Dois dias em Dublin - Parte I: Trinity College
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Dois dias em Dublin - Parte I: Trinity College


A entrada do Trinity College

          Costumo dividir as cidades que visito em três categorias: as que me impressionam à primeira vista, as que não me agradam e aquelas que vão me conquistando aos poucos. Dublin definitivamente pertence a essa última categoria. 

As atrações de Dublin mencionadas 

       Passei três dias e meio na capital da Irlanda; destes, usei dois para percorrer a cidade, tempo  suficiente para conhecer suas atrações (o terceiro foi dedicado à Irlanda do Norte; já contei sobre essa ótima excursão em posts passados. O meio dia restante, chuvoso, dediquei aos museus). Dublin foi a primeira parada de um roteiro meio maluco que também incluiu Malta e Suíça.

Pub típico no bairro boêmio de Temple Bar

         Dublin não possui uma mega-atração como algumas capitais europeias, mas está repleta de lugares interessantes, muitos dos quais ajudam a contar a história conturbada da Irlanda. É uma cidade agitada, com muitos jovens, e famosa por seus pubs e sua cerveja, que pode ser apreciada também na visita à Cervejaria Guinness.

         Duas coisas me chamaram a atenção: brasileiros distribuindo panfletos de propaganda  (indicando a grande emigração para lá) e a quantidade anormal de guimbas de cigarro jogadas na rua, especialmente na área do Temple Bar, jogando por terra meu conceito de que normalmente as cidades na Europa possuem ruas mais limpas que suas congêneres brasileiras. Falando no bairro boêmio de Dublin, um programa imperdível é caminhar pelas suas ruas estreitas que abrigam inúmeros pubs. Nas noites de final de semana, as ruas e os pubs entopem de gente, jogando conversa fora com uma caneca de cerveja na mão e apreciando a música de bandas que tocam nos bares e nas calçadas. Foi num pub do Temple Bar que apreciei um dos pratos típicos e mais antigos da culinária das Ilhas Britânicas, o Cottage Pie, que para meu espanto era muito similar ao nosso escondidinho.
Tour anfíbio com motivação viking passando pelo St. Stephen's Green

        A história de Dublin se inicia com um fato que pode parecer inusitado para quem não conhece a história irlandesa: a cidade foi fundada por vikings no século IX. A Irlanda na época era conhecida pelos mosteiros celtas, redutos de estudiosos, uma exceção na Europa da Idade Média, mergulhada nas trevas. Os monges viviam em permanente vigília contra os invasores vikings, que acabaram dominando grande parte da ilha até serem expulsos três séculos mais tarde pelos anglo-normandos, que capturaram Dublin em 1170. Dublin então permaneceu sob o domínio inglês até 1921, ano da independência da Irlanda. Quem passeia pela cidade pode encontrar referências das três culturas da sua formação - viking, celta e inglesa. Toda essa saga pode ser melhor compreendida numa visita ao National Museum. Qual não foi a minha surpresa ao encontrar turistas usando o chapéu com chifres enormes típico das histórias do Thor, como mostra a foto acima...

A Ha'Penny Bridge cruzando o rio Liffey

       Dublin é dividida pelo rio Liffey e quase todas suas atrações se situam  no lado sul do rio; portanto esta é a melhor região para se hospedar. Com exceção da fábrica da Guinness e da Prisão de Kilmanhain, todos os pontos turísticos ficam localizados no centro, com deslocamento fácil a pé. As próprias margens não são particularmente bonitas, e das pontes que  cruzam o rio, a única que merece destaque é a Ha'Penny Bridge, conectando o Temple Bar com a zona comercial da margem norte. O apelido da ponte de ferro fundido (o nome oficial é Liffey Bridge) se origina da cobrança de pedágio de meio penny na época de sua inauguração em 1816.

O Campanário, com o prédio da entrada principal por trás

       Comecei meu passeio a pé no meio da manhã pelo Trinity College, a poucas quadras do meu hotel. Numa posição central, a instituição de ensino superior mais conhecida da Irlanda ocupa uma vasta área com prédios imponentes entremeados por jardins.  Fundado pela rainha Elizabeth I em 1592 onde antes existia um mosteiro, o Trinity College só aceitava protestantes até 1970. Lá estudaram notáveis como Samuel Beckett, Oscar Wilde e Jonathan Swift.

        O conjunto arquitetônico o torna um dos campi mais bonitos em que já pisei. Pode-se conhecer suas instalações por conta própria, ou então se juntar ao tour conduzido por um aluno vestido a caráter, como eu fiz. O tour, bem interessante, sai da porta principal (a da foto que abre o post) várias vezes por dia, e percorre os jardins, com o guia discorrendo sobre a história da universidade e de seus prédios, além de contar algumas histórias saborosas sobre docentes e discentes ocorridas nos mais de 400 anos de funcionamento  da veneranda instituição. O passeio guiado leva cerca de 35 minutos e custou €12. Para saber os horários do tour, acesse www.tcd.ie/Library/bookofkells/trinity-tours; a frequência varia de acordo com a época do ano e o dia da semana.

Vista do campus do Trinity College 

          Um dos destaques é o Campanário central, erguido em 1853, além da parte mais antiga, um prédio de tijolos vermelhos erguido por volta de 1700. A escultura moderna "Sphere within a Sphere", do italiano Arnaldo Pomodoro, enfeita a entrada da Berkeley Library  e fornece um contraste com os prédios centenários à sua volta. Se você  acha que já viu a escultura em algum outro lugar, está absolutamente certo: existem cópias em muitas edificações espalhadas pelo mundo , tais como o Museu do Vaticano e a sede da ONU em Nova Iorque.

"Sphere within a Sphere" no pátio do Trinity College

             O tour guiado acaba na porta da Old Library, cujo ingresso está incluído no tíquete. A Biblioteca do Trinity College é a maior de toda a Irlanda. Especificamente nesse prédio de 1732 está guardado um dos maiores tesouros da Irlanda, o Livro de Kells, um manuscrito do século IX provavelmente elaborado por monges escoceses que se refugiaram em Kells para escapar dos vikings, e que hoje é considerado o mais importante objeto remanescente da época do cristianismo celta. Doado à Universidade em 1654, o livro contém os quatro Evangelhos em latim, com caligrafia intrincada e ornada por desenhos magníficos e extremamente elaborados. Normalmente são expostos dois dos quatro volumes existentes.

          Após o salão onde o livro está exposto numa redoma entre outros artefatos históricos, chegamos à sala principal da biblioteca, a Long Room, com pé-direito alto e extensão de 64 m. Estão armazenados nessa sala 200.000 textos antigos em meio a bustos de mármore. A visão impressiona. Uma curiosidade informada pelo aluno-guia é que os livros da sala da biblioteca da Universidade não estão arrumados por assunto ou por alguma ordem alfabética, como seria de se supor, e sim por tamanho, para aproveitar melhor o espaço. Coroando todo o conjunto, está a harpa mais antiga existente na Irlanda, confeccionada no século XIV com madeira de carvalho. Esta é a harpa que aparece em todas as moedas de euro no país.

A Long Room da biblioteca, com os livros e bustos dispostos ao longo do salão

    No próximo post, contiuamos nosso passeio por Dublin.


 Postado por  Marcelo Schor  em 15.05.2015 




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