Viagens
Castelos da Letônia - uma viagem no tempo
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O Palácio de Rundale |
A Letônia sempre me pareceu meio misteriosa e indefinida, entrincheirada entre a Lituânia e a Estônia. No aspecto geográfico, há semelhança com a Lituânia, pois metade da superfície da Letônia é ainda coberta por florestas repletas de rios e lagos, e sua ampla costa também é muito rica em âmbar. Mas no aspecto cultural, as diferenças aparecem: a população de 2,1 milhões se divide entre as fés luterana, católica e ortodoxa, e tem o hóquei como esporte nacional. O alto êxodo da população preocupa, especialmente na área rural. Mas é nessa área que podemos travar um melhor contato com a cultura dos letões, vistos como reservados e racionais. Para realmente conhecermos a Letônia, o ideal é não se restringir a Riga e nos aventurarmos pelo interior.
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O portão do Palácio e atrás o parque de acesso |
A primeira das atrações históricas imperdíveis do interior da Letônia é o Palácio de Rundāle, que está situado no sul do país, perto da fronteira com a Lituânia, na região da Semigália (Zemgale em letão). Foi construído em estilo barroco em 1736 por Rastrelli, arquiteto do Palácio de Inverno de São Petersburgo, a mando de Ernst Biron, duque da Curlândia e amante da czarina russa. A Curlândia à época era um ducado cujo apogeu ocorreu no século XVI, quando chegou a possuir uma colônia no Caribe, a ilha de Tobago - fiquei muito espantado ao saber da existência de uma colônia báltica na América!
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Os jardins do Palácio de Rundale |
Visitamos Rundāle quando entramos na Letônia, a caminho de Riga. Para quem não está em excursão ou de carro o acesso é complicado, pois ônibus vindos de Riga só chegam à cidade de Bauska, onde se deve fazer uma conexão para Rundāle, a doze quilômetros. O Palácio impressiona pela grandiosidade quando nos aproximamos pela estrada de acesso. Pode ser considerado uma pequena Versalhes. É um monumento à ostentação aristocrática da época, em contraste evidente com as construções simples da região. Cerca de 40 salas estão abertas a visitação, incluindo mobília e pinturas, com destaque para a Sala Dourada, o Toilette Real e a Sala de Mármore. Chamam a atenção os fogões de porcelana usados para o aquecimento. Após a visita, vale a pena passear pelos bonitos jardins e pelo parque que circunda o Palácio. Uma das casas anexas sedia um bom restaurante onde almoçamos, podendo-se degustar algumas especialidades da culinária letã, à base de carne de porco.
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As esculturas na entrada do Castelo de Sigulda |
Já a 52 quilômetros de distância a leste de Riga,
Sigulda é a principal cidade do
Parque Nacional de Gauja (lê-se
gáuia). A região do belíssimo parque é conhecida como "a Suíça letã" pelos seus vales fluviais profundos. Sigulda pode ser alcançada a partir de Riga por ônibus ou por trem, numa jornada de 1h10min. É a capital dos esportes de inverno na Letônia, além de meca de esportes radicais como o bungee jumping, bobsled e canoagem, sendo também conhecida pelos seus três castelos espalhados pelo parque.
Sigulda fica mais ou menos localizada no caminho entre Riga e Tallinn, e portanto constava do roteiro da nossa excursão no dia da saída de Riga. Ao contrário dos dois dias anteriores, o tempo amanheceu bastante nublado e frio. Ao entrar na cidade, nos dirigimos direto ao primeiro e mais próximo castelo, o
Castelo de Sigulda, que na realidade é constituído de duas edificações de épocas distintas. Ao se chegar ao complexo, existe junto ao estacionamento um curioso conjunto de miniesculturas de ferro com cabeças formadas por pedras homenageando atividades do campo. Cada escultura possui uma placa pendurada identificando-a com um nome letão. Uma ideia bastante original para prestar tributo aos camponeses.
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O novo Castelo de Sigulda |
Caminhando um pouco, chegamos ao Castelo Novo de Sigulda, construído em 1881 como residência de um príncipe russo. Após sediar um sanatório, é hoje sede do Conselho Regional da cidade. Logo após se situam as ruínas do Castelo Medieval, que foi erigido pela Irmandade da Livônia em 1207 e destruído durante a Grande Guerra do Norte, no princípio do século XVIII, quando a Rússia tomou a área da Suécia. As ruínas certamente provocam um forte impacto visual, e de lá se tem uma ótima vista de toda a bela paisagem do vale do Rio Gauja, com o Castelo de Turaida despontando ao longe.
