Apesar de nos termos aventurado na frente do Sólhimajokull, o glaciar mais acessível do campo de gelo Vatnajokull, a verdade é que, sem o material apropriado e sem a orientação de um guia com experiência no terreno, ninguém se deve aventurar mais do que alguns metros na superfície gelada de um glaciar.
Estando acampados no parque de campismo de Skaftafell, mesmo ao lado de vários glaciares que descem do Vatnajokull, não podíamos deixar passar a oportunidade de explorar um pouco mais um desses glaciares. Para isso contratamos os serviços da agência local "Glacier Guides", escolhendo a tour "Glacier Etreme", que tem algumas vantagens em relação à "Glacier Walk". Nesta última, faz-se um percurso a pé sobre o glaciar, enquanto na primeira, acrescentam-se algumas actividades no gelo, tal como escalada no gelo, além de um tempo de permanência no glaciar muito maior.
Saímos do escritório da "Glacier Guides", junto à portaria do parque de campismo de Skaftafell, cerca das 11.30h, já equipados com arnês, e um piolet, crampons e capacete para usar em cima do gelo. Fazíamos parte de um grupo de 10 pessoas, acompanhados de 2 guias, e dirigimo-nos para o glaciar escolhido, Svinafellsjokull, a bordo de um ex-"school bus" americano. O glaciar em questão, visto à distância, é espectacular já que desce abruptamente da altura do manto de gelo, formando como que uma série de cascatas de gelo. Estávamos em pulgas...
Estacionado o autocarro, prosseguimos numa marcha de cerca de 25 minutos que nos levaria até à frente do glaciar. O tempo estava óptimo (soubemos pelo nosso guia que era o 1º dia de sol nas últimas 4 semanas!) e o gelo iluminado pelo sol contrastava com o azul do céu. As nossas preces do dia anterior tinham sido atendidas...
Junto ao glaciar recebemos algumas instruções dos guias sobre como calçar os crampons e como caminhar no gelo e demos início à subida. Apesar da frente do glaciar sofrer um degelo natural, e existem alguns cursos de água subterrâneos e superficiais, o gelo está duro e bom para se caminhar. Os guias vão mostrando o melhor caminho e vão falando sobre o glaciar e a sua dinâmica. São ambos muito informativos e parecem ter uma boa formação teórica, além da prática. Ao longo da subida, por vezes mais suave, mas às vezes mais íngreme, vamos deliciando-nos com a paisagem conturbada do gelo que desce pela montanha e vale.
Passamos por vários instrumentos de monitorização da frente do glaciar, aqui colocados por cientistas britânicos, e que nos dizem que o glaciar tem perdido muita massa e volume nos últimos anos, tendo a sua frente retrocedido consideravelmente, em especial nos últimos meses. Curiosamente, os nossos guias não têm notado Verões mais quentes ou Invernos menos rigorosos, o que ilustra o facto de que o degelo de um glaciar depende de muitos outros factores além da temperatura. Até se gerou um debate no nosso grupo acerca da importância da emissão de gases de estufa no aquecimento global, uma vez que estavam presentes vários engenheiros, uma geóloga e uma geomorfóloga glaciar!
Conforme subimos, o perfil do glaciar vai tornado-se mais inclinado, e atingimos uma zona em que o gelo forma paredes quase verticais, erguendo-se no final desta zona a uma cota de cerca de 750 m. A partir daqui, a progressão é só para profissionais treinados, por isso paramos aqui, e aproveitámos para comer qualquer coisa e encher os cantis de água glaciar (água mais pura é difícil!).
É aqui também que os nossos guias montam a segurança para treinarmos escalada no gelo, e instruem-nos nas técnicas base, nomeadamente o uso correcto de crampons e piolets de escalada. Estávamos prontos para a acção! Esta actividade já não é novidade para nós, mas é sempre algo que consegue subir os níveis de adrenalina no sangue! Isto apesar de ser tudo feito com a máxima segurança com cordas, não havendo possibilidade de queda.
Depois de experimentarmos algumas paredes de gelo, e já com quase 5 horas de permanência no gelo, estava na altura de descer e ao mesmo tempo explorar algumas das formas que o gelo apresenta, nomeadamente arcos e grutas. Gradualmente abandonamos a área do glaciar em que o gelo apresenta formas mais imponentes e entramos na zona onde o degelo é evidente, não deixando de ter cuidado com as fendas ("crevasses") e buracos ("moulins") no gelo, decorrentes da erosão provocada pela água e do movimento do gelo.
Quando regressamos ao parque de campismo, vínhamos duplamente satisfeitos: a natureza tinha-nos brindado com um espectáculo deslumbrante, e um céu limpo (a maior parte do dia) a condizer, e a "Glacier Guides" prestou um ótpimo serviço, personificado nos seus guias, simpáticos, atentos e esclarecedores.
Para quem passar por aqui, é uma experiência a não perder!
Dados práticos:
Phone: (+354) 659 7000Site: glacierguides.is
Avaliação: *****
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