Embora as ilhas de Svalbard (“costa fria”) já se encontrassem referidas em sagas nórdicas, o primeiro contacto oficial com a civilização europeia deu-se quando Willem Barrents por aqui passou na sua tentativa de encontrar uma passagem para a China pelo árctico. O viajante cujo nome hoje é sinónimo do mar que banha a costa sudeste das Svalbard cunhou o nome pelo qual conhecemos hoje a maior ilha do arquipélago, Spitsbergen (“montanhas afiadas”).
O arquipélago, inicialmente desabitado, foi vendo a sua costa explorada nos séculos XVII e XVIII por ingleses, holandeses, noruegueses, franceses e dinamarqueses, empenhados na pesca da baleia e, mais tarde, na caça de ursos polares e de raposas do Árctico. Mas foi a exploração mineira, em particular de carvão, que trouxe povoações permanentes e desenvolvimento industrial ao arquipélago.
A primeira mina moderna foi inaugurada em 1906, e à povoação que cresceu em torno dela foi dado o nome do industrial dono da companhia mineira, John Munroe Longyear. Nasceu assim a cidade (“byen”) de Longyearbyen. Actualmente apenas uma mina nas redondezas da cidade continua a funcionar, fornecendo a cidade do precioso combustível para aquecimento e energia.
Localizada a 78
°N de latitude, é a cidade mais a norte do Planeta. O sol não se põe de 19 de Abril a 23 de Agosto, e a noite polar dura de 28 de Outubro a 14 de Fevereiro. A temperatura média anual ronda os – 4
°C. É assim um clima extremo, ainda que uma deriva da corrente quente do Golfo permite um clima mais “ameno” do que em ilhas (russas) à mesma latitude, mais a oriente.
A população ronda os 2200 habitantes, multicultural (com cerca de 40 nacionalidades representadas!), dedicada na sua maioria às actividades hoteleira, turística e de serviços, e é muito flutuante, sendo o tempo médio de permanência na cidade 3 a 4 anos. No entanto, existem já muitas famílias que tornaram esta cidade o seu lar, sendo sinal disso a presença de 3 infantários e uma escola com ensino básico e secundário.
Quem visita Svalbard procura o contacto com a natureza agreste do Árctico e com a sua fauna característica, na qual sobressai o urso polar. As tours organizadas para fora da cidade, visitando povoações vizinhas ou explorando vales, montanhas e glaciares são assim as preferidas pelos turistas, mas a cidade tem um encanto próprio e muitas atracções por si só.
A construção reflecte o clima árctico; as casas são construídas sobre apoios que impedem que o aquecimento derreta o subsolo permanentemente gelado (“
permafrost”), e os tubos que transportam a água são elevados do solo. A madeira, bom isolador térmico, é o material preferido, e as cores vivas das casas contrastam com o branco predominante da paisagem. Na cidade, e nos arredores, podem ainda ver-se restos das construções associadas à exploração mineira, agora protegidas por lei e consideradas património cultural (ainda que, por vezes, ferrugento e decadente).
Banhada pelo fiorde de Advent (
Adventfjorden), a cidade tem montanhas que a rodeiam pelo norte (na outra margem do fiorde) e pelo sul, onde se podem admirar 2 glaciares, o
Longyearbreen e o
Lars Hjertabreen, caminhando uns 15 a 20 minutos.
Junto ao fiorde, um passeio pela “marginal” é obrigatório. O mar revela a sua superfície gelada, sendo que, agora em Abril, o degelo começa a notar-se e a superfície da água é recortada por placas de gelo de diferentes espessuras e desenhos, que colidem uns com os outros e andam à deriva ao sabor do vento.
A cidade tem galerias de arte, piscina (aquecida), ginásio, supermercado, bares, uma discoteca, e hotéis e restaurantes para diferentes gostos e carteiras. No entanto, os mais baratos são ainda assim caros, uma vez que estamos em território norueguês e no árctico. A cidade, que continua a ser um ponto de partida privilegiado para expedições ao Pólo Norte, assim como de missões científicas, tem um pólo universitário de investigação científica, onde se estudam as dinâmicas glaciares e o efeito das alterações climáticas no árctico, com dezenas de estudantes de várias universidades norueguesas e estrangeiras, que aqui completam os seus estudos.
Longyearbyen também se pode gabar de ser o local da Arca (vegetariana) do século XXI. Foi aqui que o governo norueguês e as Nações Unidas construíram, em 2008, o “Cofre Forte Global de Sementes” (
Global Seed Vault), escavado no interior de uma montanha sobranceira ao aeroporto da cidade, e que já armazena mais de 4 milhões de amostras de sementes oriundas de todo o mundo. A visita ao seu interior não é permitida, mas uma fotografia à porta desta construção digna do argumento pós- apocalíptico de um filme de Hollywood é obrigatória!
Finalmente, não se pode deixar passar a oportunidade de visitar o Museu de Svalbard, no mesmo edifício da universidade, com uma exposição muito bem organizada e informativa sobre a vida dos exploradores, caçadores e mineiros, pioneiros do árctico, e da vida selvagem do arquipélago. Os artefactos e a recriação de divisões de casas e minas, assim como os animais embalsamados (incluindo um urso polar), fazem as delícias de crianças e adultos.
Depois de todas estas actividades, sugerimos que escolham um sítio, de preferência aquecido, mas com vista para as montanhas a norte, e simplesmente absorvam sensação de estarem o mais além que se pode estar, no conforto de uma cidade, a “apenas” 1300 km do Pólo Norte.
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