Em tempo: Livônia era a região que antigamente englobava grande parte da Letônia e Estônia. A Irmandade da Livônia foi uma associação de monges alemães que se estabeleceu na região para converter os habitantes pagãos ao cristianismo, e foi criada pelo Bispo Albert, que também fundou Riga.
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As ruínas do Castelo Medieval de Sigulda |
Rumamos em seguida para o Castelo de Turaida, a principal atração de Sigulda. Para quem não está em excursão, a curta distância de 5 quilômetros pode ser vencida por um ônibus municipal ou a pé, aproveitando-se para passear em meio à floresta e atravessar a ravina do rio Gauja por um teleférico amarelo, no estilo do bondinho do Pão de Açúcar. Este foi um dos poucos momentos em que lamentei estar em excursão, pois a vista obtida na travessia do bondinho deve ser maravilhosa. Para chegar ao castelo, a estrada passa pelo Castelo de Krimulda (o terceiro da área, que não visitamos) e pela Gruta de Gūtmaņa, a mais profunda da região báltica, aberta a visitação. Às interessadas: dizem que a água que sai da caverna tem poderes rejuvenescedores, removendo rugas faciais.
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O Castelo de Turaida e suas duas torres |
Turaida significa "Jardim de Thor" na antiga língua livoniana e o castelo está localizado em um ponto estratégico, no alto de uma colina entre duas ravinas do rio. O castelo foi construído em 1214 para o Bispo Albert e ao longo dos séculos serviu como posto defensivo. Abandonado no século XVIII, foi restaurado há algumas décadas.
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Uma das torres do Castelo de Turaida |
Na trilha para o castelo, passamos pela mais antiga igreja de madeira da região. O castelo em si é constituído por duas torres de tijolos e um estábulo, cercados de muros. O ponto alto da visita (no duplo sentido - de altitude e de interesse) é a subida por 131 degraus ao topo da torre de vigilância. O esforço é compensado pela vista magnífica de toda a região do parque.
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A vista do alto da torre de vigilância do Castelo de Turaida |
Há uma tragédia ocorrida em 1620 que une os dois castelos. Maija, que depois ficou conhecida como a Rosa de Turaida, era uma bela jovem que morava no Castelo de Turaida e estava apaixonada pelo jardineiro Viktor, do Castelo de Sigulda. O casal costumava se encontrar na Gruta de Gūtmaņa, no meio do caminho. A poucos dias do casamento, um mercenário polonês que trabalhava em Turaida, obcecado por ela, atraiu a jovem à gruta escrevendo um bilhete falso em nome do jardineiro. Ao perceber a armadilha, Maija implorou ao polonês que não a tocasse, e em troca ofereceu seu cachecol, que possuiria supostos poderes mágicos. Como o malfeitor não acreditou, Maija o exortou a atacá-la com a espada, lembrando que o cachecol tornava invulnerável quem o usasse. Assim fez o mercenário. Maija foi encontrada morta na caverna por Viktor e foi enterrada junto ao castelo, sendo o polonês enforcado. Aparentemente a jovem preferiu a morte a se entregar a outro... Nos jardins do castelo existe hoje no local um memorial à Rosa de Turaida em ônix, muito frequentado por noivos que deixam flores aos seus pés.
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Escultura no Jardim das Canções |
Junto ao castelo existe ainda um jardim amplo ocupando a colina, repleto de esculturas interessantes, o Jardim de Canções Daina. Dainas são músicas do folclore letão e fazem parte integrante da cultura do país. As estátuas homenageiam heróis imortalizados nas canções, e algumas são no mínimo intrigantes, como a da foto.
Deixamos Sigulda justo na hora em que a chuva apertou e rumamos para a Estônia, último país desta aventura pelos Países Bálticos e assunto dos próximos dois posts.
* Este é o oitavo de uma série de posts sobre Varsóvia e os Países Bálticos. Para visualizar os demais, acesse Descobrindo os Países Bálticos. Postado por Marcelo Schor em 06.01.2013
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