Depois de passar uma noite em Cancun, apanhamos um colectivo até Chiquila, local onde embarcamos num ferry a caminho da Ilha Holbox. Esta ilha fica no topo norte da Península do Iucatão e é banhada pelo golfo do México e pelo mar das caraíbas. A sua localização faz com que se concentre aqui grande quantidade de plâncton, atraindo anualmente dezenas de baleias-tubarão nos meses de Junho a Setembro. Foram estes animais que nos trouxeram aqui, queríamos muito nadar com eles e há pouquíssimos lugares no mundo onde tal pode ser feito. Holbox é um desses lugares.
Inicialmente tínhamos pensado ficar apenas 2 dias mas quando desembarcamos rapidamente percebemos que tínhamos que alterar o nosso plano. Abdicamos logo do dia que tínhamos em Cancun e decidimos ficar mais um dia.
As ruas que nos levam do porto até ao centro da vila não tem asfalto, a semelhança de todas as que aqui existem, o sol queima e o ritmo das caraíbas sente-se a cada segundo. As pessoas tem um ar descontraído, calmo, são muito simpáticas e relaxadas. O bom ritmo do caribe. Decidimos ficar alojados no magnifico Tribu Hostel, e mal chegamos tratamos do tour para nadar com as baleias no dia seguinte. Custou-nos 1000 pesos por pessoa (aproximadamente 75 USD) e vale cada cêntimo.
As praias de Holbox estão cheias de pelicanos que se refrescam na agua dando grandes mergulhos. Aproveitamos o primeiro dia para dar uma volta pela povoação e relaxar estendidos na praia. A água do mar é verde esmeralda e está a 29 graus centígrados. Quando entramos parece que estamos dentro de um tacho de sopa! É tão bom. Infelizmente a mistura das águas do Golfo e das Caraíbas faz com que a visibilidade junto à costa não seja muito boa pelo que não pudemos fazer snorkeling. Passamos a tarde estendidos a ler (algo que já não conseguíamos fazer há vários dias) e um belo fim de tarde a ver o por-do-sol e a beber margaritas.
No dia seguinte levantámo-nos bem cedo. Chegava a hora de embarcamos numa lancha para procurar o maior peixe do mundo, o tubarão-baleia. Navegamos cerca de uma hora e meia até avistarmos alguns exemplares. Eram enormes e tinham um comprimento maior do que o próprio barco.
No inicio só víamos pouco mais de uma dezena mas depois do barco parar começaram a chegar mais e devem ter alcançado mais de 100.
O Pedro, o nosso guia, entrava na água connosco e orientava-nos para o local onde os deveríamos acompanhar. Temos que nadar com força para acompanhar estes animais. Eles parecem calmos e que nadam devagar mas no fundo é bem preciso dar à barbatana para os acompanhar.
Quando entrei na água fiquei quase por cima de um enorme e a minha cara quase tocou as suas guelras. Vi os movimentos que fazia para respirar e eu era minúscula ao seu lado. Tinha 4 ou 5 rémulas agarradas. Nadei e nadei de forma a o acompanhar durante algum tempo. Ele estava mesmo por baixo de mim e tocou-me quer com a barbatana dorsal quer com a cauda. Foi tão surreal; poderia estar aqui o dia todo para descrever o que senti mas seria impossível fazê-lo. Há coisas que nunca conseguiremos dizer o quanto nos agradaram, nos emocionaram e nos fizeram sentir vivos. Acho que foi isso, nadando com estes gigantes senti-me viva. Viva e livre, como se não houvesse amanhã; como se o mais bonito do mundo estivesse ali; como se tudo fosse possível.
Para além desta experiência, durante este mergulho nadei com mais dois tubarões-baleia, um deles acompanhado por um cardume de 5 raias. Mas, cada um de nós teve direito a mergulhar três vezes, o que permitiu com que nadássemos com vários tubarões-baleia durante a manhã.
Devo ter acompanhado mais de 10 no total. No final estava exausta mas completamente satisfeita. Sentia as pernas tremer de excitação e nunca tive medo. O tubarão é muito tranquilo e sempre que se aproxima de nós com a boca aberta (para comer o plâncton) desvia-se evitando colidir com os humanos. Foi uma das melhores experiências da minha vida, não tenho qualquer dúvida.
No caminho de regresso vimos tartarugas e raias-manta a passar por baixo da lancha. Que mundo maravilhoso é este? A meio do percurso para Holbox paramos a lancha para pescar. Fiquei em estado de choque quando o Pedro me disse que teríamos de pescar o almoço. O inicio não correu muito bem porque o Pedro pescava e nós nada! Pensei "vou passar tanta fome" mas depois consegui apanhar um peixe e contribuir para o ceviche maravilhoso que almoçamos no Cabo Catoche, o extremo da península de Iucatão.
A ponta da península do Iucatão, onde está o cabo Catoche, está ao lado de um ambiente lagunar extraordinário. Foi aí que paramos para almoçar e nadar nas águas transparentes (sim, transparentes) rodeados de mangais, pelicanos, garças, peixes e água quente. É assim que imagino o paraíso.
A vida selvagem decorre ao nosso lado e o homem parece conviver de forma harmoniosa com ela. A quantidade de turistas aqui é tão pequena que os animais não se parecem importar com a nossa companhia. Deixam-se fotografar e viram-se lentamente parecendo esperar um novo clic da máquina.
No regresso ao porto de Holbox ainda paramos para observar flamingos na parte Este da ilha. Mais uma imagem a preservar nas minhas memória de viajante.
O dia tinha sido longo e embora cansados, permanecemos na praia, acompanhados pelos pelicanos para observar mais um por-do-sol.
Os dias em Holbox foram memoráveis. São lugares assim que nos fazem percorrer o mundo e pensar que vale a pena todo o esforço que fazemos para os conhecer. No dia seguinte tivemos que regressar a Chiquila e a Cancun. Iremos para Isla Mujeres. Quando embarcamos no ferry do porto de Holbox, acompanhados pelo nascer do sol, deixamos para trás um paraíso, um paraíso a que esperamos um dia voltar. Mas, com o turismo crescente na Península do Iucatão, a apenas 3 horas de autocarro de Cancun, ate quando isto será um paraíso? Esta e outras questões assolam a nossa despedida. Não queremos partir mas sabemos que teremos que o fazer. Há muitos outros lugares assim no mundo (esperamos nós); só precisamos de os encontrar.
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