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A Catedral de São Lourenço com Lugano ao fundo |
Maior núcleo urbano de fala italiana fora da Itália, Lugano está praticamente colada na fronteira ítalo-suíça. Apertada entre montanhas e um lago, lembra as cidades às margens do Lago de Como. Também pudera, está a apenas 1h10min de Milão por trem, enquanto Zurique fica a longas 2h30min. Apelidada de “Montecarlo suíça” a cidade de 62.000 habitantes tem uma inconfundível atmosfera chique, sendo sede de vários festivais nos meses de primavera e verão; o mais conhecido é o Festival de Jazz que ocorre no início de julho. O fato menos divulgado é que Lugano não é somente uma localidade turística, sendo o terceiro maior centro financeiro do país. De qualquer forma, não há como negar que o ambiente aqui é muito mais relaxado que o de Zurique ou Lucerna.
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Contemplação no Parco Civico junto ao Lago Lugano |
O cantão de Ticino, onde está situada Lugano, é reconhecido como o lugar mais quente e ensolarado da Suíça. No meu último dia de estadia em Zurique estava enfrentando um dia bem chuvoso quando lembrei dessa informação e consultei a previsão dos sites meteorológicos. Bingo! Lugano estava com céu apenas encoberto. Peguei o trem na estação e tomei o rumo do Ticino. Grande parte da ferrovia entre Zurique e Lugano constitui um dos roteiros cênicos mais famosos da Suíça, o William Tell Express. O nome homenageia o lendário arqueiro que no século XIV teria acertado uma flecha na maçã colocada sobre a cabeça do seu filho, amarrado na vila de Altdorf, por onde passam os trilhos da ferrovia. Aliás, Altdorf fica perto da região de Schwyz, de onde surgiu o nome do país.
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A igreja de Wassen surge pela segunda vez no trajeto Zurique-Lugano |
Após margear os lagos de Zurique, de Zug e o idílico Lago dos Quatro Cantões (já mostrado nos posts sobre Lucerna e Pilatus), o trem envereda por vales profundos e pitorescos, passando por várias vilas que contêm sempre igrejas semelhantes, com o topo da torre única em formato de cebola. Perto do Passo de São Gotardo, que separa as Suíças de fala alemã e italiana, acontece um fato curioso. A vila de Wassen com sua igreja surge três vezes em trechos diferentes do percurso, fazendo parecer se tratar de vilas diferentes. O fato se explica pelo trilhos do trem subirem a serra em loops em volta de Wassen, fazendo curvas em túneis, o que causa nossa perda da noção do espaço. Esta parte do trajeto, uma das mais bonitas, vai desaparecer do roteiro dentro de alguns anos – a inauguração do novo túnel de São Gotardo, com extensão de 57 quilômetros, está prevista para o segundo semestre de 2016, o que fará encolher em 45 minutos o trajeto, mas privará o viajante de vistas sensacionais. Por sinal, as obras para abertura do túnel são facilmente identificadas pelo estrago na paisagem, nos dois lados do Passo.
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O funicular de acesso à estação ferroviária de Lugano |
Ao sairmos do atual túnel de São Gotardo (que possui “somente” 15 quilômetros), a paisagem arquitetônica muda radicalmente. Com a troca de cantão e de língua, casas cinza de pedra com ar mais rústico assumem o lugar das construções de aparência germânica, anunciando a chegada ao cantão de Ticino. Vários minutos depois, o trem faz uma parada em Bellinzona, a capital do cantão. Uma alternativa para quem quer chegar a Lugano por via ferroviária é pegar o trem para Locarno, soltar na estação de Bellinzona e tomar o trem regional para Lugano. Apesar da conexão, esta pode ser uma oportunidade excelente para conhecer a capital, Patrimônio da Humanidade pela Unesco e grande atração histórica da Suíça pela sua arquitetura medieval que inclui nada menos que três castelos.
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A Piazza Cioccaro |
A estação ferroviária de
Lugano fica situada no morro, com bela vista para a cidade e o lago. Desci pelas ruelas até o centro da cidade, passando pela
Catedral de São Lourenço, com sua fachada renascentista
. Na volta, a preguiça falou mais alto e tomei o funicular que sai da
Piazza Cioccaro, uma das mais pitorescas de Lugano.
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A vazia Piazza della Riforma, com o amarelo Pallazzo Civico |
A duas quadras curtas da Piazza Cioccaro fica a praça principal de Lugano, a
Piazza della Riforma. Seu nome já revela o aspecto liberal da cidade, que se mantém até hoje. A praça foi palco de uma batalha contra as forças de Napoleão Bonaparte em 1798 que resultou na curta independência do Ticino contra o governo suíço estabelecida pelo imperador francês. Pelo que eu li, a praça costuma ser palco de festivais e outros acontecimentos, mas no meio da tarde de uma quarta-feira estava bem vazia, não condizendo com a reputação de Lugano. Seu maior destaque é o belo
Pallazzo Civico, que separa a praça da orla do lago. O palácio foi construído em 1844 para ser a sede do governo cantonal, que na época se revezava entre Lugano, Locarno e Bellinzona; hoje sedia a Prefeitura. A rua mais classuda de Lugano, a
Via Nassa, sai da praça e apresenta inúmeras lojas de grife e joalherias em prédios com arcadas no estilo milanês.
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Os jardins do Parco Civico e o Lago de Lugano |
Mas a atração maior de Lugano é mesmo seu lago. Do prédio da prefeitura, que abriga o escritório de informações turísticas, uma caminhada pela orla leva ao
Parco Civico, o parque da cidade, originalmente os jardins de uma mansão, a Villa Ciani, que hoje abriga o museu municipal. Pela sua localização logo após uma curva das margens do lago, o parque oferece as melhores vistas para fotografar a orla do centro da cidade com seus prédios históricos.
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A orla de Lugano com o Parco Civico às margens do lago e por trás, o Monte Bre |
Há dois mirantes nos arredores de Lugano de onde se pode ter uma vista da cidade, do lago e dos Alpes. Cada um fica em um lado da cidade. O primeiro é o Monte Bre, acessado por um funicular com estação a algumas quadras a leste do Parco Civico. O acesso ao segundo, o Monte San Salvatore, também é feito por funicular. Curiosamente, o San Salvatore é comparado em alguns folhetos turísticos ao Pão de Açúcar carioca.
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O Monte San Salvatore (à direita) se ergue junto ao Lago de Lugano |
Minha visita a Lugano foi meio atrapalhada e corrida, pois foi decidida em cima da hora em substituição ao que tinha planejado, uma subida ao Monte Rigi, riscada do mapa pelo tempo péssimo na área central da Suíça. O ideal é incluir um pernoite em Lugano e aproveitar para dali rumar para o lago do Como ou Milão, ou melhor ainda, alcançar St. Moritz por um dos mais bonitos trajetos alpinos existentes, o Bernina Express.
Cidade em que me hospedei: Zurique
Acesso a Lugano: desde Zurique por trem. A partir de Lucerna pode ser feita por trem ou por barco que atravessa todo o Lago dos Quatro Cantões até a conexão com o trem em Flüelen - este é o percurso completo do William Tell Express.
Transporte pelo Swiss Pass: Coberto no transporte ferroviário. Os funiculares para os Montes Bre e San Salvatore têm desconto de 50% com a apresentação do passe.
* Este é o décimo post da série sobre a Suíça. Para visualizar os demais, acesse A saborosa Suíça. Postado por Marcelo Schor em 27.12.2014
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