"Esta coisa não trava!", penso eu, com as mãos ao volante do carocha que acabamos de alugar.
- Rui, isto não trava! Dá para acreditar?
- Não pode ser. Experimenta outra vez.
- Dahh!!! Parece que não trava mesmo.
O carocha que alugamos em São Miguel, única povoação da ilha, precisa que eu comece a travar 50 metros antes do local onde quero parar. Tenho que medir bem as distâncias nos semáforos, nos cruzamentos, nos stops antes de imobilizar o veículo. Felizmente, o limite de velocidade na povoação e de 3 0km/h e fora e de 50 km/h. Com uma das mãos no volante do carocha descubro que só tem 4 mudanças e a quarta só entra quando vai a mais de 50 km/h, algo que poucas vezes acontece porque desportos radicais motorizados não são para mim.
Deixo para trás São Miguel e sigo a linha de costa da parte ocidental da ilha. Do outro lado da agua esta Playa del Carmen, uma das principais praias da Riviera Maia. Só passamos por la para apanhar o ferry mas a quantidade de turistas nas esplanadas e os preços inflacionados fez-me ter a certeza que tomei a decisão certa: Playa del Carmen não, vamos directos para Cozumel.
A ilha de Cozumel tem cerca de 50 km de comprimento e 14 km de largura com uma só estrada circulando a ilha, não indo no entanto a parte norte. Queríamos conhecer este "lugar das andorinhas", significado maia da palavra Cuzamil, nome original da ilha, e alugar um carro mostrou-se a melhor opção.
A ilha tem vários lugares fantásticos para fazer snorkeling, assim como algumas ruínas maias dedicadas ao culto de Ixchel, deusa da fertilidade, embora estas estejam bastante degradadas.
No nosso trajecto pela ilha optamos por fazer duas paragens para snorkeling. A Alanie, do nosso hostel (Tamarindo) em San Miguel, recomendou-nos o que segundo ela sao os dois melhores lugares para fazer snorkeling na ilha: playa Corona e Monkeys Bar.
O material de snorkeling pesa e ocupa lugar na mochila mas quando o usamos e entramos na agua percebemos que faz todo o sentido transporta-lo. O primeiro lugar onde fizemos snorkeling foi em Monkeys bar e era fantástico, com imensos peixes. No entanto, era necessário nadar cerca de 50 ou 100 m ate chegar ao recife. No segundo lugar, em playa Corona, o recife esta mesmo encostado a costa e e necessário caminhar sobre o coral para entrar na agua. Uma vez la dentro e como entrar num aquário: os peixes multicolores atropelam-nos, os corais mais ou menos coloridos sucedem-se e a vida marinha espreita de todos os lados.
- Para que gastar tanto dinheiro a mergulhar com este mundo aqui? - perguntou o Rui.
- Pois... - Tive que concordar.
Passamos a manha na companhia das magnificas criaturas do mundo subaquático. O carocha esperavamo-nos na estrada, pronto para nos levar a conhecer outros recantos da ilha, como as ruínas maias de El Cedral, onde almoçamos ouvindo cânticos da missa de domingo que se celebrava na igreja ao lado.
Da parte da tarde, deixamos as barbatanas, o tubo e a mascara no carocha e aproveitamos as praias do sul e do lado Este da ilha. Estivemos em Palancar, cujo recife iríamos mergulhar no dia seguinte e depois em El Mirador. Neste ultimo começa a parte Este da ilha, onde o mar e mais agitado, com correntes e ondulação. Apesar das praias serem perigosas para nadar são belíssimas: o verde esmeralda perde-se no azul turquesa das aguas e a areia de coral com o céu azul ajudam a transformar a paisagem num postal.
Fecho os olhos. Quero ouvir o vento, ouvir as ondas, sentir o cheiro do mar. Adoro esta sensação. Se não fossem os corais a picarem-me os pés pensaria que estava no paraíso.
Cozumel foi o local onde os espanhóis chegaram ao Iucatão e foi daqui que programaram toda a conquista da "Nova Espanha". Foi aqui que Cortez planeou dizimar os Aztecas e os Maias da península. Foi aqui que foi rezada a primeira missa no Novo Mundo. Cozumel foi um território importante para o desenrolar da historia do sec. XVI e XVII. Hoje, as ruínas maias praticamente desapareceram e os mergulhadores internacionais substituíram os espanhóis. A ilha vive do turismo ligado ao mergulho. Este e um dos melhores locais do mundo para mergulhar e Cousteau sabia-o muito bem quando aqui parou o Calypso. Nos não podíamos negligenciar este património natural e decidimos que no dia seguinte iríamos entrar "deep" no mundo subaquático.
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