Deixando para trás o território dos fiordes, dirigimo-nos para o norte da Islândia, onde iríamos, entre outras coisas, admirar alguns dos locais com actividade vulcânica mais conhecidos do país. Mas pelo caminho visitamos uma das outras marcas mais presentes na paisagem islandesa, as quedas de água. Por aqui, existem quedas para todos os gostos e feitios. Em certas partes da costa, até parece que quinta que se preze tem de ter a sua particular.
As quedas podem formar-se de diferentes formas, nomeadamente, devido a movimentos tectónicos, à erosão diferencial das rochas pela água (conforme a dureza das rochas), ou pela acção de um glaciar que posteriormente desaparece e deixa vales suspensos como testemunhos da sua passagem. Todos estes fenómenos são frequentes por terras islandesas, daí a frequência com que os turistas abrem a boca de espanto com as quedas que se lhes deparam.
No nosso percurso para norte, visitamos algumas das mais emblemáticas quedas de água da Islândia. A primeira no nosso percurso (na realidade um par de quedas) foi Hengifoss, a segunda queda mais alta do país e localizado nas margens do maior lago da Islândia, Lagarfljot. Do parque onde estacionamos o nosso fiel companheiro da Procar.is, iniciamos uma caminhada vertente acima. A subida é por vezes íngreme, mas a paisagem circundante atenua o esforço, assim como o facto de que o último objectivo estar quase sempre presente no horizonte, mais acima.
A meio do caminho, no vale encaixado do rio, surge uma outra belíssima queda, Lítlanesfoss, rodeada de formações espectaculares de colunas basálticas. É um reforço no nosso ânimo!
Continuando a subida, é necessário uma hora no total para chegar perto da Hengifoss. A visão final é soberba, sendo a queda singular pela sua altura, mas também pelas cores das rochas que a rodeiam. No entanto, a visão é algo obstruída pelas vertentes das montanhas, pois o caminho acaba antes de chegar mesmo junto à queda. Seria possível continuar fora de trilho pelas vertentes inclinadas, mas seria arriscado e seria necessário muito mais tempo, algo que não tínhamos. Ainda assim, descemos satisfeitos por ter feito esta caminhada.
Para norte, a oeste da cidade de Reykjahlid, encontra-se outra queda, Goddafoss, que se distingue por ser bastante larga e na realidade composta por várias quedas, lado a lado. Dizem os entendidos (neste caso, a Carla…) que é parecida com as quedas de Iguaçu, mas em ponto mais pequeno. De qualquer forma, são muito bonitas e merecem de certeza o curto percurso a pé para lá chegar, uma vez que a estrada nº 1 passa mesmo ao lado.
Mais a norte, a leste de Reykjahlid, encontra-se a que é provavelmente a mais impressionante queda que já presenciamos, de seu nome Dettifoss. É a queda com maior caudal da Europa (cerca de 200 metros cúbicos por segundo), mas para além disso tem uma outra queda ligeiramente a montante (Selfoss) que faz com que a água chegue aqui com uma velocidade já considerável. Acrescente-se o facto de que se pode aproximar a alguns metros das toneladas de água revolta que caem estrondosamente e temos um cocktail perfeito para impressionar quem quer que seja.
É possível visitar a Dettifoss de ambos os lados do canyon, mas a estrada é mais acessível do lado oeste, por isso foi este que escolhemos, apesar de também gostarmos de ter estado do outro lado. Mas foi uma escolha acertada. Deste lado, estamos de frente para a queda e podemos aproximar-nos da parede de água como em nenhuma outra que tenhamos visto. A turbulência da água e o barulho por ela gerado são tais que a impressão visual e auditiva é simplesmente vertiginosa. Sentimo-nos insignificantes em comparação com o poder da Natureza…
Saliente-se que a fotogenia e a imponência desta queda não passaram despercebidas inclusive a Hollywood, tendo sido aqui filmada (do lado leste do canyon) a sequência de abertura do filme “Prometheus”, de Ridley Scott. A cena passava-se numa Terra há milhões de anos, e um ser extraterrestre se sacrificava na cascata para o seu ADN poder espalhar-se e eventualmente dar origem à espécie humana. Ficção científica (ou não…) à parte, é assim que a Islândia parece aos meus olhos: um território que na sua quase totalidade se encontra num estado selvagem e primordial, uma paisagem ainda sem quaisquer marcas da humanidade, uma lembrança de como a Terra terá sido nos seus primórdios, aquando da criação da terra, da separação da terra do mar, e da criação da Vida. Se houve um Éden, ele não terá sido um jardim, mas sim algo como uma paisagem islandesa.
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