel, que ficava a duas quadras do parque (veja o mapa), existiam algumas lojas de aluguel de bicicletas.

Alguns dos totens expostos no Stanley Park

               Uma característica legal do percurso do Seawall é a separação em pistas paralelas, uma para pedestres e outra para ciclistas e patinadores; assim se pode caminhar de forma mais despreocupada.  A parte inicial da trilha a partir da George Street acompanha a marina e os clubes de remo, fornecendo uma das melhores vistas dos arranha-céus modernos que compõem o horizonte do centro da cidade. 
           
...          Após alguns minutos de caminhada pela orla, chegamos a uma das atrações mais concorridas do parque, os totens. São dez artefatos indígenas, originalmente produzidos no século XIX. Muitos são réplicas dos originais atualmente guardados em museus. Os totens são uma das características mais marcantes dos nativos da costa noroeste do Pacífico, hoje abrangendo a Colúmbia Britânica e Alasca. Representavam cada clã, de forma semelhante aos brasões dos nobres europeus, e tinham usos variados, desde decoração em casa até a guarda de memoriais e tumbas. Quem deseja se aprofundar no conhecimento sobre os nativos, chamados no Canadá pelo nome coletivo de First Nations,  não pode deixar de visitar o Museu de Antropologia, situado no campus da University of British Columbia, fora do centro mas de acesso fácil pelo ônibus 4.

            Para minha surpresa, a lojinha junto aos totens vendia sacos de stroopwafel, o  biscoito típico  holandês em formato circular composto de duas massas de waffle unidas por uma calda. Estavam deliciosos.

O Farol de Brockton Point

        Os totens estão situados em uma espécie de istmo; logo atrás deles já se encontra a costa voltada para o estreito de Burrard. A tentação de cortar caminho por ali para continuar a caminhada é grande, mas quem fizer isso não passará por dois monumentos históricos. O primeiro é o Nine O'Clock Gun, um canhão instalado há 107 anos e hoje enclausurado numa casa de vidro. Como o nome sugere, é disparado diariamente às 9 da noite - a razão desse horário esdrúxulo se perdeu com o passar das décadas, uma das hipóteses é que determinaria o fim do turno de pesca.  O segundo é o Farol de Brockton Point, cuja construção é de 1914 e que possui uma luz automática para orientação das embarcações. Como está edificado bem na ponta da península, é um ponto excelente para se apreciar a paisagem do estreito e passagem dos navios rumo ao porto de Vancouver.

A exótica estátua do dragão

        À medida que seguimos a trilha e percorremos a costa norte do parque, nos deparamos com duas estátuas que parecem terem sido erguidas longe de onde deveriam estar. Uma magnífica escultura entalhada de um dragão, em posição inclinada como um canhão, nos faz remeter a algum lugar exótico do Oriente. Na realidade, o monumento só mostra a porção anterior do dragão, se retratasse um homem poderia mais apropriadamente ser chamado de busto... A estátua é provavelmente uma homenagem à grande colônia chinesa de Vancouver, aproximadamente 17% da população. Afinal, Vancouver é o porto canadense mais próximo à Ásia e foi um dos portões de entrada para a imigração chinesa no Canadá. Não custa lembrar que a cidade possui sua própria Chinatown, localizada próxima ao núcleo histórico de Gastown, mostrado no post anterior.

          Quando vi a estátua seguinte, encarapitada sobre uma pedra, não acreditei. O que fazia a Pequena Sereia, um dos marcos de Copenhague, bem no meio da baía de Vancouver? Um olhar mais atento revelou que não se tratava de uma sereia, pois a estátua da mulher tinha pernas. A semelhança da escultura "Girl in a Wetsuit" com o original dinamarquês é proposital, realçada pela posição do corpo  e pela presença de nadadeiras na versão de Vancouver, que de longe lembram o rabo da sereia.

A "Pequena Sereia" em versão canadense adaptada. Ao fundo, North Vancouver

         Continuando pelo Seawall, logo nos aproximamos de um dos grandes marcos de Vancouver, a Lions Gate Bridge. A enorme ponte pênsil com 1.500 metros de extensão foi inaugurada em 1938 e passa por cima do Seawall e do estreito de Burrard, interligando o centro e norte de Vancouver. É acessada por uma estrada que corta o parque. Navegaríamos sob ela quando o nosso navio zarpou para o Alasca no dia seguinte.

O Seawall acompanhando a orla do parque, com a Lions Gate Bridge ao fundo à direita

           Passando para o lado mais selvagem do parque, o Seawall alcança finalmente as praias, Third e Second Beach. A Third Beach mais parece um clone da English Bay Beach, com os tocos de madeira espalhados pela areia. Já a Second Beach conta com um playground onde meus sobrinhos se divertiram a valer, além de uma piscina enorme à beira-mar que deve viver lotada nas semanas de verão. Trilhas que acabam na praia permitem combinar caminhadas pela floresta com um banho de mar.

Panorâmica da Second Beach

            Alguns minutos após a Second Beach chegamos ao fim da parte do Seawall que acompanha o Stanley Park, junto à estátua de A-maze-ing Laughter. E quanto à First Beach, sumiu? Este é um nome alternativo para a English Bay Beach, já fora do parque, por onde o Seawall continua seu trajeto acompanhando a orla da península.

A entrada do Vancouver Aquarium

           A atração mais concorrida do Stanley Park é o Aquário de Vancouver, imperdível para quem está acompanhado de crianças - o maior aquário do Canadá tem inclusive seções com brinquedos, voltadas para as crianças menores. A escultura na entrada da atração, um peixe "tatuado" com imagens no estilo de totens, já é bem original, dando um toque canadense. Achei sensacionais os tanques de águas-vivas, com exemplares cor de laranja que bailavam na água hipnotizando nossos olhos. Para compensar, achei fracas  as acrobacias de golfinhos e belugas nas apresentações aquáticas, nada que não houvesse visto anteriormente em outros aquários. Duro mesmo foi constatar que o desenho animado em 4D incluso no ingresso era o mesmo a que tinha assistido no Shedd Aquarium em Chicago no ano passado!!! 

O balé das águas-vivas no Vancouver Aquarium

         No próximo post, o meu destino seguinte nessa viagem ao Alasca e Canadá: a intrigante Nova Escócia, no outro lado do país.


* Este é o último post da série sobre o cruzeiro ao Alasca. Para visualizar os demais, acesse  Navegando pela costa do Alasca.


 Postado por  Marcelo Schor  em 25.09.2015 



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