Memória das cidades
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Memória das cidades



Não sei se isso acontece com todo mundo, acredito que sim, de chegar a uma cidade pela primeira vez e ter a sensação de que já esteve lá, ou que poderia viver naquele lugar, para sempre. Cidades como o Rio de Janeiro - onde aportei pela primeira vez em 1968 -, Veneza, Paris, Lisboa, Havana e, mais recentemente, o pequenino povoado de Santo André, fundando entre o caudaloso rio João do Tiba e o mar do Sul da Bahia, em sua performance mais azul, tranquila e caliente. Meu Deus, o que é aquilo!
Essa sensação eu não tive em outras tantas e lindas cidades visitadas, no Brasil ou fora daqui. Comecei, então, tentar entender o porquê dessa identidade com cidades tão distintas, histórias, linguagens, climas, culturas... Em todas elas eu estive sozinha. À Santo André, a primeira viagem foi em companhia de amigos. Porém, assim que retornei, tive uma vontade incontida de voltar, absolutamente desacompanhada, e (re)encontrar o lugar com meus próprios olhos, meus próprios sentimentos. Enfim, na terceira viagem àquele lugar, já estava com uma casinha alugada, e praticamente mobiliada.
De tanto pensar, acabei descobrindo, durante a experiência de uma mulher que viaja sozinha, carregando suas malas, fazendo suas próprias escolhas, aqueles lugares que tocaram fundo minha alma, aonde, penso, aprendi a ser só. Lugares onde, admirando a paisagem, entre um café ou um drinque, fui feliz: um chope e o por do sol em um bar no Arpoador, no Rio de Janeiro; um expresso com creme na Piazza San Marcos, em Veneza; uma taça de “portô rouge”, em um café na beira do Sena, em Paris; a cerveja gelada no fim da tarde, no miradouro de Santa Catarina, em Lisboa; o trago de rum no calçadão do Malecon, em Havana e, finalmente, um espumante de frente pro mar de Santo André, na Bahia.
Esses foram momentos de pura felicidade, nenhuma culpa ou (pré)conceito. Vou seguir em frente, sozinha, ser for o caso.   



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