Descobrindo os Países Bálticos
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Descobrindo os Países Bálticos


A Praça da Prefeitura em Riga

         Ao se mencionar o ano de 1989 e a derrocada do comunismo, a Queda do Muro de Berlim logo nos vem à lembrança. Três meses antes, em 23 de agosto, um outro fato surpreendente aconteceu. Dois milhões de  estonianos, letões e lituanos (37% da população nativa) se deram as mãos por quinze minutos e formaram uma enorme corrente humana de 600 quilômetros de extensão ligando as capitais Tallinn, Riga e Vilnius. O objetivo era chamar a atenção do mundo, de forma pacífica,  para o desejo de independência das três nações bálticas, que então eram parte integrante da antes inexpugnável União Soviética. Seis meses depois, a Lituânia se declarou independente, seguida posteriormente por todas as demais repúblicas soviéticas. Esta lição de determinação foi uma das muitas que aprendi no fantástico circuito de nove dias que empreendi pelos Países Bálticos em setembro passado.

A Catedral de Vilnius, em estilo clássico

        Os três países somados ocupam uma superfície plana um pouco menor que a do estado do Paraná, situados entre o Mar Báltico a oeste e norte, a Polônia ao sul e a Rússia e Bielorrússia a leste, e cobertos em grande parte por florestas. Esta localização estratégica imprensada entre duas grandes potências, Alemanha e Rússia, rendeu uma série de guerras e invasões ao longo dos séculos. Na realidade, a região já esteve sob domínio dinamarquês, alemão, sueco, polonês e russo. Independentes mesmo os Países Bálticos só ficaram em duas ocasiões nos últimos duzentos anos: no momento atual e no período entre as duas Guerras Mundiais, entre 1918 e 1940.

Entrada do Castelo lituano de Trakai

      O adjetivo "báltico" é um termo flexível, com abrangência variando de acordo com cada situação.  Tradicionalmente, os Países Bálticos são formados pela LituâniaLetônia Estônia. No entanto, se falamos da região báltica, englobamos na realidade todos os países que são banhados pelo Mar Báltico, incluindo portanto a Suécia, por exemplo. Para complicar, quando mencionamos as línguas bálticas, estamos nos referindo somente ao lituano e ao letão, já que o estoniano pertence à família do finlandês. Aí já temos a primeira diferença entre os três países, os idiomas - todos absolutamente ininteligíveis ao ouvido brasileiro, com exceção de algumas poucas palavras como 'taksi'. A religião também varia, desde o catolicismo da Lituânia ao luteranismo na Letônia. Toda esta variedade histórica, linguística e religiosa  faz com que possamos presenciar um autêntico e rico caldeirão cultural. Em comum, a garra pela manutenção da  identidade própria e a determinação em se livrar dos resquícios soviéticos.

Um exemplo de fachada art-nouveau em Riga

         Os Países Bálticos, livres após mais de quarenta anos de domínio soviético (falarei mais a respeito no post sobre Riga), hoje estão bastante ocidentalizados, tendo entrado na União Europeia e na OTAN em 2004. Até a crise econômica de 2008, vivenciaram um crescimento vertiginoso em diversas áreas - o software Skype, por exemplo, foi desenvolvido na Estônia. Apesar de pertencentes à União Europeia, somente a Estônia aderiu ao euro, em 2011. Os demais deveriam adotar a moeda única nos próximos anos, mas com a atual crise, talvez isto jamais aconteça... A consequência é a necessidade de troca de moedas a cada fronteira cruzada, como acontecia na Europa Ocidental há onze anos atrás. Para complicar a situação, a moeda da Letônia, o lats, é ainda mais valorizada que o euro!
===> Atualização em 01/01/15: desde esta data, o euro é adotado pela Lituânia, Letônia e Estônia.

A cidade medieval de Tallinn

         Que atrações estes países oferecem? Para começar, as três capitais são Patrimônio da Humanidade pela Unesco, e cada uma por características diferentes. Vilnius, a capital da Lituânia, é uma joia barroca repleta também de prédios em estilo clássico. Riga, a maior cidade e capital da Letônia, possui uma grande quantidade de prédios com fachadas fabulosas em estilo art-nouveau. A cidade é tão bonita que era antigamente conhecida como a 'Paris do Norte'. Já Tallinn, na Estônia, possui uma cidade medieval única e absolutamente encantadora, parcialmente situada numa colina.

A singular Prefeitura de Tallinn

         Além do mais, a região é pródiga em palácios e castelos que guardam  histórias e lendas incríveis. Vários destes tesouros arquitetônicos estão situados no interior, alguns em paisagens belíssimas, como foi o caso do Castelo de Turaida, situado no Parque Nacional de Gauja, na Letônia. E aqui chegamos à dúvida que me assolou quando resolvi conhecer a região. Viajaria por conta própria, como sempre fiz em todas as viagens relatadas neste blog, ou seria mais prático me engajar em uma excursão? O fato de não saber se o inglês estava muito difundido na população, saída do comunismo há 20 anos, também contribuiu para o dilema. Decidi embarcar em uma excursão o mais "light" possível, com bastante tempo livre nas capitais, com visita às principais atrações do interior e sem refeições incluídas, o que me permitiria experimentar os pratos típicos locais. Creio que fiz uma escolha acertada - nas capitais, conseguia me comunicar bastante bem através do inglês, mas teria dificuldade em viajar para o interior. Lá, até o nome das localidades é difícil de se compreender, dada a profusão de letras estranhas com cedilha. Afinal, como pronunciar o letão ķ ?

Praça do Castelo e o Castelo Real em Varsóvia

          Já deve ter dado para perceber que voltei um admirador profundo dos três países e de seus povos. A partir do próximo post, começaremos a desvendar as maravilhas desta região. A viagem se iniciou em Varsóvia, na Polônia. Apesar de não ser considerada um dos Países Bálticos, a Polônia é banhada pelo Mar Báltico e possui vínculos históricos profundos com a Lituânia, conforme veremos nos posts iniciais. Desta forma, não chega a ser uma impropriedade incluir a capital polonesa como a primeira atração da qual falaremos nesta viagem aos Países Bálticos.

O caminho percorrido da Polônia à  Estônia,  passando pela Lituânia e Letônia
G = Varsóvia, F = Vilnius/Trakai, E = Siauliai, D = Rundale, C = Riga, B = Sigulda, A = Tallinn



  Postado por  Marcelo Schor  em 07.11.2012  

  Posts publicados na série:
  • Varsóvia, a capital renascida das cinzas
  • A história de Varsóvia através de seus monumentos
  • Lituânia - das espadas de Trakai às cruzes de Šiauliai
  • Vilnius, a Jerusalém da Lituânia
  • As muitas faces de Riga
  • A Riga do século passado
  • Castelos da Letônia - uma viagem no tempo
  • Estônia, nórdica ou báltica?
  • A cidade medieval de Tallinn
  • Dicas para viajar pelos Países Bálticos



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