Flores, uma pérola no lago El Petén
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Flores, uma pérola no lago El Petén


No sabían que esperaraban a los dzules, hombres blancos, ni a su cristianismo. No sabían lo que era pagar tributo. [...] Había en ellos sabiduría. No había entonces pecado. Había santa devoción en ellos. Saludables vivían. No había entonces enfermedad; no había dolor de huesos;  no había fiebre para ellos; no había viruelas, no había ardor de pecho, no había dolor de vientre, no había consunción. Rectamente erguido iba su cuerpo, entonces. No fue así lo que hicieron los dzules cuando llegaron aquí. Ellos enseñaron el miedo; y vinieron a marchitar las flores. Para que su flor viviese, dañaron y sorbieron la flor de los otros. No había ya buenos sacerdotes que nos enseñaran. Ése es el origen de la silla des segundo tiempo, del reinado del segundo tiempo. Y es también la causa de nuestra muerte. No teníamos buenos sacerdotes, no teníamos sabiduria, y al fin se perdió el valor y la verguenza. Y todos fueron iguales. Mo había alto conocimiento, no había sagrado linguaje, no había divina enseñanza en los substitutos de los dioses que llegaron aquí. ¡Castrar al Sol! Eso vinieron a hacer aquí los extranjeros."
 Libro de Chilam Balam de  Chumayel
  


Flores é uma pequena localidade localizada numa igualmente pequena ilha no lago de Petén Itzá, o terceiro maior da Guatemala (a seguir ao de Izabál e Atitlán). É, sem dúvida, um dos locais mais bonitos da Guatemala, com um ambiente calmo e íntimo, próprio de uma pequena comunidade, mas também beneficiando do movimento incessante de turistas que daqui partem para Tikal e Lanquín. Poucos são aqueles que dormem na ilha, e isso faz com que as características do local não se percam nesse bulício. 



  
Petén Itzá significa Ilha dos Itzás e deriva do facto destes últimos, que habitaram na península do Iucatão nos séc. XI a XIII, terem fundado a cidade num movimento migratório resultante de guerras entre as cidades de Chichén Itzá (a sua capital, cujo nome significa "ao lado do poço dos Itzás"), Mayapán e Uxmal.




A cidade por eles fundada chamava-se Tayasal e teve o destino singular, e ao mesmo tempo trágico, de ter sido o último reino maia a ser subjugado pelos espanhóis. Apesar do próprio Hernán Cortés ter passado por Tayasal em 1525 (em direcção à actual Honduras), o interesse despertado nos ambiciosos e cobiçadores conquistadores não deve ter sido muito pois no século seguinte não há registo de confrontos entre as duas partes. A sua relativa inacessibilidade, estando no centro de uma enorme região (actual Petén) dominada por extensas e densas florestas tropicais, explica talvez o facto de ter sido apenas em 1697 que os espanhóis deram o "golpe de misericórdia", destruindo por completo a cidade e reduzindo a escombros e cinzas todo o tipo de edifício. 



A actual Flores está construída sobre as ruínas dessa cidade. Curiosamente, na margem oposta à cidade, fazendo parte  na realidade de uma grande península que "estrangula" o lago, situam-se umas ruínas maias também designadas por Tayasal, mas que pertencem ao Período Clássico, muito antes da chegada dos Itzás à região. Foi precisamente para essa península que nos dirigimos de barco, logo de manhã, para podermos visitar as ruínas (embora soubéssemos que não estão escavadas) e, principalmente, admirar as vistas do lago e suas margens e da cidade de Flores, a partir de um mirador no topo de uma colina.




Ainda andamos meio perdidos no meio da densa vegetação (e sem água...), mas lá conseguimos descobrir o caminho certo para o ponto de observação (no topo de uma estrutura de madeira) e, a seguir, para uma praia nas proximidades, onde as águas apresentam uma linda tonalidade verde. Das ruínas pouco se pode ver, excepto que as pequenas colinas que abundam no sítio, cobertas por vegetação e às quais se pode subir para melhores vistas, escondem sem dúvida estruturas feitas pelo Homem. 




Regressamos ao pequeno porto e negociamos com um jovem o preço para nos levar (e trazer de volta) a El Petencito, um pequeno zoo situado em 2 ilhas ligadas por uma ponte. Como tínhamos percorrido os trilhos da Reserva Natural de Cockscomb (Belize) sem avistar nem uma pinta de jaguar, decidimos que teríamos que nos contentar em ver um espécime em cativeiro. E, apesar de ser triste ver um animal destes circunscrito a um espaço de terreno diminuto, a verdade é que cá fora já poderia ter sido caçado e aqui faz as nossas delícias! Além da "estrela" jaguar, o zoo tem alguns animais que também disputam as atenções dos visitantes, tais como o puma e outros (mais pequenos) felinos, tucanos, araras, papagaios, crocodilos e os omnipresentes macacos! 





  



  
Regressamos a Flores, onde apreciamos comida típica... italiana!
  


O nosso hostel "Café Arqueológico Yax-Ha", com as paredes cobertas de fotos e artigos de sítios arqueológicos maias, é gerido por um arquitecto alemão que se transformou em "maianista" e tem contribuído para o desenvolvimento da investigação e exploração da região de Petén. Infelizmente, de acordo com o itinerário que traçamos, não tínhamos mais tempo para esta região e os seus numerosos e remotos sítios maias. Para trás ficaram El Mirador (cujo único acesso é um trek 5 dias pela selva!), Yax-Ha, Uaxactun, El Kotz, Piedras Negras, Dos Pilas (e mais alguns...), pois teríamos de seguir em frente para outras paragens, nomeadamente Lanquín e as piscinas naturais de Semuc Champey. 





Ficou quase tudo por ver nesta região ainda pouco explorada, mas há sempre que fazer escolhas numa viagem como a nossa, e sabemos de antemão que deixamos inúmeros lugares maravilhosos por ver. E se é verdade que a vida se desenrola por ciclos, quem sabe se não voltaremos a pisar terras maias, para descobrir aquilo que deixámos incógnito para trás? Talvez no próximo baktun...





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