Sobre o álcool e minhas impressões
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Sobre o álcool e minhas impressões


Há anos venho observando um fenômeno da sociedade um tanto curioso para mim: o quanto choca uma pessoa que não consome bebida alcoólica!!!

Sim, vivemos em uma sociedade que cultua o álcool como sinônimo de diversão, sociabilidade, ser "cool". Ou seja, é bonito e bem-visto beber.

Sempre senti isso na pele pois sempre fiz parte do grupinho "que não bebe". Cerveja sempre detestei, tenho horror ao gosto, não me causa nenhum prazer. Mas nunca me impediu de ir a festas, aproveitar e me divertir. Mas sempre era olhada atravessado, era classificada como "a careta". Também não suportaria ficar bêbada, tenho pavor, acho feio. Algumas pessoas me criticam de querer estar "sempre no controle", mas não vejo por qual razão eu deveria perder o controle dos meus atos e da razão, no que isso vai me transformar em uma pessoa melhor.

Mais tarde fiz meu estágio de psicopatologia (6 meses) em um hospital psiquiátrico em Porto Alegre, no setor especializado em dependência química. Além de dependentes a outras drogas (como o crack, a cocaína, dentre outras), metade dos pacientes em desintoxicação eram dependentes ao álcool. Sim, o álcool é uma droga e causa os mesmos estragos que as tais ditas "pesadas". Mas ele é aceito pela sociedade e até mesmo incentivado! Quantos pacientes conseguiam realizar um excelente tratamento, mas desde que tinham alta eram recebidos pela família com uma grande festa regada a muito álcool (a família e os amigos esperam que o alcoolista tenha aprendido a "beber socialmente", quando na verdade não existe outra saída para o dependente que a abstinência completa.), e então ele tem uma recaída já no mesmo dia? 
Lembro de uma vez, eu estava na praia durante uma festa de carnaval, e me deparo com um ex-paciente. Fiquei muito contente de vê-lo com uma latinha de Sprite na mão, mas fiquei ainda mais contente de estar eu mesma com uma latinha de Coca-light. Não seria o cúmulo do rídiculo se durante o trabalho eu ajudasse os pacientes a viver sem o álcool e estivesse caindo de bêbada no carnaval???

Quantas vezes briguei com o meu pai com aquela mania que ele tinha de instistir com um visitante a beber, mas uma insistência realmente forte. Eu dizia que ninguém conhece a vida da pessoa, se ele não bebe porque não gosta, se tem um problema de saúde e utiliza medicamentos incompatíveis com o álcool ou se se trata de um ex-alcoolista que está tentando parar. Tenho muito orgulho do meu pai que tenta ser muito menos insistente, apesar de ter sido criado em uma cultura "macho" em que homem de verdade aguenta "qualquer tranco" e bebe!

Se no Brasil o fenômeno alcoólico já é forte, ele não é menos intenso na França, país dos bons vinhos e do champagne. Confesso que aprendi a gostar de vinho aqui e adoro champagne. Muita gente não acreditava que a campanha "se dirigir não beba" daria certo aqui na França, mas os resultados ao longo dos últimos anos foram excelentes e realmente a maioria da população parece levar a sério o assunto.
Mas será que é porque vivemos em um país grande produtor de boas bebidas que temos que fazer como todo mundo e beber? 
Essa é uma escolha de cada um.
Mas incomoda muita gente, principalmente brasileiros, o fato do meu marido não beber nadinha de álcool. Com os amigos franceses, esses simplesmente perguntam "não bebe?" "tem certeza?", ok, ninguém toca mais no assunto. Mas com os brasileiros o fato de não beber toma uma proporção gigante, são tantas indagações, tantas recriminações veladas (mas como é possível? Não acredito!! Mas bebe ao menos um pouquinho, prova a nossa caipirinha, etc...)

Praticamente a pessoa tem que se sentir envergonhada de não beber. Mas Sylvain (que não aceita pressão da sociedade e faz o que tem vontade e não vai mudar seus princípios) leva numa boa todas essas críticas. Ele conta que nunca gostou de bebida alcoólica, nunca foi seduzido por isso (nem por cigarro nem por drogas). Todas as vezes em que experimentou algum tipo de bebida de álcool não gostou e não teve vontade de repetir a experiência. 

Para o nosso casamento e brindes especiais como Natal, casamentos, até já aconteceu dele brindar com um dedo de champagne mais para fazer prazer aos amigos quando esses insistem muito, mas ele diz que não suporta o gosto. 

Certa vez em Cologne (Köln), na Alemanha, fomos conhecer uma taverna e um grupo de alemães resolveram nos pagar uma cerveja e não nos deram escolha, apenas de insistirmos que não bebíamos. Sylvain acabou bebendo por educação mas eu via o mal-estar dele. Eu não consegui terminar a minha, foi um momento horrível. No final nós dois fomos comprar um refrigerante e bebemos rapidinho para tentar tirar o gosto!

Outra vez estávamos em uma cidadezinha francesa chamada Fécamp e visitamos a fábrica da Benedictine, um famoso digestivo francês que já fez muito sucesso (atualmente acho que é menos famoso). A visita foi motivada por ser uma das principais atrações da cidade e os locais são muito bonitos, e também porque chovia muito e preferimos fazer uma visita de lugares fechados! A visita foi maravilhosa, mas no final tinhamos direito a degustar a bebida... Outro momento constrangedor!!! Degustamos (ele um gole, eu um pouco mais), mas decididamente não era para nós. Também tentamos a cerveja (sem álcool de Munique) e o Apfelwein de Frankfurt. Sem sucesso. 
Definitivamente, não temos vocação para alcoólatra.

Apesar de meu marido realmente não beber bebida alcoólica, sempre temos aqui em casa e nunca faltou para as nossas visitas. Respeitamos quem bebe e não temos nenhum problema em receber, visitar ou sair com amigos que bebem. 

Sinceramente, acho que existem "defeitos" bem piores na vida do que esse de não beber... Tem gente que rouba, que mata, que mente, que sacaneia, porque vamos crucificar justamente uma pessoa que não bebe? Ainda por cima, a saúde agradece. (eu sei que alguns estudos dizem que uma taça de vinho faz bem para o coração, mas para começar essas pesuisas só mostram resultados positivos para consumação a partir dos 60 anos, e ainda é bem contraditória...) A prática de esportes de forma regular, assim como água e outros ingredientes podem ser tão ou mesmo mais eficazes.

Prefiro estar casada com alguém que não bebe a estar casada com alguém que vive caído pelos bares, fazendo escândalo ou ainda pior, com uma grave dependência que exige cura de desintoxicação ou tratamento. E existe muita gente assim, a acreditar nas diversas clínicas especializadas, fazendas terapêuticas e outros tratamentos que existem. Pior que isso, as possibilidades de "cura" não são lá muito encorajadoras.

Pronto, falei!!!

P.S.: Durante um semestre acompanhei um grupo do AA em Porto Alegre para o meu relatório da disciplina da faculdade "Dinâmica de Grupos" e a definição deles é a seguinte:
Alcoólatra: alguém que AMA o álcool.
Alcoolista: alguém que é DEPENDENTE ao álcool.



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